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Pintor comove ex-moradores
DA ENVIADA ESPECIAL
Os montealegrinos que retornam ao bairro, quase fantasma,
de 400 habitantes -contra uma
população com mais de 5.000 colonos dos tempos em que ali funcionava a usina Monte Alegre-
se enchem de emoção ao falar da
capela, das vilas e de muitas histórias de assombração.
Para o ex-coroinha José Hilário
Franco, 41, os anjos eram marcantes e o azul pastel das paredes era
como uma "estrada para o céu".
Porém tanta fé não segurava o
medo que os coroinhas dos anos
70 sentiam depois de ouvir histórias como a de um morto ressuscitado, contada pelo padre. "Saíamos abraçados, morrendo de medo", recorda Franco.
Outro montealegrino, nascido
em 1926, na colônia das dez casas
-hoje em ruínas e com plantas
crescendo nos telhados-, trabalhava na pensão em que os artistas
italianos faziam as refeições
quando moraram no bairro para
pintar os afrescos da capela São
Pedro do Monte Alegre.
"Eu tinha dez anos quando conheci os pintores", diz Eloy Ferraz, 75. "Ele [Volpi" me dava uns
quadrinhos. Um tinha uma cabeça de cavalo. Outro, em forma de
losango, tinha umas caravelas."
Os presentes, entretanto, eram
queimados no fogão à lenha pela
a mãe de Ferraz, que lhe chamava
a atenção por ter trazido "mais
uma porcaria para casa".
"A gente não podia esperar que
aquilo teria valor um dia", lamenta-se Ferraz, que hoje vive da aposentadoria e dos bicos em um restaurante de Piracicaba.
Segundo ele, Volpi e os outros
italianos "temperavam" a tinta
eles mesmos. "Ele me tratava de
"meu moretto", que em italiano
significa "meu pretinho".
Assim como o conterrâneo coroinha, Ferraz se lembra dos anjos. Quando chegava à sua casa,
comentava com a mãe: "Parece
que ele [Volpi] faz anjos que vão
começar a bater as asas naquele
fundo azul".
(MM)
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