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Escalada a monte Tai Shan, templo máximo de corrente filosófico-religiosa, revela prédios de vários séculos
Subida de 5 horas introduz leigo ao taoísmo
NA CHINA
Apesar de viverem há mais de
cinco décadas sob regime comunista, os chineses continuam a venerar montanhas, e Tai Shan,
com 1.545 m de altitude, é a mais
sagrada de todas, o templo máximo do taoísmo no país.
Visitá-la exige disposição física,
pois o caminho da base até o topo
tem cerca de 8 km. São de três a
cinco horas de subida por uma sequência interminável de escadas,
às vezes bastante íngremes.
Embora seja possível subir de
teleférico, o passeio é mais interessante a pé porque, no trajeto,
há vários monumentos erguidos
no decorrer dos séculos.
Tal era a importância de Tai
Shan que, em 725 d.C., o monte
recebeu o título de "rei equivalente ao céu" e, em 1101, foi promovido a "imperador". Para homenageá-lo, os imperadores realizavam peregrinações ao cume.
As infindáveis procissões, cercadas de pompa imperial, exigiam trilhas e escadas bem pavimentadas e sinalizadas, e os imperadores mandaram construir vários edifícios de apoio, como hospedarias, casas de chá, refeitórios,
conventos e altares de oração. No
topo, há vários templos taoístas.
A subida de Tai Shan é uma boa
oportunidade de conhecer a arquitetura imperial chinesa e, ao
mesmo tempo, ser introduzido ao
taoísmo, uma das três principais
correntes de pensamento filosófico-religioso presentes na cultura
chinesa. As outras são o confucionismo e o budismo.
O taoísmo, baseado nos ensinamentos de Lao Zi (contemporâneo de Confúcio) e Zhuang Zi (famoso praticante, bem posterior),
tem como princípio central o Wu
Wei, que pode ser traduzido, de
forma simplista, como "nenhuma
ação que vá contra a natureza".
Enquanto o confucionismo está
relacionado à ordem e às relações
sociais, o taoísmo refere-se principalmente à relação do indivíduo
com o universo natural e vê os
problemas humanos por um outro prisma: manter uma boa relação com um vizinho de pouco
adianta se não estivermos em harmonia com a natureza. O taoísmo
defende as práticas da contemplação e da meditação.
No passado, a subida de Tai
Shan certamente resultava num
contato próximo com a natureza.
Mesmo hoje, o passeio continua
agradável. Mas há ressalvas.
Devido à sua enorme fama, Tai
Shan atrai visitantes em excesso e,
em consequência, há lojas de suvenires, vendedores ambulantes,
guias e carregadores de liteiras
por toda parte. A limpeza do local
fica aquém do desejado.
Mas o maior problema está na
falta de critério na conservação
dos locais religiosos, algo generalizado na China. Por serem "vivos", os templos de Tai Shan são
constantemente renovados, sem
que haja preocupação com a qualidade artística na restauração de
estátuas e objetos.
Não é o caso do templo Tai
Miao, situado em Tai'an, cidade
localizada aos pés da montanha
sagrada. Tai'an está na linha de
trem que parte de Nanquim, passa por Qufu e segue até Jinan, de
onde há vôos para Pequim.
Pois o templo de Tai Miao foi,
desde a sua conclusão, em 1009, o
tradicional ponto de partida das
excursões a Tai Shan, onde os imperadores realizavam sacrifícios e
oferendas rituais. Restaurado em
1956, ele se encontra em ótimo estado de preservação e chama
atenção, já do lado de fora, pela
grandiosidade de sua muralha.
No interior, há um imenso jardim, com ciprestes centenares, e
vários pátios decorados com estelas (colunas de pedras com inscrições) doadas por imperadores e
especialmente cultuadas devido à
qualidade da caligrafia.
O edifício principal equipara-se
em tamanho a alguns pavilhões
da Cidade Proibida e do templo
de Confúcio em Qufu. No interior, há um grande mural, que cobre três das quatro paredes, retratando o deus de Tai Shan durante
uma expedição de caça, com ricos
detalhes, como vestuário, montaria e jogos.
(OTÁVIO DIAS)
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