São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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TEATRO

FORÇANDO OS LIMITES

por Fabrício Corsaletti

Leonardo Moreira escreveu meia dúzia de peças e já ganhou uma dúzia de prêmios.

Aos 18 anos, de férias em São Paulo, Leonardo Moreira, mineiro de Areado, cidade com 10 mil habitantes, assistiu pela primeira vez a uma peça profissional. Não diz o nome do espetáculo, mas garante que era ruim. Mesmo assim, saiu do teatro fascinado. “O mundo se abriu”, diz, de olhos muito abertos, braços para o alto. Não deixa dúvidas de que coisas fortes aconteceram a partir daí.

No ano seguinte, estava em São Paulo cursando artes cênicas na USP. Apostou, primeiramente, na carreira de ator. Mas logo percebeu que era escrevendo e dirigindo que se sentia à vontade.

Hoje, aos 29 anos e com meia dúzia de textos montados, o diretor e dramaturgo precisa se concentrar para listar os prêmios que abocanhou desde 2007, ano de “Bagagem” –nunca encenada–, sua estreia como autor.

Seu último trabalho, “O Jardim” (2011), recebeu, entre outros, dois Prêmios Shell, cujo júri é formado por críticos e profissionais da área, e um APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). “Escuro” (2009) levou três Prêmios Shell e dois CPT (Cooperativa Paulista de Teatro).

Mas, como sugere Luiz Fernando Ramos, crítico e professor de Leonardo na ECA, o menino-da-cidadezinha-que-fazia-teatro-amador-com-colegas-de-rua não permite que seu “acúmulo de dotes o envaideça a ponto de atrapalhá-lo”. Os prêmios ajudam a manter a Hiato, companhia de teatro que fundou em 2008, a todo vapor.

No momento, junto com os seis atores da companhia, Leonardo se concentra na criação de “Ficções”, em parte inspirada no conto “O Jardim de Veredas que se Bifurcam”, do livro “Ficções”, do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Antes, em “O Jardim”, ele já havia se valido de “Funes, o Memorioso”, também de Borges, para tratar do tema da memória.

FICÇÃO E REALIDADE

Filho de uma professora de literatura (e de um dono de bar que, morto em 2008, não assistiu a nenhuma peça do filho), recentemente Leonardo foi convidado para escrever e dirigir o espetáculo juvenil

“Menor que o Mundo”, baseado na poesia de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), em cartaz no Sesi até 8 de julho.

A literatura, porém, não ocupa um papel nem mais nem menos especial na vida do autor do que os roteiros de cinema, que estuda com os atores da Hiato, os melodramas dos anos 1950 –como “Imitação da Vida” (1959), de Douglas Sirk, que viu dezenas de vezes– ou o documentário “Santiago” (2007), de João Moreira Salles, seu filme brasileiro predileto.

Seu interesse, que une essas referências, é pesquisar os limites entre ficção e realidade a fim de fazer um “teatro de perguntas, não de certezas, e de forma alguma documental”, explica. Daí a mistura entre biografia –sua, dos atores– e fatos inventados, somada a montagens ousadas, que já se tornou uma marca do seu estilo em formação.

Apesar de tudo, não acredita que uma obra possa transformar alguém. A julgar pela revolução pessoal que o encontro de Leonardo com o teatro detonou, ele está enganado.


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