São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

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ÚLTIMA CHANCE

Santiago de Cuba transpira trova e dança

Cidade onde Fidel deu início à Revolução de 1959 é palco de convivência autêntica entre visitantes e locais

DA ENVIADA ESPECIAL A CUBA

"Agora eu vou ensinar a rumba", diz, soltando os braços e acelerando o ritmo das ancas ao som que sai do aparelho de DVD. Os turistas olham. "Mas é igual ao outro!" Ela solta uma risada, um movimento com a cabeça, como quem diz que "claro que não", e insiste.
A vendedora gordinha e sorridente, com um molejo de bailarina profissional, está em uma loja de CDs no caminho que leva ao Castillo del Morro -a antiga fortaleza espanhola hoje convertida no museu da Pirataria- e sua inigualável vista da baía de Santiago. Mas poderia estar em qualquer lugar da segunda maior cidade de Cuba. Tudo e todos ali exalam música e dança.

Do outro lado
Fundada em 1515, Santiago é uma das sete primeiras cidades da época da colonização. Para alcançá-la é preciso cruzar quase toda a ilha a partir de Havana -são 12 horas de ônibus ou quase três de avião para chegar à penúltima Província no sudeste cubano.
Mas o périplo vale a pena.
Nas suas ruas estreitas, em meio ao decadente casario espanhol que aos poucos vai se desfazendo em cortiços até alcançar o mar, entre praças com coretos e restaurantes de uma simplicidade quase amadora, visitantes e moradores convivem numa sintonia bem mais harmônica e autêntica do que o apartheid velado que é visto em Havana.
É a música que dá a liga. Santiago é a terra da trova, ritmo reapresentado ao mundo pelo cineasta Win Wenders em seu "Buena Vista Social Club" (1999). Ali não é difícil entrar num restaurante modesto para um almoço rápido e se deparar com uma apresentação digna de qualquer casa de concertos. Haverá sempre os oportunistas, é claro, dispostos a lucrar com a fama. Mas em Santiago é mais fácil acertar do que errar.
Embora música e dança estejam em todo lugar, dois deles são imperdíveis -tanto para os turistas quanto para os santiagueros: a Casa da Trova e a Casa das Tradições.
A primeira, na calle Heredía -onde se aglutinam as principais atrações culturais da cidade-, oferece shows diários a 3 pesos conversíveis em seu pátio nos fins de tarde, além de um restaurante e de uma razoável loja de CDs, a ArtEx.
Toda noite, o casarão branco e azul vê transbordar suas imensas varandas, com grupos de trova tocando a 8 pesos de entrada para um salão lotado. Encontrar par para dançar é fácil: cubanos e cubanas sorridentes oferecem-se para acompanhar. Alguns o fazem pelo prazer da conversa e da dança, outros pedirão uma bebida.
Há ainda os que estão ali para transformar a noite em algo mais lucrativo: embora oficialmente proibida em Cuba, a prostituição (masculina e feminina) ainda é um mercado borbulhante no país, e os turistas são o alvo primeiro (afinal, muitos estão ali com esse exato propósito).
Já a Casa das Tradições, escondida em uma viela fora do centro histórico (pegar um táxi é altamente recomendável), fica em um imóvel bem mais modesto. É uma espécie de associação de bairro sem grande infra-estrutura. A visita, no entanto, é obrigatória: a animação do grupo titular da casa faz esquecer qualquer contratempo, e assistir aos locais dançando é um espetáculo por si só.

Porto de Fidel
Além de música, a cidade perspira história: foi ali que Fidel Castro chegou com o iate Granma, vindo do México, para a revolução que o levaria ao poder em 1959. Vale conhecer o singelo prédio que abriga a Prefeitura, na mesma praça em que fica o principal hotel da cidade, o Casa Granda.
Do pequeno balcão no terceiro andar Fidel fez seu primeiro discurso ao país como comandante. Quando a mudança vier, Santiago certamente guardará os últimos resquícios da "ilha do dia anterior".
(LUCIANA COELHO)


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