São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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BALADA À ESPANHOLA

Eventos comemorativos em Barcelona reacendem discussões sobre a obra do arquiteto catalão

Aos 150, Gaudí continua polemizando

Albert Gea - 1º.jun.2002/Reuters
Fogos iluminam a Sagrada Família, catedral inacabada de Gaudí


HATTIE HARMAN
DO "THE NEW YORK TIMES", EM BARCELONA

Em junho, fogos de artifício e música elevaram-se sobre a Sagrada Família, a catedral que Antoní Gaudí deixou inacabada ao morrer, em 1926, onde 90 mil pessoas se reuniram para celebrar os 150 anos de seu nascimento.
Barcelona declarou 2002 o Ano de Gaudí, com mais de 30 exposições e eventos relacionados ao tema, incluindo festivais, concertos e a abertura de alguns prédios aos quais o público não tinha acesso.
Os edifícios atraem uma audiência ampla por causa de suas formas fantásticas e o uso exuberante de cores e materiais. Sua vida pessoal, que lembra a de um eremita, a total devoção à Sagrada Família -seu local de trabalho e casa nos últimos anos de vida- e sua morte em um acidente de bonde, quando foi inicialmente confundido com um mendigo, alcançaram proporções míticas.
Daniel Giralt-Miracle, historiador de arte e diretor do projeto Gaudí 2002, passou três anos preparando o evento. "A consciência de nossa herança arquitetônica começou depois de Franco. Todos perceberam que tínhamos de preservar nosso patrimônio." Isso levou ao estudo e à preservação da obra de Gaudí e a movimentos para torná-lo mais conhecido.
No processo, evitaram-se questões que preocupam os devotos de Gaudí. Uma delas é a construção da Sagrada Família, que deve ser completada em 2022, diz Jordi Bergós, presidente da fundação responsável pela obra. O futuro da catedral tem sido debatido desde a morte de Gaudí. Deveria a catedral permanecer uma concha inacabada tal qual ele deixou? Ou deveria ser completada, usando os modelos de gesso de Gaudí?
Há 15 anos, quem visitasse Barcelona tinha dificuldade em encontrar prédios de Gaudí. Mas em 1992 a restauração do Palau Guell foi completada, e em 1996 a Casa Milà foi aberta ao público. Neste ano, foi a vez da Casa Battló se abrir pela primeira vez.
Foi reaberta em junho a cripta de uma igreja incompleta em Santa Coloma de Cervello, onde Gaudí desenvolveu conceitos estruturais para a Sagrada Família.
Agora há guias de Gaudí e livros em várias línguas. Catálogos de exposições e monografias detalham vários aspectos de sua obra.
A variedade de mostras impressiona. "Explorando Formas", no Museu da História da Cidade de Barcelona, enfoca o fascínio de Gaudí por geometria e estruturas. Outras elucidam seu método de trabalho e obras em vidro, ferro e móveis. Em "Universo de Gaudí", há desenhos como um projeto parecido com a Sagrada Família para um hotel em Nova York.
A construção da catedral continua, com aparente apoio popular. Jordi Bonet, arquiteto encarregado, diz que o novo trabalho é fiel ao projeto original porque foi baseado em cálculos de computador feitos a partir de maquetes de Gaudí reconstruídas.
Três das quatro fachadas já foram erguidas. "De Gaudí temos 20%, De seus seguidores, outros 40%", na opinião de Giralt-Miracle. Para ele, seria lógico parar agora e pedir a um arquiteto importante que complete o desenho.
A Catalunha tem tradição de arquitetura moderna e muitos arquitetos gostariam de ver um toque atual na Sagrada Família. O trabalho recente na cripta Colonia Guell demonstra isso. Foi removida uma construção adicionada após o trabalho de Gaudí, instalando novo calçamento e escadas que levam a um belo terraço. As paredes de pedra de Gaudí, com elementos de cerâmica quebrada, são rematados com um parapeito moderno de pedra, distinguível da construção original.
A rota proposta do trem de alta velocidade Madri-Barcelona passa perto da Sagrada Família, e alguns dizem que isso oferece uma oportunidade ideal para dar uma nova olhada nos planos atuais da catedral e seu contexto urbano.


Tradução de Chiaki Karen Tada

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