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FRONTEIRA VERDE
Igapó condensa imagem da floresta
Passeio por partes alagadas da mata amazônica durante a época da cheia é o ponto alto de rota de barco
DA ENVIADA ESPECIAL
Com uma boa dose de expectativas e diante da dimensão da
floresta amazônica, é difícil formar, de cara, uma imagem da
mata. O passeio por trilhas dá a
idéia da riqueza de detalhes, da
quantidade de vida amontoada.
Mas não corresponde à expectativa de grandiosidade.
Um trajeto de barco esclarece a questão da dimensão -são
paredões densos, verde-escuro
a perder de vista. Mas, no leito
do rio, o turista vê a floresta de
fora. Não tem a sensação de estar ali dentro, embrenhado.
Uma coisa se junta à outra no
igapó, porção da floresta que,
na cheia, fica parcialmente submersa. A voadeira desliga o motor, e o condutor apanha um remo. Desviando dos troncos das
árvores, o barco flutua pelos caminhos possíveis, perto das copas, dentro da floresta.
Com o silêncio do motor desligado, ouvem-se os sons da floresta -aves, macacos, insetos,
uma eventual motosserra.
Piranha e jacaré
Lagoas amazônicas também
impressionam. Elas parecem
um esconderijo. Com a água
tranqüila, é em geral nelas que
acontece a pesca à piranha. De
novo o motor é desligado, hora
de deixar ouvidos atentos.
Apanhar uma piranha é tarefa para pescadores bem treinados. O começo parece fácil.
Com uma vara simples e usando carne como isca, é só colocar
o anzol para pescar. O guia dá a
dica: bater um pouco com a
ponta da vara na superfície do
rio para simular o movimento e
o barulho que acontecem quando um animal cai na água.
Em poucos segundos, começam as mordiscadas. É preciso
puxar a vara com rapidez, para
fisgar o peixe. Aí entra a tarimba do pescador treinado. Quem
não tem prática de fisgada fica
só alimentando piranha.
Também é nas lagoas que as
garças costumam dormir, em
grandes grupos, em árvores-dormitório. Com dezenas de
aves aninhadas, as árvores parecem estar carregadas de
grandes frutos brancos.
Além da pesca de piranhas,
outro passeio popular é a focagem noturna de jacarés. Engana-se quem pensa que os jacarés são vistos de longe, com lanternas, como o nome sugere. Os
guias aportam a voadeira em alguma área com grande concentração desses animais e desembarcam. Apanham um jacaré e trazem para o barco.
O bicho fica parado na mão
do guia enquanto ele explica a
anatomia, as espécies, os tamanhos e a alimentação desses
répteis. O ponto alto é a demonstração da técnica da coçadinha na barriga. Com o jacaré
deitado de barriga para cima, se
uma mão for passada em seu
ventre ele fica paralisado.
Depois de caminhar, navegar, entrar no igapó, tentar pescar piranha e ver o jacaré, dá
para começar a formar uma
imagem da mata.
(HELOISA LUPINACCI)
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