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HUMOR NO INTERIOR
Afrescos do artista decoram capela construída para colonos italianos e inaugurada em 1937
Obra de Volpi é luz de bairro decadente
DAS ENVIADAS ESPECIAIS A PIRACICABA
O pintor italiano Alfredo Volpi
(1896-1988) é tão popular em Piracicaba quanto o rio, o salão de
humor e a faculdade Esalq. O
apreço ao "artista das bandeirinhas" está associado a um presente que deixou à cidade. Volpi morou por dois anos no bairro de
Monte Alegre, a 10 km do centro,
e foi contratado por um mecenas
para fazer os afrescos de uma
igrejinha. Hoje, a capela São Pedro conserva sua maior obra, ao
menos em tamanho.
A bucólica construção em estilo
românico, erguida sobre uma colina, pode ser facilmente avistada
da via Comendador Pedro Morganti. Ela chama a atenção, pois
contrasta com as ruínas que ladeiam a estrada principal.
Em ótimo estado, é o único edifício que sobreviveu à decadência
do local, que, até os anos 80, abrigava um dos primeiros engenhos
de açúcar da cidade, cuja atividade impulsionou sua economia
por décadas.
Volpi foi contratado em meados dos anos 30 pelo dono da usina Monte Alegre, à época o italiano Pedro Morganti, com outros
artistas do grupo Santa Helena
(que atuou na década de 40) para
decorar as paredes.
São Pedro exala influência italiana. Na entrada identificam-se
as origens dos "patronos". Uma
pintura na parede anuncia que a
capela foi "decorada por Alfredo
Volpi" e outra, que foi "construída por Pedro Morganti".
A igreja, réplica de um templo
em Siena, cidade natal de Morganti, foi edificada com ajuda dos
colonos e inaugurada em 1937. Da
Itália vieram o mármore das colunas e do altar e os pintores.
Vilas
Nos anos 40, Monte Alegre era
quase uma cidade. Havia 5.009
colonos, a maioria imigrantes italianos que moravam de graça em
nove vilas espalhadas em uma
área de 33 mil hectares. Morganti,
considerado um pai pelos empregados, patrocinou a construção
de um cinema, um ambulatório,
uma escola e uma biblioteca. A
igreja completou o cenário para
que os trabalhadores não precisassem ir à missa em outro lugar.
Nas paredes pintadas por Volpi
predominam cores suaves, em
tons de azul e verde, e anjos ornam as laterais e a cúpula. Entre o
teto e a parede há uma faixa com
figuras que se assemelham a bandeiras, o que pode ser um prenúncio à sua fase das bandeirinhas, a partir da década de 60.
Parte da cúpula foi comprometida por enxames de abelhas, de
onde escorria o mel que manchou
alguns pontos do afresco.
Segundo o arquiteto Marco Antônio Guidotti, que com o irmão
Wilson é o atual dono da igreja, a
estrutura começará a ser recuperada em 15 dias, com patrocínio
de uma empresa da região. Os irmãos Guidotti estão em busca de
restauradores para recuperar os
afrescos. "Sinto-me síndico de
Deus", brinca Marco Antônio, para quem seria preciso US$ 30 mil
para deixar o local em ordem.
"De todo o império [do açúcar]
sobrou a arte", diz Marco Antônio, que tem conversado com empresários para restaurar a igreja e
com a Prefeitura de Piracicaba para definir a sua abertura para visitação mais vezes na semana.
Há missa todo domingo às 7h30
e no último fim de semana de cada mês a capela fica aberta até as
18h. É bom telefonar antes, pois o
"zelador", que tem a chave, não
estava no domingo em que a reportagem foi a Monte Alegre.
(MM e CF)
Informações - balu1@uol.com.br, tel. 0/
xx/19/9787-0096
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