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DEPOIMENTO
Peguei o "táxi do crime" na Cidade do México
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira recomendação que o
turista recebe ao chegar à Cidade
do México é: nunca, jamais, em
hipótese alguma pegue um táxi
verde nas ruas -o mais comum e
mais barato de todos. O motivo?
Há quadrilhas especializadas em
seqüestros relâmpagos operando
nesses veículos, quase sempre nos
tradicionais Fuscas -apelidados
de vochitos pelos mexicanos.
Nos guias de viagem, nos restaurantes e no seu hotel, o discurso do terror pouco varia. Até o
Departamento de Estado norte-americano costuma avisar em seu
site que "ataques a passageiros de
táxis [na capital mexicana] são
freqüentes e violentos, com pessoas sendo submetidas a surras,
tiros e ataques sexuais". E a orientação também é semelhante: peça
um táxi pelo telefone -um sistema confiável, mas pelo qual você
pagará até cinco vezes mais.
Há pouco mais de um ano, fui
ao México passar férias com minha mulher. E, mesmo tendo uma
boa quilometragem em viagens,
com carimbos no passaporte do
Laos à Bolívia, adotei de início
uma tática conservadora, pagando vários dólares a mais nos táxis
credenciados.
Aos poucos, no entanto, fui notando que muitos nativos usam,
sim, os vochitos verdes. As estatísticas oficiais mostram que 300
pessoas são seqüestradas por ano
na cidade, a maioria apenas por
algumas horas -tempo suficiente para o motorista-assaltante parar em um caixa eletrônico e limpar a conta bancária do passageiro. É um número alto, que coloca
a capital mexicana entre as cidades mais violentas do mundo.
Mas, para um paulistano, por
incrível que pareça, as chances de
ser assaltado diminuem no México. Reportagem da Folha mostrou que em 2005 ocorreram por
mês cerca de cem seqüestros relâmpagos na cidade. É uma taxa
quatro vezes maior do que na capital mexicana -onde vivem
quase 20 milhões de pessoas, o
dobro da população de São Paulo.
Não se tratava de brincar com as
estatísticas de violência nem de
bancar os heróis, mas apenas de
economizar dinheiro (pois ficamos uma semana por lá) e tentar
saborear a cidade com mais ingredientes locais: decidimos, então,
pegar um táxi verde na rua.
O ponto de partida era o incrível
Museu Nacional de Antropologia.
Não demorou nem 20 segundos
para um vochito parar.
Assim que a porta se abriu, as
diferenças se revelaram. Não havia ar-condicionado nem bancos
de couro. O banco da frente, aliás,
inexistia. No lugar, uma sacola lotada de frangos crus -que se faziam notar pelo cheiro.
O motorista, um simpático e falante mexicano com feições indígenas, passou o caminho todo falando sobre sua cidade, da história dos monumentos nas largas
avenidas, das glórias dos clubes
de futebol da capital e da crise política pela qual o país passava.
Em 20 minutos chegamos ao
hotel. Desviei do frango, paguei a
corrida e agradeci pela simpatia.
Nem bem descemos do fusquinha, e o gerente do hotel nos interpelou, com cara de assustado:
"Por que vieram de vochito?"
Nada de extraordinário, pensei
alto. Apenas queríamos sorver
um pouco mais da cultura local,
conhecer sua gente e costumes,
deixando de lado a infra-estrutura pré-fabricada para as hordas de
brasileiros que invadem o México
em direção ao balneário de Cancún. Mas, para encurtar a explicação, falei: "Viemos correndo para
ver o jogo da seleção brasileira na
TV". Aí, ele entendeu.
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