São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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NO RIO

Palácio Itamaraty, lindo por fora, assombrado por dentro

por HELOISA SEIXAS

OS FANTASMAS SE DIVERTEM

O palácio Itamaraty, que reúne em seu acervo a coleção do barão do rio branco, tem de tudo –até assombração

Há entre os ingleses a crença de que um casarão, por mais belo que seja, só tem valor se dentro dele viver um fantasma. E olha que de casarões eles entendem, porque no interior da Inglaterra estão algumas das mais belas propriedades do mundo. Pois, nesse ponto, o Palácio Itamaraty, no centro do Rio, está bem servido: lá dentro –em meio a lago de cisnes (dois brancos, dois negros), palmeiras imperiais, mármores, afrescos, pratas e cristais– vive um fantasma. Foi o que me garantiram na época em que trabalhei lá (durante sete anos, na década de 1990).

Ouvi muitos relatos de pessoas que viram coisas e sei de pelo menos um caso em que o guarda noturno abandonou seu posto e saiu correndo. Também devo admitir que eu própria, ficando até mais tarde sozinha no escritório escrevendo, ouvi muitas vezes ruídos de passos nos corredores vazios.

CEREJA DO BOLO

Esse detalhe só faz tornar mais interessante uma visita ao Itamaraty, que, mesmo sem fantasma, já seria a cereja do bolo da avenida Marechal Floriano, antiga rua Larga. A rua está muito degradada, mas os projetos de revitalização do Porto do Rio prometem transformar toda a região, que tem um belo casario, com estabelecimentos que nos fazem recuar no tempo, como a Mala Inglesa (fundada em 1900), a Casa Paladino (1906) e Ao Bandolim de Ouro (1929). Pena que a famosa loja de louças Dragão (da rua Larga) tenha fechado nos anos 1990.

Para quem gosta de viajar ao passado, o Palácio Itamaraty é perfeito: um palacete cor-de-rosa, com portas e janelas em arco, o pátio com lago de cisnes todo pontilhado pelas palmeiras. Não por acaso tem sido muito usado como locação de filmes, novelas de época e minisséries.

Inaugurado em 1854, tem estilo neoclássico e seu arquiteto, José Maria Jacinto Rebelo, era discípulo do francês Grandjean de Montigny. Muita coisa funciona em suas dependências –uma mapoteca, uma biblioteca, alguns escritórios do Ministério das Relações Exteriores e a representação da ONU–, além do Museu Histórico e Diplomático, que promove visitas guiadas. O acervo do museu é bem heterogêneo e inclui as peças que pertenceram aos condes de Itamaraty (que construíram e deram nome ao palacete) e a coleção do Barão do Rio Branco, seu habitante mais ilustre, que inclui móveis, porcelanas e lindos relógios franceses.

Mas o que mais impressiona é o palácio em si, suas salas, escadarias, seus corredores, os tapetes Aubusson, as portas de jacarandá, o teto com sancas em trabalhos delicadíssimos e elegantes. Tanto o salão de banquetes, a chamada Sala dos Índios (referência aos afrescos em suas paredes), quanto o salão de baile, com os espelhos e o imenso lustre de cristal, nos fazem sentir num pedacinho de Versailles.

O peso histórico do lugar é outra coisa marcante. Pouca gente sabe, mas o Palácio Itamaraty foi a sede do governo brasileiro entre 1889 e 1897. E, dois anos depois, tornou-se a sede do Ministério das Relações Exteriores, até a transferência deste para Brasília, em 1970. Esse peso pode ser medido também pela transformação da palavra "Itamaraty" em sinônimo da chancelaria brasileira e mesmo de diplomacia. Um último detalhe: quando Oscar Niemeyer construiu em Brasília a nova sede do Ministério das Relações Exteriores, que nome deram para ela? "Palácio Itamaraty".

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