São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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Escalada a monte Tai Shan, templo máximo de corrente filosófico-religiosa, revela prédios de vários séculos

Subida de 5 horas introduz leigo ao taoísmo

NA CHINA

Apesar de viverem há mais de cinco décadas sob regime comunista, os chineses continuam a venerar montanhas, e Tai Shan, com 1.545 m de altitude, é a mais sagrada de todas, o templo máximo do taoísmo no país.
Visitá-la exige disposição física, pois o caminho da base até o topo tem cerca de 8 km. São de três a cinco horas de subida por uma sequência interminável de escadas, às vezes bastante íngremes.
Embora seja possível subir de teleférico, o passeio é mais interessante a pé porque, no trajeto, há vários monumentos erguidos no decorrer dos séculos.
Tal era a importância de Tai Shan que, em 725 d.C., o monte recebeu o título de "rei equivalente ao céu" e, em 1101, foi promovido a "imperador". Para homenageá-lo, os imperadores realizavam peregrinações ao cume.
As infindáveis procissões, cercadas de pompa imperial, exigiam trilhas e escadas bem pavimentadas e sinalizadas, e os imperadores mandaram construir vários edifícios de apoio, como hospedarias, casas de chá, refeitórios, conventos e altares de oração. No topo, há vários templos taoístas.
A subida de Tai Shan é uma boa oportunidade de conhecer a arquitetura imperial chinesa e, ao mesmo tempo, ser introduzido ao taoísmo, uma das três principais correntes de pensamento filosófico-religioso presentes na cultura chinesa. As outras são o confucionismo e o budismo.
O taoísmo, baseado nos ensinamentos de Lao Zi (contemporâneo de Confúcio) e Zhuang Zi (famoso praticante, bem posterior), tem como princípio central o Wu Wei, que pode ser traduzido, de forma simplista, como "nenhuma ação que vá contra a natureza".
Enquanto o confucionismo está relacionado à ordem e às relações sociais, o taoísmo refere-se principalmente à relação do indivíduo com o universo natural e vê os problemas humanos por um outro prisma: manter uma boa relação com um vizinho de pouco adianta se não estivermos em harmonia com a natureza. O taoísmo defende as práticas da contemplação e da meditação.
No passado, a subida de Tai Shan certamente resultava num contato próximo com a natureza. Mesmo hoje, o passeio continua agradável. Mas há ressalvas.
Devido à sua enorme fama, Tai Shan atrai visitantes em excesso e, em consequência, há lojas de suvenires, vendedores ambulantes, guias e carregadores de liteiras por toda parte. A limpeza do local fica aquém do desejado.
Mas o maior problema está na falta de critério na conservação dos locais religiosos, algo generalizado na China. Por serem "vivos", os templos de Tai Shan são constantemente renovados, sem que haja preocupação com a qualidade artística na restauração de estátuas e objetos.
Não é o caso do templo Tai Miao, situado em Tai'an, cidade localizada aos pés da montanha sagrada. Tai'an está na linha de trem que parte de Nanquim, passa por Qufu e segue até Jinan, de onde há vôos para Pequim.
Pois o templo de Tai Miao foi, desde a sua conclusão, em 1009, o tradicional ponto de partida das excursões a Tai Shan, onde os imperadores realizavam sacrifícios e oferendas rituais. Restaurado em 1956, ele se encontra em ótimo estado de preservação e chama atenção, já do lado de fora, pela grandiosidade de sua muralha.
No interior, há um imenso jardim, com ciprestes centenares, e vários pátios decorados com estelas (colunas de pedras com inscrições) doadas por imperadores e especialmente cultuadas devido à qualidade da caligrafia.
O edifício principal equipara-se em tamanho a alguns pavilhões da Cidade Proibida e do templo de Confúcio em Qufu. No interior, há um grande mural, que cobre três das quatro paredes, retratando o deus de Tai Shan durante uma expedição de caça, com ricos detalhes, como vestuário, montaria e jogos. (OTÁVIO DIAS)


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