São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2001

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Pintor comove ex-moradores

DA ENVIADA ESPECIAL

Os montealegrinos que retornam ao bairro, quase fantasma, de 400 habitantes -contra uma população com mais de 5.000 colonos dos tempos em que ali funcionava a usina Monte Alegre- se enchem de emoção ao falar da capela, das vilas e de muitas histórias de assombração.
Para o ex-coroinha José Hilário Franco, 41, os anjos eram marcantes e o azul pastel das paredes era como uma "estrada para o céu".
Porém tanta fé não segurava o medo que os coroinhas dos anos 70 sentiam depois de ouvir histórias como a de um morto ressuscitado, contada pelo padre. "Saíamos abraçados, morrendo de medo", recorda Franco.
Outro montealegrino, nascido em 1926, na colônia das dez casas -hoje em ruínas e com plantas crescendo nos telhados-, trabalhava na pensão em que os artistas italianos faziam as refeições quando moraram no bairro para pintar os afrescos da capela São Pedro do Monte Alegre.
"Eu tinha dez anos quando conheci os pintores", diz Eloy Ferraz, 75. "Ele [Volpi" me dava uns quadrinhos. Um tinha uma cabeça de cavalo. Outro, em forma de losango, tinha umas caravelas."
Os presentes, entretanto, eram queimados no fogão à lenha pela a mãe de Ferraz, que lhe chamava a atenção por ter trazido "mais uma porcaria para casa".
"A gente não podia esperar que aquilo teria valor um dia", lamenta-se Ferraz, que hoje vive da aposentadoria e dos bicos em um restaurante de Piracicaba.
Segundo ele, Volpi e os outros italianos "temperavam" a tinta eles mesmos. "Ele me tratava de "meu moretto", que em italiano significa "meu pretinho".
Assim como o conterrâneo coroinha, Ferraz se lembra dos anjos. Quando chegava à sua casa, comentava com a mãe: "Parece que ele [Volpi] faz anjos que vão começar a bater as asas naquele fundo azul". (MM)


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