São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

O que tiver de ser será

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

"Delenda Carthago." Era com essa frase que o senador romano Catão terminava seus discursos no Senado.
Que significa essa sentença, que, na verdade, abrevia a forma "Carthago delenda est"? Significa simplesmente "Cartago (inimiga de Roma) deve ser destruída".
"Delenda" é da mesma família de "delere", verbo latino que deu origem, em português, a "delir", de que deriva o adjetivo "delével", cujo antônimo é "indelével", que significa... Significa o quê?
Significa "aquilo que não pode ser apagado, cancelado, destruído", o que nos faz deduzir que "delével" é "o que pode ser apagado, cancelado, destruído". Moral da história: "delir" significa "apagar, cancelar, destruir".
O caro leitor já ligou "delir" a "deletar"? Vamos lá: "deletar" vem do inglês "delete", que por sua vez, vem... Já ligou? Vem de "delere", do latim. Eta volta que as palavras dão! A globalização na língua começou muito antes do que a que está em voga.
Na verdade, o que ocorreu com "deletar", aportuguesamento de "delete", é o aproveitamento do termo com um sentido específico (o da informática), que, depois, foi se expandindo, até chegar a superar o arco semântico que o hoje desusado "delir" teve.
Esse ir e vir das palavras é fato das línguas. O senhor disso tudo, é sempre bom lembrar, é o uso. Se um termo pega, pega e fim; se não pega, não adianta tentar forçar. Os publicitários, por exemplo, querem porque querem impor o tolo termo "share", que se refere à participação nas vendas de um determinado produto no mercado.
Funcional no meio publicitário, o termo é grego puro para o povo. Melhor é deixar de frescura e usar "participação no mercado". Outro da lista dos tolos é "delay", que alguns apresentadores de TV insistem em usar quando o sinal demora para chegar. Em português isso é "atraso" ou "demora" mesmo. E fim.
E a nova engenhoca da informática, o tablet? Ou será "tablete"? Ou "prancheta"? Cá entre nós, "tablete" lembra chocolate, caldo de galinha, medicamento... Vai ser difícil o tal tablet virar "tablete" ou "prancheta" (cujo sentido está muito ligado à atividade de projetistas, desenhistas etc.). Para ser "prancheta", o nome teria de vir acompanhado de um adjetivo ("eletrônica", por exemplo), mas em língua o fator economia é muito forte...
Sinto que o que vai mesmo pegar é "tablet" ("táblet"). E, se pegar, assim será. É isso.


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