São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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DESENHO

Suzy Lee, um dos nomes mais intrigantes da atual geração de ilustradores

por HELOISA PRIETO

MIL IMAGENS

Premiada ilustradora sul-coreana conta histórias sem palavras, usando apenas grafite e aquarela

A sul-coreana Suzy Lee, 36, é um dos nomes mais intrigantes da geração atual de ilustradores. Vivendo em Cingapura, acumula prêmios pelo mundo, entre eles o de Melhor Livro Ilustrado pelo "New York Times", em 2008. Sua versão de "Alice no País das Maravilhas" (ed. Last Gasp, 2003) figura no Artist's Book Collection, da Tate Britain, em Londres.
Em "Espelho", que a editora CosacNaify lança no Brasil em março, ao virar as páginas, o leitor acompanha os movimentos de uma criança dançante. Em "Onda", seu primeiro título publicado no Brasil (vendeu mais de cem mil cópias pelo mundo), uma garota brinca com o mar e as imagens "inundam" o leitor com marolas de um oceano mágico.
Seus livros não contêm texto. Em seu trabalho, Suzy Lee abdica da palavra e cria poemas-imagens, nos quais se pode perceber também a influência do cinema primitivo. Serafina conversou com ela por e-mail.

Você diria que cada leitor tem a possibilidade de alcançar seu mar ou espelho internos ao ver seus livros?
Num livro sem palavras, o autor dá início à história, mas é o leitor que a termina. Não há um modo "correto" de ler um livro. Depende de cada leitor. Adultos geralmente ficam perplexos e confusos quando não existem palavras num livro de imagens. Mas nossas queridas crianças sempre encontram seu percurso sem medo, sem preocupações. Tanto adultos quanto crianças enxergam aquilo que desejam ver.

Ao criar, você segue alguma rotina pessoal ou secreta?
Quando crio uma história, geralmente as imagens surgem primeiro. Em "Onda", por exemplo, comecei com a imagem de uma garota que berra com as ondas para que elas se afastem. Às vezes, desenho a primeira cena que brota em minha mente, depois acrescento mais imagens que se encaixariam antes e depois da cena-chave. E prossigo com a história permitindo que os desenhos me conduzam –acho que é por isso que meus livros acabam não tendo palavras. O tempo que levo para concluir um livro depende de cada trabalho. Levei um ano para terminar "Alice no País das Maravilhas", por exemplo, mas finalizei todos os desenhos e fiz até um boneco de "Espelho" em apenas duas semanas.

Uma imagem vale por mil palavras ou uma única palavra pode gerar mil imagens?
A primeira. Não sei como eu poderia expressar os movimentos da garota e a expressão facial das gaivotas por meio de palavras no livro "Onda".

Há uma escolha intencional de imagens universais e míticas em seu trabalho?
A imagem de uma garota impetuosa e curiosa num vestidinho curto: tenho uma foto minha usando um vestido vermelho exatamente igual quando eu tinha cinco ou seis anos de idade. Ela brota na minha mente sempre que começo a fazer uma jornada curiosa. No novo livro em que estou trabalhando neste momento, essa menina corajosa surge novamente, passeia por um mundo imaginário e se diverte com as criaturas das sombras. Ela é como meu ícone da arte de brincar.

Você diria que seu trabalho se situa entre a fronteira pessoal da imaginação e as fantasias coletivas das crianças do mundo todo?
Em qualquer parte do mundo, na beira do mar, você pode facilmente encontrar crianças (e adultos também) perseguindo ondas até ficarem totalmente molhados. É assim mesmo, você fazia isso quando era criança. E seus filhos brincam do mesmo jeito. E nós sabemos qual é a sensação. Ela é pessoal e universal ao mesmo tempo.

Que idade imaginária tem você, Suzy, a criadora de imagens?
Essa pergunta é interessante. Sinto que tenho exatamente 36 anos, que é minha idade física. Aos 36, não somos jovens nem velhos. Sinto que não sou mais jovem o suficiente para criar imagens e histórias absurdas. Ao mesmo tempo, não sou adulta o suficiente para fingir que sou sábia.

Minha última pergunta é a preferida de meus leitores: de onde vêm suas ideias?
Elas chegam de todo lugar. Fiz "La Revanche des Lapins" (a vingança dos coelhos, La Joie de Lire, 2003) depois de ter encontrado muitos coelhos na estrada durante uma viagem à Escócia. E fiz "Onda" depois de visitar a cidade natal de meu marido perto do mar, na Coréia. Estou pensando agora em fazer um livro sobre a chuva, porque aqui em Cingapura a estação das chuvas acabou de passar. Tenho dicas para um novo livro quando ouço as palavras engraçadas que meu filhinho diz. Todas elas eu escrevo ou desenho no meu pequeno caderno de esboços que tenho sempre comigo, esperando para depois transformá-las em livro.

Heloisa Prieto, 55, é autora de literatura para jovens e crianças. Publicou 52 títulos, entre eles "Divinas Desventuras" (Cia das Letras) e "A Vida Secreta de Merlim" (Escrita Fina).

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