São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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BONS VELHINHOS

Aos 105, Albamar conquista com pescados

Torre circular solitária guarda bons pescados, vista da Guanabara e histórias de freqüentadores famosos

DA ENVIADA ESPECIAL

Para os não-iniciados, é difícil imaginar que o endereço esteja correto: uma solitária e incomum torre circular branca e verde que, à distância, parece abandonada. Erguida em 1903, é a única estrutura que restou do antigo mercado municipal da praça Quinze. Nada nela parece abrigar um restaurante. A impressão não muda na entrada, em que um sisudo porteiro encaminha os clientes até o minúsculo elevador de porta pantográfica. No piso superior, o restaurante.
E se você tinha alguma dúvida de que almoçar no Albamar seria uma viagem no tempo, abra os pedidos com a saborosa sopa de rã (R$ 29), que leva arroz e espinafre e pode ser dividida por duas pessoas. Depois, puxe conversa com Manuel Gil Gonzales, 76, gerente e um dos sócios do restaurante. Ele está ali há 58 anos. "Fora o Getúlio e o Dutra, conheci e servi todos os presidentes do Brasil até o final da ditadura militar", conta. "Lembro do Jango vindo passear aqui com dona Maria Teresa, na época sua namorada."
Seu Manuel, espanhol nascido na Galícia que foi morar no Rio aos 17 anos, começou no Albamar como ajudante de garçom. Com o fim do mercado, demolido em 1963, ele e outros 17 funcionários fizeram uma cooperativa para salvar o restaurante. Hoje, ele gerencia o Albamar e trabalha sete horas por dia, com uma folga por semana, sempre às segundas.
Não hesite em escolher uma das mesas junto aos janelões e aproveite a vista da baía de Guanabara, da ilha Fiscal (famosa por ter abrigado o último baile imperial do Brasil), da ponte Rio-Niterói e da estação das barcas (que liga o Rio a Niterói e à ilha de Paquetá).
A vista está lá, os pratos remetem ao passado, mas o Albamar não esconde que é um sobrevivente. Como tal, não evitou certo desgaste. E tudo que poderia ter certo charme por ser antigo acabou ficando com pinta de ultrapassado.
Ir a um dos mais tradicionais restaurantes da cidade quando o assunto são pescados surpreende e decepciona. A surpresa - muito boa- são pratos como o filé de badejo à moda da casa (R$ 49), posta de peixe cozida com molho de camarões e mexilhões e regada com vinho branco; e o linguado à Albamar (R$ 52), feito com 600 g do peixe, batata corada, cebola e tomate fritos e camarãozinho. A decepção fica a cargo da casquinha de lagosta (a casquinha está lá, mas a lagosta...) e do ambiente. Entre prós e contras, não duvide: vale a visita.
Antes de pedir a conta, e encerrar a conversa recheada de histórias do Albamar com seu Manuel, escolha um licor - a carta é boa, com opções como Benedictine, Maraschino e Strega, a preços que variam de R$ 7 a R$ 12. Dispense a sobremesa indicada pela casa: o Coupe Camargo (R$ 9), versão de creme de papaia cuja estrela, no lugar do mamão, é o abacate.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)

ALBAMAR
Pça. Marechal Âncora, 186, centro; tel. 0/xx/21/2240-8378; funciona diariamente, das 11h30 às 18h
www.albamar.com.br



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