São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Reconhecimento de padrões

QUALQUER indivíduo adaptado a seu ambiente está habituado a reconhecer padrões. Uma tarefa simples, como andar por uma cidade, envolve várias atividades menores, quase irrelevantes, realizadas simultaneamente.
Não se pode esperar, é claro, que alguém que tenha acabado de atravessar distraidamente uma rua seja capaz de identificar com alguma precisão as placas, os modelos ou até mesmo as cores dos veículos por que passou. Essa informação, irrelevante, nem chega a ser assimilada. Ou é descartada.
Muitos que se consideram "adaptados" ao ambiente que frequentam estão, na realidade, reconhecendo padrões. Por mais que sejam capazes de identificar contextos com razoável precisão, raramente recolhem informações detalhadas deles.
Um adolescente urbano consome volumes de informação simultânea que parecem assombrosos para os membros de gerações anteriores: ele pode, sem esforço, assistir a três canais de TV enquanto ouve música, fala ao celular, acessa alguns sites, joga algum jogo, conversa com os colegas via comunicadores instantâneos, escreve em blogs e no Twitter... Quando alguém o interrompe nesse ambiente hiperconectado e pergunta o que ele está fazendo, sua resposta natural é: "nada". Não se pode negar-lhe uma certa razão.
Sempre que nos deparamos com um ambiente novo, em que poucas certezas estão consolidadas, a impressão é que tudo está acontecendo ao mesmo tempo. O excesso de informações sem prioridades confunde e angustia. Na verdade, é o senso de hierarquia e priorização que ainda não foi estabelecido.
Multitarefa é um mito. O indivíduo que faz várias coisas ao mesmo tempo raramente faz alguma delas com precisão. Na maioria das vezes o máximo que faz é perceber, de forma genérica, como deve se comportar, sem ao menos se questionar se esse comportamento faz sentido.
O mundo conectado, com seu acúmulo de informações, se torna cada vez mais contextual e menos específico. Como um jovem índio adaptado à floresta, o nativo digital se movimenta à vontade em seu ambiente. Mas ao contrário do índio na floresta, ele não ganha consciência de seu ecossistema.
A efemeridade do digital não forma sábios, não deixa legados. Quando parece estável, é provavelmente porque se tornou obsoleta.


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