São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fino - George Clooney

Um George para chamar de meu

Crises de asma, voz trêmula e alterações de temperatura: os efeitos colaterais de ficar cara a cara com George Clooney numa suíte de hotel em Beverly Hills

por Tetê Ribeiro, de Los Angeles

"Everybody good?", pergunta George Clooney assim que entra na suíte transformada em sala de entrevista no hotel Four Seasons, em Beverly Hills. Veio dar entrevistas para um grupo de cinco jornalistas, cada um de um país, sobre seu novo filme, "O Amor Não Tem Regras", dirigido e protagonizado por ele, que estréia no Brasil em 9 de maio.

Eu tinha visto o filme na noite anterior, não tinha adorado, sabia o que queria perguntar, meu gravador estava a postos e minha pimentinha da sorte estava devidamente pendurada no pescoço. Eu só não me sentia muito bem, o que devia ter algo a ver com o fato de estar cara a cara com um dos poucos de Hollywood capazes de mexer com meu equilíbrio e a temperatura de minhas extremidades. Não respirava direito. Determinada a não deixar minha asma destruir aquele momento, histórico para mim, tomei um comprimido para abrir os brônquios que me deixou com um pouco de dor de cabeça, a voz trêmula, mas nada que me tirasse do campo. Eu estava lá, ele também, era o momento.

Assim que ouviu do grupo que sim, estava todo mundo bem (menti, claro), George se sentou e disse "shoot", fazendo com as mãos um gesto como quem diz "Venha, venha". "Shoot" quer dizer "atirem", em inglês, mas ele usou como gíria, tipo "atirem as perguntas". Fiz a primeira: "A Renée [Zellweger, atriz do filme] acabou de sair daqui e negou tudo. Qual é sua versão?". Eu me referia ao rumor de que a dupla havia tido um caso alguns anos antes nunca confirmado por nenhum dos dois.

"Ela negou?", me perguntou George, sorrindo. George. Sorrindo. Para mim. Antes que eu conseguisse recuperar o fôlego e desfazer o sorriso que parecia tatuado no meu rosto, outro jornalista lança a bomba: "Foi esquisito beijar sua ex-namorada em cena?". Enquanto ele tentava não negar nem afirmar nada, citava as luzes, as pessoas em volta, o fato de ser diretor do filme e ter de sair do personagem para ver no monitor como tinha ficado a cena e não sei mais o quê, aproveitei para reparar bem em tudo e reavaliar meu estado físico e mental.

Eu realmente não estava nada bem. Cada inspiração fazia um ruidinho no meu tórax, tipo um miado de gato recém-desmamado. Já ele era a imagem de um homem saudável, feliz, prestigiado e lindo. De doer. Vestia jeans, camiseta preta, casaco de moletom com zíper preto com detalhes cinza e All Star preto. é mais magro do eu imaginava, tem pernas compridas e aquelas bundas que desafiam a gravidade, apontadas para cima. Tudo bem, eu aceito que o espaço entre o nariz e o lábio superior dele é um pouco maior do que deveria e, que quando ele sorri, a boca abre mais dos lados do que no meio.

Mas os olhos olham profundamente. E o que são aquelas mãos? Mão de homem, sabe? Mas homem que toma um pouco de sol e tem a pele levemente caramelizada. Os dedos são longos, expressivos, e o mais incrível é como é saltado o osso da base do dedão. O dedão fica longe da palma da mão, e o da esquerda é ainda mais saltado que o da direita. Ele gesticula muito quando está de bom humor, e cruza os braços quando o assunto é sério, como a situação no Sudão ou as críticas cada vez mais duras que seu candidato, Barack Obama, vem recebendo de Hillary Clinton.

Efeito Clooney

Mas o tom é mais de festa do que de preocupação na entrevista. George está feliz. Seu novo filme é uma comédia romântica que tem como pano de fundo a profissionalização do futebol americano. Pergunto se ele acha que os brasileiros não vão perder alguma coisa porque não conhecem bem esse esporte esquisito e violento. George não concorda. "Um 'touchdown' é um 'touchdown'", afirma, entusiasmado. (George. Entusiasmado. 'Touchdown'?)

Naquela noite, fui jantar com dois colegas brasileiros que também estavam em Los Angeles. Não queria entregar o jogo, mas não podia deixar de notar que o "efeito George Clooney" não tinha passado e eu ainda não respirava direito. "Não estou muito bem", lancei. "Você não viu a TV?", me perguntou o Edu.

Não tinha visto, e não tinha nada nos jornais que me chamasse a atenção para uma epidemia de asma. Não era bem isso.

Havia mudado a direção do vento, e o ar que antes vinha do mar agora vinha do deserto, carregando junto um monte de partículas de areia que provocavam a sensação de falta de ar e dores de cabeça. Era o "Santa Ana Wind", o mesmo que provoca aqueles incêndios horríveis nos invernos da Califórnia, e não George Clooney --um homem lindo, rico, inteligente, divertido, talentoso e solteiro-- que me tirava o ar e o sossego.


Texto Anterior: FINA: Michelle Obama, por Sérgio Dávila
Próximo Texto: CAPA: Letícia Birkheuer, por Alcino Leite Neto e Klaus Mitteldorf
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.