São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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MODA

Jóias para pensar e brincar

por ALCINO LEITE NETO

Um dos mais bem-sucedidos e imitados designers do país, Antonio Bernardo diz que não liga para o mercado e só cria o que quer

Jóias, em geral, são criadas para enfeitar e impressionar. No caso do trabalho do designer Antonio Bernardo, elas também são feitas para pensar e brincar. O anel “Puzzle”, de construção vigorosa, é um pequeno e caro brinquedo de ouro, totalmente desmontável. O premiado anel “Fold” é um “tour de force” do design, com seu precioso estudo sobre a dobra e o movimento.

Na joalheria brasileira, Antonio Bernardo, 61, enfrentou todos os tabus do gosto e do comércio: trocou o figurativo pelo abstrato, o ornamento pelo conceito, a empostação pela ironia, a tradição pela inovação.

Não foi à toa que a arte concretista exerceu sobre ele uma forte influência. “O concretismo uniu inteligência e poesia de uma maneira que me interessa muito.” Mas sua relação com as vanguardas não é dogmática. Bernardo criou uma poética própria e heterodoxa, que flerta com as raízes nacionais, com as artes, a arquitetura e até com o humor brasileiro, como na série de pingentes-personagens, que debocham de tipos humanos folclóricos: o “mala”, o “banana” e o “bundão”. “Jóias costumam ser tão sérias que eu quis colocar humor em algumas peças; nas outras, coloquei prazer”, diz.

É difícil encontrar no design de jóias, que lida com materiais tão caros e clientes tão sensíveis, tanta liberdade criativa. “Minha liberdade ainda é inacreditável, não crio pensando no mercado, faço o que gosto e quero”, diz Bernardo. O que não o impediu de se transformar num dos mais bem-sucedidos joalheiros brasileiros –com oito lojas no país, oito prêmios internacionais e muitos imitadores de seu trabalho.

Filho de judeus alemães de Berlim que imigraram para o Rio às vésperas da Segunda Guerra, Antonio Bernardo Hermann começou no design de jóias para “ganhar a vida”. Seus primeiros anéis, feitos entre 1968 e 1969, quando cursava engenharia mecânica, foram vendidos para amigas de suas três irmãs. “Eu não tinha pretensão de ser design.”

Apesar de seu pai possuir uma loja de instrumentos de ourivesaria e relojoaria, naquela época Bernardo não entendia nada da técnica de construção de jóias. Desenhava e entregava o projeto para especialistas produzirem. À força de acompanhar a execução das peças, acabou aprendendo. “Passei oito anos dentro das oficinas, vendo como eles faziam.”

Quando o negócio começou a dar certo, abandonou a faculdade, para o desgosto da família. Em sua “flagship” na rua Garcia Dávila, Bernardo ainda guarda uma grande estante da antiga loja de instrumentos do pai. Repleta de jóias experimentais que não chegaram às lojas, a estante está cercada por um cofre gigantesco –tanto para proteger o caro acervo quanto a relíquia paterna.

Na sua fábrica no Jardim Botânico, onde trabalham 80 pessoas, o designer cria de 60 a 80 novas peças por ano. Seu escritório-ateliê é repleto de instrumentos de manipulação e protótipos de jóias, feitos com fios de ferro, cera de dentista e massinha de modelar. É ali que Antonio Bernardo passa horas e horas meditando como um cientista –e brincando como uma criança.

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