São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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DOCUMENTÁRIO

UM SONHO DE PAZ

por Pedro Henrique França, de Nova York

A cineasta brasileira Julia Bacha, radicada em Nova York há 14 anos, descobre situações imprevisíveis do conflito entre Israel e Palestina

Quando aconteceu o 11 de Setembro, Julia Bacha já morava em Nova York havia três anos. Ela tinha se mudado em 1998, para acompanhar o pai, o economista Edmar Bacha, que estava implantando um escritório para o banco BBA. Julia havia trancado o curso de direito no Rio para aprimorar o inglês na Universidade Columbia. Mas se interessou mesmo pelas aulas de história, com foco em Oriente Médio.

“Após os atentados, a Columbia virou um campo político e eu fui engolida por esse ambiente”, conta. Julia cresceu habituada a variações do mesmo tema.

É filha de um dos criadores do Plano Real e da vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB-RJ). “Não sei se política corre no sangue, mas é possível. Tanto na minha família como na de Andrea há uma longa tradição de engajamento nessa área”, diz o pai.

Mas a menina, nascida e criada entre o Leblon e a Gávea, tem feito barulho em Nova York e Jerusalém –e com cinema.

Seu último longa, “Budrus”, que mostra a resistência pacífica da comunidade palestina homônima diante dos avanços de Israel em seu território, foi indicado pelo “New York Times” como filme que “precisa ser visto”. Selecionado para os principais festivais, ganhou prêmios em San Francisco, Berlim, Tribeca e Jerusalém.

ISRAEL, IRAQUE

A lista deve crescer com o novo “My Neighbourhood”, que narra o drama real de um adolescente palestino que tem sua casa ocupada por israelenses.

Ser documentarista não estava nos seus planos, ela queria mesmo era fazer uma pós- graduação em História na Universidade de Teerã.

O desvio de rota aconteceu em 2003, quando trabalhou no documentário “Control Room”, no Egito. Seu esforço rendeu um crédito de corroteirista e editora –que mostrava a visão interna da rede de TV Al Jazeera sobre a invasão dos EUA no Iraque– e uma indicação ao Writers Guild of America em 2005.

“Era como se estivesse reescrevendo a história. Ali, eu vi que a academia não bastava.” Então foi parar na Just Vision, produtora independente focada em zonas de conflito e com a qual Julia já realizou “Encounter Point”, “Budrus” e, agora, “My Neighbourhood”.

“Me enfiei em Jerusalém e nunca mais saí. Fiquei fissurada por esse lugar, o nível de tragédia e o poder da religião. É tudo à flor da pele”, conta. A fundadora e diretora-executiva da produtora, Ronit Avni, descreve Julia como “uma cidadã intelectualmente curiosa do mundo e grande contadora de histórias”.

Com 31 anos, namorando e vivendo com um americano há dois, ela quer filhos “antes dos 35”. E que mundo quer deixar para eles? Ela sai pela tangente: “Posso esperar tê-los para responder?”


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