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Descoberta do estreito de Magalhães inclui naufrágio, motim e deserção
DO ENVIADO ESPECIAL
Fernão de Magalhães não conseguiu completar a volta ao mundo. Morreu nas Filipinas, quando
a parte mais incerta e perigosa de
sua viagem já estava superada.
A expedição partiu da Espanha,
embora Magalhães fosse português. O navegador propôs a dom
Manuel, então rei de Portugal,
uma viagem em busca de uma
passagem nas Américas que levasse às Índias. Mas o soberano,
que sempre muito foi hostil com
ele, negou a sua proposta.
O navegador, então, pediu permissão para oferecer sua viagem a
outras cortes. E foi autorizado.
Dois anos depois, partiu de Sevilha com cinco embarcações de
vela bojuda, leme de madeira e
bandeira espanhola.
Sob seu comando, havia espanhóis, portugueses e um veneziano, Antonio Pigafetta, que embarcou por gostar de aventuras. Ao
saber da viagem de Magalhães
com os espanhóis, dom Manuel
tentou impedi-la. Em vão.
Jornada
Magalhães acreditava na existência do estreito, mas não tinha
certeza. Quando a tripulação percebeu isso, à medida que o clima e
a paisagem endureciam, a situação foi ficando delicada.
Antes de encontrar o estreito,
um navio naufragou e um motim
teve que ser reprimido. Já no estreito, outro navio foi perdido.
Dessa vez a causa foi deserção.
Quando o navio desertor chegou
à Espanha, sua tripulação se defendeu da denúncia de traição,
acusando Magalhães de tê-los
traído antes. Enquanto isso, no
hemisfério Sul, a expedição levava
um mês para vencer o estreito.
A travessia do oceano que apareceu diante deles tomou quase
quatro meses. Por sorte, os três
navios não encontraram tempestades, e o oceano desconhecido
foi batizado de "El Pacifico".
Depois de tantas provações, terra à vista. Magalhães acreditava
estar nas ilhas Molucas, mas chegara às Filipinas. Percebido o erro, ele declarou as ilhas como uma
nova Província espanhola.
Durante 20 dias, fechou acordos
com os chefes locais. Um, porém,
não se submeteu a ele. Magalhães
decidiu então puni-lo, invadindo
a ilha com 60 homens armados.
Cálculo errado. A ilha era protegida por recifes.
Os navios não puderam atracar
nem atirar à distância. Então desembarcaram 40 homens. Entre
eles estavam Magalhães e Pigafetta, que não esperavam encontrar,
na praia, cerca de 2.000 guerreiros, ávidos por defender sua ilha.
Quando Magalhães decidiu se
retirar, já era tarde. Os inimigos o
haviam reconhecido, e ele foi
morto. Pigafetta, ferido, voltou
para o navio. Sem o capitão, a frota deixou as ilhas às pressas e voltou para a Espanha.
Embora apenas 16 homens tenham conseguido desembarcar
em Sevilha, a façanha foi realizada. Mas um detalhe surpreendeu
a todos: segundo as contas da tripulação, era quarta-feira. E, em
terra, era quinta-feira. Navegando
para oeste, perdeu-se um dia. Era
a prova que faltava para comprovar que a Terra gira em torno de
seu próprio eixo. A cosmografia
dos antigos estava superada.
Magalhães foi absolvido das
acusações de traição, mas sua fama demorou a ser afirmada.
Os desertores não foram condenados. Talvez para salvá-los, nunca se encontrou uma linha escrita
por Magalhães e perdeu-se o original do relato que Pigafetta, sempre fiel ao capitão, entregou ao rei.
Restaram uma cópia do relato
do veneziano, que pode ter sido
alterada, anotações de alguns pilotos e cartas de dois tripulantes.
O estreito de Magalhães foi esquecido por cerca de 40 anos, até
que o corsário Francis Drake o
usou como esconderijo para seus
ataques. Então foi mandada para
lá uma frota conduzida por Sarmiento de Gamboa, mas esse já é
o começo de uma outra história.
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