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Luli Radfahrer

Samba não é frevo

Hardware não é a evolução natural do software, e quem quiser produzi-lo terá de percorrer uma longa estrada

Enquanto muitos projetam um futuro com telefones onipresentes, onipotentes e oniscientes, a realidade desses canivetes suíços digitais está cada vez mais próxima de seus equivalentes físicos.

Não é difícil perceber que até um iPhone 9 será grande e limitado demais para realizar com eficiência todas as tarefas que se esperará dele. Assim como os PCs, a era dos smart-phones pau-pra-toda-obra parece estar com os dias contados.

Em seu lugar, uma série de Tamagotchis dedicados, no melhor estilo "Blade Runner", começa a povoar casas e escritórios. Alguns equipamentos parecem saídos de uma ficção de qualidade bem pior. São termômetros, balanças, pingentes, anéis e pulseiras diversas que, via Bluetooth, levam o monitoramento para além dos delírios paranoicos de qualquer Big Brother.

Hardware está na moda, como um dia estiveram websites, mídias sociais e aplicativos. O sucesso de Apple, Amazon e Samsung no segmento de smartphones e tablets, o mercado promissor que o Windows Phone parece ter à frente e as histórias bem-sucedidas de empresas como a Nike parecem tornar mais viável o sonho do dispositivo próprio.

Mas a realidade é bem diferente. Hardware tem limitações de logística, suprimentos, estoques e outras variáveis que tendem a ser desconsideradas em tempos digitais. Um bom exemplo está na dificuldade do Google em emplacar aparelhinhos.

Dinheiro não falta. Nem interesse público por seus produtos. É fácil imaginar um fone de ouvido com tradução simultânea, óculos que identifiquem objetos ou pessoas e outras bugigangas enchendo vitrines com promessas de futuro.

No entanto, por mais que esses serviços estejam disponíveis comercialmente, o máximo que se vê de equipamento Google é uma TV YouTube. E ela nem é grande coisa.

Hardware e software são tão diferentes entre si que é surpreendente que funcionem juntos. Um dos maiores motivos para o sucesso da Apple foi a capacidade de integrá-los. As diferenças entre ela e o Google vão muito além de iOS e Android e servem de exemplo para quem planeja construir maquininhas.

Em 35 anos, a Macieira de Cupertino conseguiu desenvolver um design impecável, lançar produtos aparentemente finalizados (e praticamente sem rejeição), criar uma comunidade de usuários fanáticos, dominar as cadeias de produção e distribuição para que não faltem brinquedos para os malucos que viram a noite na fila de suas lojas e ainda fazer uma propaganda de altíssimo nível. Não é pouca coisa.

Quem se aventurar por esse caminho enfrentará uma estrada longa, tortuosa e deserta. A Amazon tinha se tornado uma das melhores empresas do mundo em logística antes de lançar seu livrinho. A Microsoft distribuía CDs, teclados e mouses antes de tornar o Xbox rentável.

Google e Facebook, titãs no mundinho 2.0, trabalham com serviços e publicidade, nunca venderam nada ao consumidor final.

Aplicativos e equipamentos demandam modelos de negócios distintos. Ambos podem ser bem-sucedidos, mas um não costuma ter nada a ver com o outro. Na próxima vez em que for abordado por um consultor ou publicitário propondo maquinismos, vale verificar se ele conhece o ritmo que quer dançar.

folha@luli.com.br

ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana

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