São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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BRASIL/JAPÃO

Hierarquia do sumô determina até quem pode se casar

Atletas novatos têm obrigação de servir veteranos até atingir o primeiro estágio considerado profissional

DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

A rotina de um lutador de sumô envolve bem mais que comer bastante. O "plano de carreira" dentro da modalidade se parece bastante com a instrução dos antigos samurais.
Tudo no sumô depende da graduação dos competidores. É o ranking, determinado pela evolução dos rikishi durante os seis torneios ao longo do ano, que determina se o lutador tem o direito de dormir em um quarto privativo ou até mesmo se ele pode ser casar.

Vida dura
No início, sem ranking, a vida é bastante difícil. Os novatos, que dividem alojamentos coletivos nos centros de treinamento, acordam entre 4h e 5h e já começam a sua jornada intensa de treinos.
A partir de 8h, começam a chegar os mais graduados. Então os novatos ficam na condição de espectadores de luxo, só observando para aprender.
Após a primeira refeição, os aprendizes cuidam do centro de treinamento, varrendo, lavando banheiros, fazendo camas e cuidando da lavanderia (própria e dos veteranos).
Mais tarde, eles vão às compras e precisam cozinhar para os mais velhos. Mas os novatos só podem comer o que eles mesmo prepararam depois que os colegas de graduação mais alta estiverem satisfeitos.

Cheio de calorias
O prato padrão é "chanko nabe". É um cozido altamente calórico que leva vegetais, frango, tofu, misô e molho de soja.
Antigamente, evitava-se o uso de carne suína e bovina -pois, quando vivos, tais animais, quadrúpedes, aparentavam a postura de um rikishi derrotado. Hoje, não há mais restrições ao uso de carnes e até receitas com peixe estão no cardápio dos competidores.
Até atingir o status de juryo (o primeiro considerado "profissional"), os atletas têm a obrigação de servir os veteranos. Tudo o que os mais velhos mandarem é obrigação.
Nessa fase, os rikishi ainda não são profissionais -por isso, as regras são mais rígidas, vedando, por exemplo, tapas no rosto. Com o sucesso no amadorismo, cerca de 10% deles ascendem à condição de juryo.
A partir desta classe, profissional, os rikishi deixam de servir e passam a ser servidos. Ganham o direito de um quarto individual no centro de treinamento e podem até se casar.
Outra marca da promoção a juryo é o direito de ter um "akeni", outro objeto do Japão mais antigo que sobrevive em uso graças ao sumô.
É um baú ornamental feito de bambu e papel artesanal, onde os rikishi levam seus pertences -arrumados meticulosamente por um aprendiz, claro.
Assim como os competidores estão sujeitos a uma escala em razão de seu ranqueamento, os juízes seguem a mesma regra -e exibem no vestuário provas de sua graduação.
Quanto mais colorido, melhor é o juiz. Conforme avançam na carreira, eles ganham adereços como sandálias, fitas no chapéu, espada curta e um laço prendendo a roupa.
A maior distinção, porém, é o leque, similar ao modelo usado pelos senhores da guerra quando assumiam o comando de tropas no século 16. A cor da fita amarrada ao leque indica o nível do juiz na hierarquia.
(LUÍS FERRARI)


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