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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Reconhecimento de padrões
QUALQUER indivíduo adaptado a seu ambiente está habituado a reconhecer padrões. Uma tarefa simples,
como andar por uma cidade,
envolve várias atividades menores, quase irrelevantes,
realizadas simultaneamente.
Não se pode esperar, é claro, que alguém que tenha
acabado de atravessar distraidamente uma rua seja capaz de identificar com alguma precisão as placas, os modelos ou até mesmo as cores
dos veículos por que passou.
Essa informação, irrelevante,
nem chega a ser assimilada.
Ou é descartada.
Muitos que se consideram
"adaptados" ao ambiente
que frequentam estão, na
realidade, reconhecendo padrões. Por mais que sejam capazes de identificar contextos
com razoável precisão, raramente recolhem informações
detalhadas deles.
Um adolescente urbano
consome volumes de informação simultânea que parecem assombrosos para os
membros de gerações anteriores: ele pode, sem esforço,
assistir a três canais de TV
enquanto ouve música, fala
ao celular, acessa alguns sites, joga algum jogo, conversa com os colegas via comunicadores instantâneos, escreve em blogs e no Twitter...
Quando alguém o interrompe
nesse ambiente hiperconectado e pergunta o que ele está
fazendo, sua resposta natural
é: "nada". Não se pode negar-lhe uma certa razão.
Sempre que nos deparamos com um ambiente novo,
em que poucas certezas estão
consolidadas, a impressão é
que tudo está acontecendo ao
mesmo tempo. O excesso de
informações sem prioridades
confunde e angustia. Na verdade, é o senso de hierarquia
e priorização que ainda não
foi estabelecido.
Multitarefa é um mito. O indivíduo que faz várias coisas
ao mesmo tempo raramente
faz alguma delas com precisão. Na maioria das vezes o
máximo que faz é perceber,
de forma genérica, como deve
se comportar, sem ao menos
se questionar se esse comportamento faz sentido.
O mundo conectado, com
seu acúmulo de informações,
se torna cada vez mais contextual e menos específico.
Como um jovem índio adaptado à floresta, o nativo digital se movimenta à vontade
em seu ambiente. Mas ao
contrário do índio na floresta,
ele não ganha consciência de
seu ecossistema.
A efemeridade do digital
não forma sábios, não deixa
legados. Quando parece estável, é provavelmente porque
se tornou obsoleta.
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