São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2001

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CANTO ARGENTINO

Cidade ferve com jovens oferecendo livros a transeuntes e serve nos restaurantes carne de primeira

Universitários dão vida e cultura às ruas de Córdoba

FABIO EDUARDO MURAKAWA
ENVIADO ESPECIAL A CÓRDOBA

Contam os documentos oficiais que Córdoba, na Argentina, foi fundada em 6 de julho de 1573 pelo espanhol Jerónimo Luis de Cabrera. Mas pode-se dizer que sua história começa com a chegada dos jesuítas, em 1599.
Eles semearam ali a primeira universidade e a primeira igreja argentinas, além de instalarem nas áreas serranas que circundam a cidade as fazendas que dariam sustentação à sua empresa missionária: a Companhia de Jesus.
Os jesuítas foram expulsos da cidade em 1767 por ordem do rei espanhol Carlos 3º. Seu legado arquitetônico, cultural e religioso, porém, ainda pode ser visto na cidade, que neste ano completa 428 anos de fundação.
A Universidade Nacional de Córdoba, inaugurada em 1613, continua em atividade. Jovens de toda a Argentina e de outros países da América do Sul são parte viva da paisagem cordobesa, que, como toda cidade universitária, também é conhecida por sua agitada vida noturna.
A igreja da Companhia de Jesus, fundada em 1671, fica logo ao lado da universidade. Nessa área central estão alguns dos templos mais antigos da Argentina, como a catedral da cidade e a legislatura provincial, na praça San Martin. Na região, o visitante pode fazer escalas em alguns dos cerca de 25 museus e galerias de arte.
A proximidade com a zona universitária também tornou o centro de Córdoba uma grande concentração de cafés.
Em cada esquina há um estudante, contratado pelos sebos, convidando os pedestres para uma visita: "Libros, señor?".
Os cafés, por sua vez, têm uma característica distinta dos de Buenos Aires. Raramente suas mesas e cadeiras são acomodadas nas calçadas. São, em geral, aconchegantes. O brasileiro, no entanto, pode se assustar com o preço. Um café expresso pode custar US$ 1,50 (R$ 3,60, mais ou menos).
A compensação pode vir no câmbio. Como a maioria dos estabelecimentos aceita dólares como forma de pagamento, o turista não perderá dinheiro na conversão da moeda americana para o peso argentino.
A alta qualidade e a conta salgada, se comparada à realidade brasileira, também são características dos restaurantes de Córdoba.
Um jantar razoável não sairá por menos de US$ 15 por pessoa, e a carne, como em toda a Argentina, será sempre o prato principal. Qualquer que seja o corte ou o prato, a carne será mais saborosa do que a encontrada na maioria dos restaurantes brasileiros.
Isso se deve à origem européia do gado argentino, quando no Brasil a maior parte do rebanho tem origem indiana. Mais resistente ao calor, o gado zebuíno brasileiro não produz uma carne tão macia quanto o europeu.
Desde sua fundação, no século 16, Córdoba se destacou por ser um ponto de convergência das rotas de colonizadores vindos do norte e do oeste do que é hoje o território argentino.
Mais de 400 anos depois, a cidade conserva sua importância. Córdoba é hoje a segunda maior do país, com 1,3 milhão de habitantes, e a Província da qual é capital e que leva seu nome concentra grande parte da indústria automobilística nacional.
Por isso mesmo a crise econômica atravessada pela Argentina pegou em cheio a economia local.
Isso fez com que a cidade, que recebe visitantes de todos os cantos do país, despertasse para a necessidade de atrair para si também os turistas estrangeiros.
Já não bastam os pesos trazidos pelas famílias argentinas ou pelos estudantes. Córdoba precisa dos dólares dos visitantes de outros países. E, a julgar pela beleza de suas construções e pela riqueza de sua história, uma viagem a Córdoba vale o investimento.


Fabio Eduardo Murakawa viajou a convite da GSA, da Varig e da Macaw Receptive



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