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TERRA DO SEMPRE
Escritores nunca se cansam de Londres
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
Dono de vasta erudição e de
conhecimentos que iam do cinema à literatura, o dissidente
cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005) adotou Londres e, mais particularmente, o
bairro de South Kensington,
onde viveu 40 anos, em 1965.
Assim que publicou "Três
Tristes Tigres" (1964), o escritor teve seu confronto definitivo com o regime de Fidel Castro, que apoiara, e, então, tentou viver em Madri.
Faltavam dez anos para o
ocaso do regime franquista e,
mesmo dissidente, Cabrera era
sempre chamado a depor pela
polícia política espanhola.
Cansou de Madri, colocou os
escritos e os charutos na mala e
resolveu se mudar para a Gloucester Road, em Londres (naquele tempo fervilhante, apelidada de "swinging London").
A mulher, Myriam Gomez, a
quem afetuosamente chamava
de "minha Havana portátil",
ainda mora lá (leia texto na pág.
F7), no apartamento simpático
e apinhado de livros onde Cabrera Infante teceu sua sólida
carreira literária -e virou verbete da Enciclopédia Britânica.
Irascível ao criticar Fidel
Castro, com todas as letras, em
"Mea Cuba" (1992) afirmou
que sofria de "Castroenterites".
Londres incansável
Mas Cabrera Infante não é
exceção entre os escritores.
"Quem se cansa de Londres, se
cansa da vida", sentenciou, já
no século 18, o poeta, crítico e
ensaísta Samuel Johnson
(1709-84), autor do primeiro
grande "Dicionário de Língua
Inglesa" -um intelectual que, a
seu tempo, exerceu uma verdadeira ditadura literária.
Antevendo o frenesi que tomaria conta da capital britânica, hoje uma estilosa megalópole de 8 milhões de habitantes, Johnson antecipou a era vitoriana, quando, de 1837 a 1901,
Londres foi sede de um "império onde o sol nunca se punha".
Antes de Johnson, a cidade
foi destruída pelo Grande Incêndio (1666), sendo reconstruída, nas décadas seguintes,
em estilo homogêneo e algo
monótono, por arquitetos como Christopher Wren.
E foram vários os escritores
que adotaram Londres. Celebrizado como o autor de "Peter
Pan", James Mathew Barrie
(1860-1937) nasceu em Kirriemuir, remota cidade escocesa, e
estudou em Edimburgo. Em
Londres, escreveu colunas sociais e contos cínicos antes de
enriquecer ao criar, nos jardins
de Kensington, o mito do menino que se recusou a crescer.
Taciturno, J.M.Barrie também morou nos arredores do
parque. Em 1895, seu endereço
era 133, Gloucester Road, em
South Kensington; depois, em
1901, se mudou para Leinster
Corner, num prédio na esquina
de Bayswater Road, onde conheceu os filhos de Sylvia Jocelyn Davies, que inspiraram os
personagens de "The Little
White Bird; or Adventures in
Kensington Gardens" (1902).
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