São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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FRONTEIRA VERDE

Igapó condensa imagem da floresta

Passeio por partes alagadas da mata amazônica durante a época da cheia é o ponto alto de rota de barco

DA ENVIADA ESPECIAL

Com uma boa dose de expectativas e diante da dimensão da floresta amazônica, é difícil formar, de cara, uma imagem da mata. O passeio por trilhas dá a idéia da riqueza de detalhes, da quantidade de vida amontoada. Mas não corresponde à expectativa de grandiosidade.
Um trajeto de barco esclarece a questão da dimensão -são paredões densos, verde-escuro a perder de vista. Mas, no leito do rio, o turista vê a floresta de fora. Não tem a sensação de estar ali dentro, embrenhado.
Uma coisa se junta à outra no igapó, porção da floresta que, na cheia, fica parcialmente submersa. A voadeira desliga o motor, e o condutor apanha um remo. Desviando dos troncos das árvores, o barco flutua pelos caminhos possíveis, perto das copas, dentro da floresta.
Com o silêncio do motor desligado, ouvem-se os sons da floresta -aves, macacos, insetos, uma eventual motosserra.

Piranha e jacaré
Lagoas amazônicas também impressionam. Elas parecem um esconderijo. Com a água tranqüila, é em geral nelas que acontece a pesca à piranha. De novo o motor é desligado, hora de deixar ouvidos atentos.
Apanhar uma piranha é tarefa para pescadores bem treinados. O começo parece fácil. Com uma vara simples e usando carne como isca, é só colocar o anzol para pescar. O guia dá a dica: bater um pouco com a ponta da vara na superfície do rio para simular o movimento e o barulho que acontecem quando um animal cai na água.
Em poucos segundos, começam as mordiscadas. É preciso puxar a vara com rapidez, para fisgar o peixe. Aí entra a tarimba do pescador treinado. Quem não tem prática de fisgada fica só alimentando piranha.
Também é nas lagoas que as garças costumam dormir, em grandes grupos, em árvores-dormitório. Com dezenas de aves aninhadas, as árvores parecem estar carregadas de grandes frutos brancos.
Além da pesca de piranhas, outro passeio popular é a focagem noturna de jacarés. Engana-se quem pensa que os jacarés são vistos de longe, com lanternas, como o nome sugere. Os guias aportam a voadeira em alguma área com grande concentração desses animais e desembarcam. Apanham um jacaré e trazem para o barco.
O bicho fica parado na mão do guia enquanto ele explica a anatomia, as espécies, os tamanhos e a alimentação desses répteis. O ponto alto é a demonstração da técnica da coçadinha na barriga. Com o jacaré deitado de barriga para cima, se uma mão for passada em seu ventre ele fica paralisado.
Depois de caminhar, navegar, entrar no igapó, tentar pescar piranha e ver o jacaré, dá para começar a formar uma imagem da mata.
(HELOISA LUPINACCI)


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