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BONS VELHINHOS
Aos 105, Albamar conquista com pescados
Torre circular solitária guarda bons pescados, vista da Guanabara e histórias de freqüentadores famosos
DA ENVIADA ESPECIAL
Para os não-iniciados, é difícil imaginar que o endereço esteja correto: uma solitária e incomum torre circular branca e
verde que, à distância, parece
abandonada. Erguida em 1903,
é a única estrutura que restou
do antigo mercado municipal
da praça Quinze. Nada nela parece abrigar um restaurante.
A impressão não muda na entrada, em que um sisudo porteiro encaminha os clientes até
o minúsculo elevador de porta
pantográfica. No piso superior,
o restaurante.
E se você tinha alguma dúvida de que almoçar no Albamar
seria uma viagem no tempo,
abra os pedidos com a saborosa
sopa de rã (R$ 29), que leva arroz e espinafre e pode ser dividida por duas pessoas.
Depois, puxe conversa com
Manuel Gil Gonzales, 76, gerente e um dos sócios do restaurante. Ele está ali há 58
anos. "Fora o Getúlio e o Dutra,
conheci e servi todos os presidentes do Brasil até o final da
ditadura militar", conta. "Lembro do Jango vindo passear
aqui com dona Maria Teresa,
na época sua namorada."
Seu Manuel, espanhol nascido na Galícia que foi morar no
Rio aos 17 anos, começou no Albamar como ajudante de garçom. Com o fim do mercado,
demolido em 1963, ele e outros
17 funcionários fizeram uma
cooperativa para salvar o restaurante. Hoje, ele gerencia o
Albamar e trabalha sete horas
por dia, com uma folga por semana, sempre às segundas.
Não hesite em escolher uma
das mesas junto aos janelões e
aproveite a vista da baía de
Guanabara, da ilha Fiscal (famosa por ter abrigado o último
baile imperial do Brasil), da
ponte Rio-Niterói e da estação
das barcas (que liga o Rio a Niterói e à ilha de Paquetá).
A vista está lá, os pratos remetem ao passado, mas o Albamar não esconde que é um sobrevivente. Como tal, não evitou certo desgaste. E tudo que
poderia ter certo charme por
ser antigo acabou ficando com
pinta de ultrapassado.
Ir a um dos mais tradicionais
restaurantes da cidade quando
o assunto são pescados surpreende e decepciona. A surpresa - muito boa- são pratos
como o filé de badejo à moda da
casa (R$ 49), posta de peixe cozida com molho de camarões e
mexilhões e regada com vinho
branco; e o linguado à Albamar
(R$ 52), feito com 600 g do peixe, batata corada, cebola e tomate fritos e camarãozinho. A
decepção fica a cargo da casquinha de lagosta (a casquinha está lá, mas a lagosta...) e do ambiente. Entre prós e contras,
não duvide: vale a visita.
Antes de pedir a conta, e encerrar a conversa recheada de
histórias do Albamar com seu
Manuel, escolha um licor - a
carta é boa, com opções como
Benedictine, Maraschino e
Strega, a preços que variam de
R$ 7 a R$ 12. Dispense a sobremesa indicada pela casa: o Coupe Camargo (R$ 9), versão de
creme de papaia cuja estrela, no
lugar do mamão, é o abacate.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
ALBAMAR
Pça. Marechal Âncora, 186, centro;
tel. 0/xx/21/2240-8378; funciona
diariamente, das 11h30 às 18h
www.albamar.com.br
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