São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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ANAGRAMA

Mãe de três, Fátima Bernardes diz "boa noite" a 40 milhões

por ANA RIBEIRO

HORÁRIO NOBRE

Fátima Bernardes todo mundo conhece: 47 anos, nascida no Méier, zona norte do Rio, há dez anos diz "boa noite" pela TV para 40 milhões de brasileiros. Casada com o editor-chefe do "Jornal Nacional", do qual é editora-executiva, é mãe de Vinícius, Laura e Beatriz. Na festa de aniversário dos três, em outubro, vai ter cama elástica e DJ. "Eles vão fazer 12 anos e ainda querem brincar, mas também querem dançar. Vai tocar Chris Brown, Lily Allen e uns 'funks-família'."

Vi o William pela primeira vez pela TV, em 89, no "Fantástico". Eu estava me separando do meu primeiro marido. Começamos a nos encontrar nos plantões de reportagem, saímos para jantar, fomos morar juntos três meses depois. Vamos fazer 20 anos de casados em fevereiro.

Fátima Gomes Bernardes Bonemer é meu nome todo. O nome de família do William não é Bonner. Ele estreou na Bandeirantes como William Bonemer Jr.. Mudou quando foi para a Globo. Achou que teria mais visibilidade e que a vida do meu sogro, pediatra, ia virar um inferno.

Talvez tenha sido o momento de maior emoção para mim no "Jornal Nacional" e eu nem estava presente. Foi quando anunciaram o nascimento dos meus filhos. Eu estava no hospital, era 21 de outubro de 1997. Quando eu podia imaginar que ia conseguir engravidar depois de ter tido dificuldade? Que seriam três crianças? Que aquilo ia virar notícia?

Minha retaguarda são meu pai e minha mãe, que moram em frente e, coitados, já mudaram 500 vezes: toda vez que eu mudo, eles são obrigados a mudar. Tenho uma babá desde que as crianças tinham dois meses de idade, a mesma empregada há 20 anos, um motorista. Quem leva os três para a escola todos os dias somos eu e o William.

Quando começa assunto de novela, eu não sei nada. Num sábado que estou em Itaipava (na serra fluminense), fico perguntando tudo: "Mas esse cara bigodudo é bom ou mal?" O primeiro capítulo de "Caminho das Índias" eu vi inteiro, e, no resto da semana, queria acompanhar. "Vamos pra casa logo, William, quero ver a novela!"

Até os 15 anos eu era uma menina, tinha o biótipo de bailarina: mignon, magrela, perna comprida. Não tinha nada de peito, menstruei tarde, com 16 anos. Então, de repente, cresci 12 centrímetros. Fiquei com o 1,69 m que tenho hoje. Vê se tem condição de uma mulher do meu tamanho fazer balé clássico? Coitado do bailarino!

Acho o jornalismo que se faz na TV brasileira muito superior ao da TV americana. É mais cuidadoso, mais abrangente, mais informativo, mais inteligente, menos voltado para o nosso próprio umbigo. A gente prepara nosso telespectador melhor do que eles preparam o deles. Por isso que até hoje o americano acha que a capital do Brasil é Buenos Aires.

Televisão não é beleza, é empatia, o que eu acho ainda mais cruel. Beleza você manda maquiar, enfeitar, ajeitar. Empatia não tem receita. Pode arrumar, empacotar para presente, que não resolve. E também não se ensina.

Decidi amenizar meu sotaque carioca no dia em que tive de dizer a frase "As exigências das testemunhas". Era aquele chiado na hora de emendar um plural com uma palavra começada em "s". Mas me forcei, fiz isso por conta própria. O "r" eu mantive, senão também ia ficar falso.

O William é meu chefe e é bom ter um chefe que não quer me parar. Gosto de chefes quando tenho certeza de que sabem mais do que eu, isso faz com que você se desafie.

Antes do jornal a gente nunca briga. Se for brigar, briga depois do jornal. E resolve a briga para voltar "desbrigado" no dia seguinte.

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