São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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FINOS

A união faz a diferença para quem escolhe juntar as forças, por Bruna Bittencourt

por BRUNA BITTENCOURT

INSTINTO COLETIVO

Há quem troque crachá e chefe por um negócio colaborativo. Seja para unir forças e fazer aquilo que não se conseguiria realizar sozinho, para trabalhar entre amigos ou para dividir custos e somar clientes, o trabalho conjunto continua a render boas ideias. Nas próximas páginas, os nomes que integram Triptyque, Coquetel Molotov, Cia de Foto, OESTUDIO, Fotonauta e kultur/+Soma falam sobre as tarefas executadas a várias mãos

TRiPTyQUE

"Nosso nome vem de associação. Triptyque é tríptico, uma obra de arte em várias partes, que só faz sentido quando estão juntas", diz a brasileira Carolina Bueno, 34. Ao lado dos franceses Gregory Bousquet, 36, Guillaume Sibaud, 36, e Olivier Raffaelli, 36, Carolina forma a Triptyque, escritório de arquitetura que nasceu em Paris, mas cresceu em São Paulo.

Os quatro se conheceram quando cursavam a Escola de Belas Artes de Paris. "Sentimos uma afinidade pessoal e de arquitetura e começamos fazer coisas juntos", conta Carolina, em nome do grupo, que prefere não ser citado individualmente. "Tínhamos uma ideia de arquitetura autoral, de pensar o homem de hoje, a cidade como ela é e para aonde ela vai, e não tentar costurar as coisas antigas. Até por isso quisemos trabalhar em São Paulo."

O quarteto então trocou Paris pela cidade, em 2000. Em São Paulo, assinam, entre outros projetos, o bar Sonique, na Consolação, a loja da Farm, na Vila Madalena, e dois prédios no mesmo bairro, expostos na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2008. Há pouco tempo, fizeram o caminho inverso de anos atrás e abriram um filial da Triptyque na capital francesa.

KULTUR/+SOMA

"Era uma casinha bem menor. Mas a gente foi crescendo, precisando de mais espaço", conta Tiago Moraes, 32, um dos quatro sócios da Kultur, estúdio multidisciplinar de conteúdo focado no público jovem, como ele define.

O escritório atual, no bairro da Vila Madalena (SP), abriga o +Soma, espaço para exposições de arte e shows semanais. +Soma também dá nome à revista feita pela Kultur, voltada à cultura independente. "Não existia um veículo que falasse do universo de que a gente gosta", diz Fernanda Masini, 33, sócia do estúdio e mulher de Tiago. "E acho que muitos dos nossos clientes nos procuram por estarmos inseridos nele." Hoje, a Kultur é responsável pela comunicação do Itaú Cultural e da Nike Sports.

O estúdio, que conta ainda com os sócios Alexandre Charro, 31, e Rodrigo Brasil, 32, tem hoje 11 funcionários. "Apesar de termos nos reunido para fazer algo em comum, nunca levantamos a bandeira de coletivo", diz Tiago. As discussões, quando surgem, nascem de um embate entre gostos individuais. "Nosso exercício é saber distanciar o que a gente é daquilo que interessa ao grupo ou aos nossos clientes", diz Fernanda.

OESTUDIO

A história do coletivo OESTUDIO começa na cidade italiana de Treviso, no final dos anos 1990. Foi no centro de pesquisa de comunicação da marca Benetton que o japonês Noubuyuki Ogata, 31, e a brasileira Nina Gaul, 31, se conheceram.

Em 2001, os dois trocaram a Itália pelo Rio, onde se casaram e abriram um escritório de design, embrião d’OESTUDIO, que cresceu em família. Christine Luz, 30, e Anne Gaul, 29, irmãs de Nina, juntaram-se à dupla para criar o braço de moda. O grupo ganhou reforço dos designers Fabricio da Costa, 32, amigo de Nina, e Peter Gaul, 28, irmão das três integrantes.

"Somos uma casa de criação especializada em moda", resume Christine. O uniforme da delegação brasileira nos jogos olímpicos da China, o site da estilista Isabela Capeto e a identidade visual das submarcas da C&A são alguns trabalhos do grupo.

"Trabalhar em grupo significa desapegar, ouvir, colaborar. A diversidade dos pontos de vista é muito importante para a maturidade dos trabalhos", afirma Nina. "Divergir não é conflito, é 'brainstorming'", diz Christine.

FOTONAUTA

Foi no estádio do Maracanã que os fotógrafos Eduardo Monteiro e Daryan Dornelles se conheceram, no fim dos anos 1990. Na época, Eduardo trabalhava para o clube Vasco da Gama e Daryan, para a revista "Placar".

Nas conversas entre o primeiro e o segundo tempo das partidas, pairava a ideia de montarem juntos um estúdio de fotografia. Só depois é que o Fotonauta ganhou reforço da fotógrafa Andrea Marques, mulher de Eduardo, que deixou a revista "Capricho" para apostar no estúdio.

O início, contam, foi um pretexto para buscarem outros interesses. "Daryan é fanático por música e começamos fazendo capas de discos", lembra Andrea. A lista de álbuns fotografados pelo trio, que também dirige videoclipes, tem Barão Vermelho, Ed Motta e Teresa Cristina.

"Embora a gente seja um coletivo, cada um tem sua maneira de trabalhar", diz Daryan, 38, que prepara, sozinho, um livro com retratos de músicos.

Andrea chama a atenção para o lado prático de fotografar em grupo. "Nesse mercado, o jeito é unir forças. A tecnologia muda tão rápido que a gente está sempre comprando equipamentos. Não fôssemos três, não sei como seria."

COQUETEL MOLOTOV

O festival recifense No Ar Coquetel Molotov já trouxe ao Brasil importantes nomes da música independente, como Prefuse 73, Tortoise e CocoRosie, e foi palco para a estreia solo de Marcelo Camelo.

Tudo obra do trio de produtores e jornalistas Ana Garcia, 28, Jarmeson de Lima, 30, e Tathianna Nunes, 27, que, juntos, compõem o coletivo Coquetel Molotov. Seis anos atrás, arriscaram-se a produzir um festival de música sem saber como fazer um. "Nunca tínhamos organizado nem uma festinha sequer", lembra Ana.

Além do festival, que neste ano chega à sua sexta edição, o trio comanda um programa de rádio, um site, um selo de música e uma revista, todos devotos da música independente.

Em 2003, começaram a montar o site. Em seguida, veio a ideia do festival, aprovado pela Lei Rouanet e apresentado, sem muita receptividade, a diversas empresas. "Fizemos mesmo assim", conta Tathianna. Se no início o trabalho em grupo exigiu muita discussão pela falta de papéis definidos, hoje soa fundamental. "Não teria como fazer tudo isso sozinha", diz Ana. "A troca de ideias é essencial."

CIA DE FOTO

Dificilmente você verá os nomes de João Kehl, Rafael Jacinto e Pio Figueiroa no crédito de suas próprias fotos. O trio trocou suas assinaturas individuais por uma comum, a CIA DE FOTO, que dá nome ao coletivo formado há cinco anos. "As pessoas ainda estranham muito", diz Pio. E estranham também a dinâmica do grupo, que registra suas fotos junto ou separado.

Rafael, 33, e Pio, 34, se conheceram fotografando, em 2000. Vencedor do prêmio de fotojornalismo World Press Photo, em 2006, João, 27, chegou por último. "Somos típicos fotojornalistas", diz Pio.

E foi uma certa insatisfação com o esse mercado que provocou a parceria entre Pio e Rafael.

"A gente já tinha passado por essa estrada do jornalismo. Na época, éramos da mesma equipe de jornal e não tínhamos com quem dividir. Havia um clima de concorrência entre os próprios fotógrafos. E o que valorizávamos na fotografia, eles tinham como uma viagem juvenil", conta Rafael. Com imagens publicadas desta Folha à revista "Time", o trio elege sua página virtual (flickr.com/ciadefoto), com fotos da família e de amigos, seu melhor trabalho. "Para nós, é mais importante do que qualquer demanda profissional", diz Pio.

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