São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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Comece no mercado e termine na cozinha

Blogueira que vive há 6 meses em Damasco cria tour turístico-gastronômico pela capital síria

DA ENVIADA À SÍRIA

Consultar guias ou dar um "google" não ajudaram muito na programação dessa viagem à Síria. Os guias sobre o país, mesmo nas maiores livrarias, simplesmente não existem em São Paulo. O jeito é encomendar pela internet.
Quanto aos sites, eles ainda trazem poucas informações consistentes sobre o turismo nos países árabes.
Fuça daqui, fuça dali, e a reportagem foi parar no blog de Kezia Frayjo, 29, nascida em Del Rio (Texas), criada na cidade de Acuna (Coahuila, no México), e há seis meses morando em Damasco.
Sabendo da dificuldade de encontrar informações relevantes sobre a Síria e já apaixonada pela cultura local, ela começou a escrever o blog "Why so Syria?" (www.whysosyria.com).
Depois de ler os posts e trocar mensagens com a blogueira, ficou mais fácil decidir em que região ficar.
A dica, aprovada, foi se hospedar perto de Bab Sharki e Bab Touma, um bom ponto de partida para ir até as atrações da Cidade Velha.
O hotel recomendado foi o Beit Zaman, em Straight street. "Ele fica na única rua citada nominalmente na Bíblia", diz Frayjo. Destaque para o ótimo café da manhã.
Além da excelente localização, os quartos são muito aconchegantes. Duas ressalvas que não comprometeram a estadia: havia um pequeno vazamento na pia e, por vezes, era difícil regular a água quente do chuveiro.
E um detalhe importante: Na hora de ir embora, o atendente do hotel não só não chamou o táxi como não ajudou a levar as malas.

TOUR GASTRONÔMICO
O primeiro encontro com Frayjo foi no bar After Seven, que fica pertinho do hotel, também na Straight street.
Ela acabara de formatar seu projeto de tour gastronômico por Damasco, o Damascus Fork Tour (www.damascusfork.com).
O roteiro consiste em conhecer os principais mercados, a deliciosa comida de rua da cidade, o principal distribuidor de especiarias e um banqueteiro local.
Passeio cujo ápice é a cozinha do hotel Beit Zafran. Ali, o chef Siwar Al-Bitar ensina a preparar especialidades sírias que serão servidas no seu almoço, no próprio hotel.
A reportagem realizou o primeiro tour de Frayjo. E aprovou. Passar por essa experiência custa 70 euros. Acompanhe como foi o passeio, feito com ela e sua assistente, Kinana Mamar, ao lado. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)

11:00

Souk Al Hamadiye
Mulheres de burca comprando lingeries (bem) provocantes. Ou amamentando no meio das compras, com os seios de fora no meio da multidão, apesar de o rosto e o resto do corpo estarem inteiramente cobertos.
Numa caminhada atenta pelo souk Al Hamadiye, um dos mercados mais antigos do mundo, o viajante se depara com cenas como essas. Desde sua última reforma, feita no século 19 a pedido do sultão otomano Abdul Hamid 2º, o mercado permanece idêntico.
Entrar ali é fazer uma viagem (política até) no tempo. Até o teto guarda história: tem uma infinidade de furos de bala feitos nos anos 1940, quando tropas francesas tentavam acabar com o levante árabe.
Experimente o boozah, o sorvete artesanal adorado pelos sírios e vendido numa loja chamada Bakdash.
Vá até o fundo da loja para conferir como é preparada a delícia. Nada de máquinas! Depois de misturados os ingredientes, o sorvete, feito de almécega e pó de salep (bulbo de orquídea), é socado com uma colher de pau gigante até chegar à consistência ideal, bem grudenta. E, na hora de servir, nada de colher! Os atendentes pegam o sorvete com as mãos -protegidas por luvas cirúrgicas.

11h50


Visita aos temperos
A próxima parada é para conhecer a Al Habbal, loja que fornece temperos para a maior parte das lojas e dos restaurantes de Damasco. Vale a pena comprá-los ali mesmo. Primeiro, pelo preço. Depois, pela qualidade.
Prova disso é a quantidade de mulheres locais que se aglomeram no balcão. Com elas, o visitante aprende como se compra temperos na Síria: colocando em pouquinho na mão e provando. Não tenha vergonha. É esperado que você faça isso.
Há três gerações com a mesma família, a loja faz ainda a preparação dos temperos. A americana residente na Síria Kezia Frayjo, que acompanhou a reportagem (leia texto ao lado, nesta página), nos conduz aos fundos da loja. É ali que o pessoal faz as misturas -a maioria usando zaatar como base.
Como em toda loja síria de donos muçulmanos, você encontrará só homens trabalhando. Vale lembrar que mulheres não devem cumprimentá-los com aperto de mão. Espere para ver como eles cumprimentam e repita o gesto.
Se der, sorte, o visitante encontrará Yasser Al Habba, o simpático dono. Se isso acontecer, ele convidará para um chá. Aceite. Recusar seria falta de educação, e você perderia um papo pra lá de agradável.

12h35

Comida de festa e velório
Nunca parar para provar um doce típico foi tão exótico. Não pelo doce, mas pelo contexto.
No dia em que a reportagem fez o tour gastronômico por Damasco, os cozinheiros do "neighborhood kitchen" ("cozinha da vizinhança", em português) estavam preparando comida para um velório.
E parecia comida para um batalhão -como toda refeição que é feita para uma família síria.
A ideia é ver o pessoal preparando a comilança, passo a passo. E levar alguns doces para comer depois do almoço, que será a próxima parada.

13h

Aula de culinária síria
A aula de culinária síria é dada pelo chef Siwar Al-Bitar, na cozinha do hotel Beit Zafran.
Foram preparados -e servidos -sete pratos. Entre eles, a muhamara (ao lado) e o harra esbao, uma salada de lentilhas servida com tomilho, cebola, pão pita tostado e massa com melaço de romã. De prato principal, lahmi b'sanieh, uma carne moída assada com pedaços de tomate.
De sobremesa, halawar jibn ma mourada al ward, uma massa de queijo e semolina com recheio de marmelada. Para acompanhar a refeição, é servido um vinho sírio: o Cotes de L'Orontes 2008.


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