São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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ANÁLISE GEOPOLÍTICA

País vive equilíbrio frágil entre mundo islâmico e Ocidente

Movimentos pró-Irã e Hamas põem em xeque posição turca de interlocutor moderado entre os dois universos


DISTANTES NA SUA GEOGRAFIA, BRASIL E TURQUIA VÊM SE TORNANDO MAIS PRÓXIMOS EM SUA ATUAÇÃO POLÍTICA


RODRIGO RÖTZSCH
DE SÃO PAULO

Separados pela geografia, Brasil e Turquia vêm se aproximando pela geopolítica. Os dois países ficaram isolados na recente votação do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao se posicionarem contra novas sanções ao Irã pela insistência em manter o seu programa nuclear.
Isso porque, dias antes, os dois países haviam conseguido que o Irã firmasse acordo para o envio do seu urânio pouco enriquecido à Turquia em troca de combustível adequado para abastecer seu reator de pesquisas médicas.
O acordo não deu certo porque as potências do Conselho de Segurança consideraram que ele já não era o suficiente para sanar os receios em torno do programa atômico iraniano.
O movimento pró-Irã é uma das recentes ondulações em direção ao Oriente do pêndulo político da Turquia, país visto como interlocutor moderado entre o mundo islâmico e o Ocidente.
Até recentemente, por exemplo, a Turquia mediava diálogo indireto entre Israel e Síria, fundamental para a paz no Oriente Médio. Os esforços foram abandonados depois da ofensiva militar de Israel contra a faixa de Gaza, no início do ano passado.
Os laços com o Estado judaico ficaram ainda mais abalados depois que, em maio, soldados israelenses mataram nove ativistas turcos que integravam uma frota que pretendia levar ajuda humanitária a Gaza, alvo de um bloqueio militar de Israel.
O governo turco exige desculpas de Israel, sob a ameaça de romper as relações. Já o Estado judaico vê apoio da Turquia a "terroristas".
Os movimentos favoráveis ao Irã e aos extremistas do Hamas aproximariam a Turquia daquilo que o ex-presidente americano George W. Bush definiu como "eixo do mal", mas a realidade é mais complexa do que isso.
A Turquia ainda é importante aliada americana, tanto que integra a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental) desde 1952.
O país também pleiteia a entrada na União Europeia, embora sofra muita resistência daqueles que temem uma islamização do bloco.
O equilíbrio delicado também se reflete na política interna turca, na qual não são incomuns suspeitas de tentativas de golpes militares e judiciais contra o AK, partido do premiê turco, Recep Tayip Erdogan, que é acusado de atentar contra o caráter laico do Estado turco.
Embora a quase totalidade de sua posição seja muçulmana, a Turquia é oficialmente secular desde que foi criada, em 1923, por Mustafa Kemal Atatürk.


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