São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2001

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HUMOR NO INTERIOR

Afrescos do artista decoram capela construída para colonos italianos e inaugurada em 1937

Obra de Volpi é luz de bairro decadente

DAS ENVIADAS ESPECIAIS A PIRACICABA

O pintor italiano Alfredo Volpi (1896-1988) é tão popular em Piracicaba quanto o rio, o salão de humor e a faculdade Esalq. O apreço ao "artista das bandeirinhas" está associado a um presente que deixou à cidade. Volpi morou por dois anos no bairro de Monte Alegre, a 10 km do centro, e foi contratado por um mecenas para fazer os afrescos de uma igrejinha. Hoje, a capela São Pedro conserva sua maior obra, ao menos em tamanho.
A bucólica construção em estilo românico, erguida sobre uma colina, pode ser facilmente avistada da via Comendador Pedro Morganti. Ela chama a atenção, pois contrasta com as ruínas que ladeiam a estrada principal.
Em ótimo estado, é o único edifício que sobreviveu à decadência do local, que, até os anos 80, abrigava um dos primeiros engenhos de açúcar da cidade, cuja atividade impulsionou sua economia por décadas.
Volpi foi contratado em meados dos anos 30 pelo dono da usina Monte Alegre, à época o italiano Pedro Morganti, com outros artistas do grupo Santa Helena (que atuou na década de 40) para decorar as paredes.
São Pedro exala influência italiana. Na entrada identificam-se as origens dos "patronos". Uma pintura na parede anuncia que a capela foi "decorada por Alfredo Volpi" e outra, que foi "construída por Pedro Morganti".
A igreja, réplica de um templo em Siena, cidade natal de Morganti, foi edificada com ajuda dos colonos e inaugurada em 1937. Da Itália vieram o mármore das colunas e do altar e os pintores.

Vilas
Nos anos 40, Monte Alegre era quase uma cidade. Havia 5.009 colonos, a maioria imigrantes italianos que moravam de graça em nove vilas espalhadas em uma área de 33 mil hectares. Morganti, considerado um pai pelos empregados, patrocinou a construção de um cinema, um ambulatório, uma escola e uma biblioteca. A igreja completou o cenário para que os trabalhadores não precisassem ir à missa em outro lugar.
Nas paredes pintadas por Volpi predominam cores suaves, em tons de azul e verde, e anjos ornam as laterais e a cúpula. Entre o teto e a parede há uma faixa com figuras que se assemelham a bandeiras, o que pode ser um prenúncio à sua fase das bandeirinhas, a partir da década de 60.
Parte da cúpula foi comprometida por enxames de abelhas, de onde escorria o mel que manchou alguns pontos do afresco.
Segundo o arquiteto Marco Antônio Guidotti, que com o irmão Wilson é o atual dono da igreja, a estrutura começará a ser recuperada em 15 dias, com patrocínio de uma empresa da região. Os irmãos Guidotti estão em busca de restauradores para recuperar os afrescos. "Sinto-me síndico de Deus", brinca Marco Antônio, para quem seria preciso US$ 30 mil para deixar o local em ordem.
"De todo o império [do açúcar] sobrou a arte", diz Marco Antônio, que tem conversado com empresários para restaurar a igreja e com a Prefeitura de Piracicaba para definir a sua abertura para visitação mais vezes na semana.
Há missa todo domingo às 7h30 e no último fim de semana de cada mês a capela fica aberta até as 18h. É bom telefonar antes, pois o "zelador", que tem a chave, não estava no domingo em que a reportagem foi a Monte Alegre. (MM e CF)


Informações - balu1@uol.com.br, tel. 0/ xx/19/9787-0096



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