São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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ANAGRAMA

As pessoas precisam voltar a sonhar

por ANA RIBEIRO

COSETTE ALVES sente falta do Brasil e treme de frio em Washington, onde vive há dois anos. Tem uma missão: desde 2007 é presidente da Fundação Interamericana de Cultura e Desenvolvimento, braço do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Sua função é mapear a herança cultural das Américas e realizar projetos de arte, educação e saúde. Separada do secretário de Cultura de São Paulo, João Sayad, garante que seu coração está vago. "Estou sozinha. Amigos, tenho muitos..."

No princípio foi muito difícil lidar com minha separação, mas agora estou bem. Posso até dizer que estou feliz. A separação não acaba com o amor. No meu caso, o preservou. A sinceridade é a base de uma grande amizade, que é uma forma de amor... João e eu nos falamos com muita frequência, apesar de no momento eu estar morando nos EUA e ele no Brasil.

Acho péssimo perguntar a idade para qualquer pessoa, mulher ou homem. Detesto quando perguntam a minha. Respondo com uma pergunta: "Qual a razão de alguém querer saber a minha idade?"

Sinto-me jovem, sem esquecer de que o tempo passou e está passando. Acredito que a curiosidade e uma certa disposição para o desconhecido são algumas das fontes da juventude. O uso de cosméticos ou da medicina é válido para mulheres e até para homens, desde que seja importante para que eles se sintam menos tristes com as ruguinhas. Por que não?

Elsa Schiaparelli, estilista italiana, disse: "Em tempos difíceis, a moda é sempre ultrajante." Na minha opinião, elegância é se adaptar aos tempos de crise. Claro que cada um vive como quer, ou melhor, como pode. Qualquer exagero é ruim e consumir em excesso não é antídoto contra nada. Pode ser que o consumismo seja uma espécie de anestesia para algumas vidas vazias de sentido. Um remédio antidepressivo.

O figurino de Michelle Obama não me chama a atenção, por isso dou nota dez em elegância para ela, por sua discrição. Sua elegância é produto de sua inteligência, de sua personalidade e da confiança em si mesma, que dispensa exageros.

O desânimo nos EUA se deve ao fato de que eles não estão acostumados com cenários imprevisíveis... O Brasil não tem tanto medo de crise: temos experiência em lidar com elas.

As pessoas precisam voltar a sonhar. Sair de seu individualismo, fazer parte de um projeto. Tenho certeza de que isso pode impedir uma explosão de violência e frustração no planeta.

Do que mais sinto falta nos EUA é de meus amigos brasileiros e dos domingos no cinema, sempre com pipoca e jogando conversa fora... E de outras pequenas coisas que no final são tão grandes.

Os dois vieram juntos, mas por razões diferentes. Marc Jacobs, 45, cultuado estilista americano, visitou o Brasil pela primeira vez para conhecer sua recém-inaugurada loja nos Jardins, em São Paulo. Lorenzo Martone, 29, publicitário paulistano que vive há sete anos fora do país, voltou à cidade onde nasceu para apresentar o namorado, com quem tem planos de se casar, aos pais Marisa, 56, e Rosaldo, 58. "Queria a aprovação das pessoas que importam para mim."

Sempre fui muito aberto com relação à minha homossexualidade. Nunca tive de esconder nada da minha mãe, que é muito minha amiga. Chegamos a São Paulo às 10h e ao meio-dia ela já estava no hotel Fasano, para me ver, conhecer o Marc e almoçarmos juntos. O encontro foi ótimo, tranquilo, sem drama. Eles se entenderam muito bem.

Quando a gente começou a namorar, no meio do ano passado, saiu uma nota na imprensa brasileira. Então passei a receber telefonemas de pessoas com quem não falava havia tempo. Não sei se interessadas no fato de eu ser gay ou de estar namorando o Marc.

As notícias voam e as paredes têm ouvidos. As pessoas que eu respeito e que são mais próximas souberam do namoro da minha boca. Mas, como o Marc tem uma vida meio pública, sabe-se mais rápido das notícias sobre ele do que dá tempo de contar.

Tinha pedido para a minha mãe ter uma conversinha com meu pai e preparar o terreno antes de eu apresentá-lo ao Marc. Ele voou de Curitiba para São Paulo para isso. Meus pais são divorciados; ele mora em Curitiba e tenho um único irmão, Victor, de 24 anos. Victor e minha avó também encontraram Marc.

Eu já o conhecia havia um ano quando começamos a namorar. Não é que de repente tirei o Marc Jacobs da cartola. Sou publicitário (formado pela Anhembi-Morumbi), trabalho com gerenciamento de marcas de luxo e estava morando em Paris. Marc vive entre NY e Paris e nós frequentávamos a mesma academia, Lusine. Ficamos amigos, começamos saindo para jantar e depois viramos namorados.

Marc está se saindo muito bem. Praticou algumas palavras em português para ser gentil com as pessoas e está sendo ele mesmo. Não tem como não gostar dele.

Fomos morar juntos há um mês. Quando decidimos dar o passo seguinte e nos casar, queria a aprovação das pessoas que importam para mim antes de ir adiante.

Marc e eu sempre nos divertimos tanto e somos tão felizes que o que vale é isso: estar com quem se gosta. Há um conceito nos Estados Unidos que é o do "supercouple" (supercasal; o termo em inglês define casais célebres, na ficção ou na realidade, que despertam muita atenção). Acho que nos enquadramos nessa categoria.

Nossa história não é uma competição, cada um entra com o que tem de melhor. Agradeço muito estar com ele e mais ainda estar apaixonado, esse estado tão glorioso.

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