São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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MARCHA, SOLDADO

Pesquisador encontra 800 edificações de defesa no país

Enquanto algumas fortificações têm até lojas e restaurante, uma está submersa e outra abriga morcegos

ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Não existe consenso sobre o número de obras de arquitetura militar no Brasil. Acreditava-se até agora que o país teve em torno de 300 fortificações, como consta de um clássico livro editado pelo Exército em 1958, "Fortificações do Brasil", de Anibal Barreto.
Em pesquisa inédita, o historiador do Iphan Adler Homero Fonseca de Castro encontrou cerca de 800 obras defensivas -baterias, redutos, fortins e fortes- de tamanhos diversos. Desse total, estão preservadas pouco mais de cem.
O Exército encomendou a Adler um novo livro sobre a história das fortificações no país desde a colônia. O primeiro volume, tratando do tema em geral e em particular dos fortes do Rio de Janeiro, tem publicação prevista para setembro, durante a Semana da Pátria.
A Bahia é o Estado com mais fortes tombados. Mesmo assim, falta tombar, por exemplo, o forte de São Diogo, em Salvador.
É lá que um forte -o da Gamboa-, apesar de tombado, foi favelizado.
Em compensação, outro forte de Salvador, o de São Marcelo, foi reaberto depois de quase 40 anos. Hoje, tem espaço para exposições, auditório, área de eventos, restaurante e loja.
"Não queremos fazer roteiros turísticos, mas mostrar para a população que os bens tombados são explicados pelos acontecimentos históricos", declarou Dalmo Viera Filho, diretor do Depam (Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização), do Iphan.
Para o instituto, o que importa é preservar o patrimônio -e isso pode acontecer não necessariamente pelo seu uso turístico. Ainda existem unidades militares aquarteladas em fortes -como as fortalezas da Conceição e de São João, no Rio de Janeiro. Até mesmo a Polícia Militar pode ocupar algum -como o forte de Óbidos, no Pará, usado pela PM paraense.
Alguns têm a sorte de serem queridos pela população, como é o caso das ruínas de um raro forte espanhol, o de Santa Tecla, localizado em Bagé (RS).
E esse também é certamente o caso da fortaleza de São José, em Macapá (AP), cuja planta está até na bandeira do Estado. De 1997 a 2004, ela passou por obras de restauração. Em 2006, foram finalizadas as obras do parque criado no seu entorno.
No forte Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO), que está sendo restaurado, uma das principais dificuldades é lidar com a enorme quantidade de morcegos que invadiu o forte: são contados aos milhares, de quatro espécies diferentes.
Do forte de São Joaquim, em Roraima, só restam ruínas, em terreno particular. Já o amazonense forte de Tabatinga está debaixo do rio, mas em época de seca partes dele afloram.
Em inacessibilidade, o Mato Grosso do Sul tem dois campeões. Para o forte de Coimbra, famoso pela atuação na Guerra do Paraguai, só existe acesso fluvial -são oito horas de barco a partir de Corumbá.
Já as ruínas do forte de Iguatemi ficam em uma reserva indígena -e há uma aldeia exatamente dentro dele, o que cria um curioso conflito potencial na área de preservação.
Outros fortes têm sorte cambiante. O forte de Santa Bárbara, em Florianópolis (SC), estava em uma ilha, mas, depois de sucessivos aterros, passou a ter a cidade em torno e quase foi demolido no passado pela necessidade de criar uma avenida. Hoje ali funciona a Fundação Municipal de Cultura.
Já a fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, no vizinho município de Governador Celso Ramos, estava em ruínas até os anos 70, mas foi aos poucos sendo restaurada, com apoio da Universidade Federal de Santa Catarina, que também cuida de outras fortificações que defendiam a região.
Os poucos vestígios remanescentes da fortaleza de Santo Antônio, em São Luís (MA), estão tombados, mas são quase invisíveis. Parte dela está sob a sede do governo estadual, o Palácio dos Leões; e já houve governadores que queriam fazer obras que praticamente acabariam com o pouco que resta.

Críticas ao "paisagismo"
O arquiteto Mário Mendonça de Oliveira, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) critica os jardins em torno dos fortes, o que chama de"paisagismo que altera a imagem de poderio da fortaleza".
Para ele, dessa forma o forte deixa de ser um símbolo de poder militar e de defesa e "vira um jardim do Éden".
Sobre o mesmo tema, o arquiteto português António Menéres, um dos vice-presidentes da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, se autodenomina "purista".
Portugal não tem só fortes isolados. Tem também cidades totalmente muradas, ou "praças-fortes". Duas delas, construídas no tradicional traçado abaluartado, ou "italiano", permanecem em ótimo estado, Almeida e Elvas. Para facilitar o acesso, foram feitas obras que descaracterizaram partes das duas cidades. Menéres deu exemplos de Almeida, como um acesso que destruiu parte da muralha, ou a "limpeza" da pedra, que perdeu seus liquens.
(RBN)


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