São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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FOTOGRAFIA

A FILTRADA

por Sara Stopazzolli, do Rio de Janeiro

Psicanalista pernambucana descobre seu lado fotógrafa de celular e coloca sua cidade adotiva, o Rio de Janeiro, no divã.

A psicanalista Ticiana Porto já perdeu as contas de quantas vezes suas fotos foram parar na página Popular do Instagram, onde são exibidas as 20 imagens mais curtidas do dia. Há pouco menos de um mês, ela passou por um crivo ainda maior do aplicativo/rede social e entrou para o seleto grupo de “usuários sugeridos”. Não chega a meia dúzia o número de brasileiros entre os favoritos do próprio Instagram.

E @ticianaporto é a mais popular entre eles, com 38.610 seguidores até o fechamento desta edição. E dias antes de o mundo receber a notícia de que os telefones com sistema Android também teriam acesso ao programa, até então restrito a iPhones.

“Agora veio o Facebook abocanhando o Instagram. Nem sei como será daqui a seis meses”, comemora ela, que ganha cerca de mil novos seguidores a cada 24 horas.

O percurso da pernambucana de 35 anos rumo aos holofotes virtuais começou de maneira despretensiosa. Até comprar seu primeiro iPhone, no início do ano passado, a fotografia era um hobby pouco explorado pela psicanalista, que dividia seu tempo entre pesquisas sobre histeria e o atendimento em seu consultório.

Apaixonada pelo Instagram e pelo Rio de Janeiro, onde mora há 10 anos, Ticiana propôs a si própria um desafio para 2011: encontrar, com a câmera do celular, ângulos diferentes das paisagens da cidade e compartilhar uma fotografia por dia. Sempre usando os filtros especiais de cores e luzes que o aplicativo oferece.

MADRUGANDO

“Muitos dos lugares fotografados são acessíveis e comuns a todos, mas as pessoas vivem com tanta pressa que não param mais para olhar. Meu objetivo era resgatar o olhar contemplativo”, conta ela.

Com apenas dois meses de boca a boca virtual, Ticiana recebeu o primeiro comunicado do Instagram que dizia que sua foto estava na página Popular.

Ticiana fechou 2011 reunindo 70 das imagens “instagramizadas” no livro “Ventura” (edição independente, tiragem de 500 exemplares). A obra está à venda apenas na Livraria da Travessa, no Rio, ou no site www.travessa.com.br.

E, neste ano, o desafio diário continua. “Já faz um tempo que eu não volto para casa sem uma foto. Às vezes, vou dormir já pensando num lugar para ir no dia seguinte.”

“Mesmo assim, quase sempre acontece de eu estar dirigindo meu carro e me perguntar de onde vem a luz. Eu mudo o meu rumo na direção da luz boa”, conta ela, que já saiu de casa inúmeras vezes às 5h30 para fotografar o céu mudando de cor, antes do amanhecer.

Além dos comentários entusiastas que surgem de todas as partes do mundo –o que a fez adotar o inglês como língua oficial de sua página–, a popularidade já lhe rendeu alguns convites de trabalho.

E a psicanalista não tem ciúmes da fotógrafa. Pelo contrário. As duas partem de uma visão, uma percepção.

“E têm um grande interesse pelo inconsciente óptico”, diz ela. E completa: “Estou empolgada e aberta para novas aventuras. Fotografar São Paulo é uma delas”.


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