São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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TERRA DO SEMPRE

Escritores nunca se cansam de Londres

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Dono de vasta erudição e de conhecimentos que iam do cinema à literatura, o dissidente cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005) adotou Londres e, mais particularmente, o bairro de South Kensington, onde viveu 40 anos, em 1965.
Assim que publicou "Três Tristes Tigres" (1964), o escritor teve seu confronto definitivo com o regime de Fidel Castro, que apoiara, e, então, tentou viver em Madri.
Faltavam dez anos para o ocaso do regime franquista e, mesmo dissidente, Cabrera era sempre chamado a depor pela polícia política espanhola.
Cansou de Madri, colocou os escritos e os charutos na mala e resolveu se mudar para a Gloucester Road, em Londres (naquele tempo fervilhante, apelidada de "swinging London").
A mulher, Myriam Gomez, a quem afetuosamente chamava de "minha Havana portátil", ainda mora lá (leia texto na pág. F7), no apartamento simpático e apinhado de livros onde Cabrera Infante teceu sua sólida carreira literária -e virou verbete da Enciclopédia Britânica.
Irascível ao criticar Fidel Castro, com todas as letras, em "Mea Cuba" (1992) afirmou que sofria de "Castroenterites".

Londres incansável
Mas Cabrera Infante não é exceção entre os escritores. "Quem se cansa de Londres, se cansa da vida", sentenciou, já no século 18, o poeta, crítico e ensaísta Samuel Johnson (1709-84), autor do primeiro grande "Dicionário de Língua Inglesa" -um intelectual que, a seu tempo, exerceu uma verdadeira ditadura literária.
Antevendo o frenesi que tomaria conta da capital britânica, hoje uma estilosa megalópole de 8 milhões de habitantes, Johnson antecipou a era vitoriana, quando, de 1837 a 1901, Londres foi sede de um "império onde o sol nunca se punha".
Antes de Johnson, a cidade foi destruída pelo Grande Incêndio (1666), sendo reconstruída, nas décadas seguintes, em estilo homogêneo e algo monótono, por arquitetos como Christopher Wren.
E foram vários os escritores que adotaram Londres. Celebrizado como o autor de "Peter Pan", James Mathew Barrie (1860-1937) nasceu em Kirriemuir, remota cidade escocesa, e estudou em Edimburgo. Em Londres, escreveu colunas sociais e contos cínicos antes de enriquecer ao criar, nos jardins de Kensington, o mito do menino que se recusou a crescer.
Taciturno, J.M.Barrie também morou nos arredores do parque. Em 1895, seu endereço era 133, Gloucester Road, em South Kensington; depois, em 1901, se mudou para Leinster Corner, num prédio na esquina de Bayswater Road, onde conheceu os filhos de Sylvia Jocelyn Davies, que inspiraram os personagens de "The Little White Bird; or Adventures in Kensington Gardens" (1902).


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