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PREDICADOS DA CAPITAL
Protagonista de cena cultural em eterna renovação, metrópole zela por monumentos antigos
Esbanjando história, cidade busca o novo criando atrações
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
À beira do rio Tâmisa, Londres, com seus 8 milhões de habitantes, já foi Londinium,
quando em 55 a.C., o exército
romano invadiu a região e se
instalou em Southwark, bairro
onde atualmente estão a galeria
de arte Tate Modern, uma recriação do teatro shakespeareano The Globe e a roda-gigante London Eye.
Na marcha dos acontecimentos que edificaram a metrópole
(cujos sites de turismo oficiais
são www.visitbritain.com.br
e www. visitlondon.com), um
turbilhão de acontecimentos
políticos e culturais colocaram
a capital do Reino Unido no
centro do mundo.
Invadida pelos normandos,
em 1066; Londres teve na Torre de Londres uma das mais temíveis masmorras da Europa
na Era Elisabetana (1558-1603); esteve no epicentro de
uma guerra civil, deflagrada em
1642; enfrentou a peste negra e
ardeu em chamas, em 1666; e
foi a capital de um império "onde o sol nunca se punha", no
reinado da rainha Vitória, que
durou 63 anos, de 1837 a 1901.
Pioneira, inaugurou seu metrô, na verdade um trem subterrâneo (ou "Underground
Railway"), já em 1863.
Incansável, ouviu o poeta -e
autor do primeiro dicionário
de língua inglesa- Samuel
Johnson (1709-1784) cunhar o
bordão "quem se cansa de Londres, se cansa da vida".
Tempos modernos
Em 1922, a British Broadcasting Company (BBC) fez a primeira transmissão radiofônica
mundial ao vivo e, em todo o século 20, a liderança ideológica
irradiada pela capital inglesa
foi determinante para vencer
as duas Guerras Mundiais, que
ocorreram entre 1914 e 1918 e
de 1939 a 1945.
Depois, Londres assistiu,
embevecida e orgulhosa, Elizabeth 2ª chegar ao trono, em
1952 -e a coroou, em 1953,
diante das lentes de sir Cecil
Beaton, um mestre inglês da
cenografia e da fotografia.
Frenética, a metrópole protagonizou um mundo de transformações culturais que culminaram na explosão pop representada pelos Beatles, uma
banda de rock'n'roll nascida em
Liverpool e fadada a mudar o
mundo com suas singelas canções que falavam de amor.
E não parou aí: continuou a
rolar para não criar limo e virou
a "Swinging London", exibindo
sem pejo a minissaria de Mary
Quant, isso nos idos de 1968.
Entre 1979 e 1990, foi a vez de
Margaret Thatcher, alcunhada
"a dama de ferro", estrelar o papel de primeira primeiro-ministro britânica, num período
conservador em que empresas
foram privatizadas e ocorreu a
Guerra das Malvinas (1982).
Nessa guerra, os argentinos
levaram a pior ao reivindicar
um exíguo arquipélago quase
perdido no Atlântico Sul que os
ingleses insistem em chamar
de seu e, também, de Falklands.
Um novo milênio
Em 1994, pouco antes do início do século 21, foi inaugurado
o Eurotúnel, ligando Londres a
Paris por baixo do canal da
Mancha por meio de trem de
alta velocidade TGV.
E hoje, passadas quase seis
décadas da coroação da rainha
Elizabeth 2ª, episódios como a
morte da princesa Diana, num
acidente de automóvel em Paris, em 1997, não tiraram a força da realeza.
Crises à parte, a rainha -que
até virou ídolo pop em obra do
artista plástico norte-americano Andy Warhol e foi ainda retratada por Lucian Freud-,
continua firme no trono.
Em 2002, no jubileu de ouro
de seu reinado, uma multidão
cercou Buckingham para ver,
nos jardins do palácio, uma festa embalada por estrelas de
grandezas diversas, caso do ex-beatle Paul McCartney (sir desde 1995) e do metaleiro Ozzy
Osbourne, músico heavy metal.
Primeiro na linha de sucessão ao trono, o príncipe Charles
estava lá, chamou a rainha de
mamãe e deu nela um beijo.
A esquadrilha Red Arrows,
da Royal Air Force (RAF) sobrevoou o evento, mostrou que
não só "UK rules OK" (em tradução livre, o Reino Unido vai
bem) e que a rainha não estava
disposta a abdicar tão cedo.
Olho vivo
Outrora cinzenta e fora da jurisdição da chamada City, a região de Southwark, também
chamada de Southbank, onde
possivelmente alguns dos primeiros bancos do mundo surgiram, passou por uma revolução
urbanística e arquitetônica, se
transformando numa nova sala
de visitas londrina.
Ali, na margem oposta às casas do Parlamento e ao emblemático relógio Big Ben, a roda-gigante London Eye (www.londoneye.com), de 135 m de altura e 1.900 toneladas, normalmente recebe, das 9h30 às 22h,
mais de 10 mil turistas diariamente, mostrando, numa margem agitada do rio Tâmisa, a
torres e o Big Ben, a sudoeste; o
palácio de Buckingham, a coluna de Trafalgar Square encimada pela estátua do almirante
Nelson e a sala de concertos
Royal Albert Hall, a oeste; o
bairro boêmio de Covent Garden, a norte; a catedral de
St.Paul, de sir Christopher
Wren (1632-1723), o arquiteto
da Londres pós-Grande Incêndio, e a pós-moderna ponte do
Milênio, a leste, projeto de
Monberg Thornsen e sir Robert McAlpine que, aberta em
2000 para levar pedestres da
área de Bankside até a City, foi
refeita para corrigir um balanço indesejável.
Ao lado da roda-gigante London Eye, outro ícone da Londres de vanguarda é a Tate Modern (www.tate.org.uk), galeria de arte contemporânea que
herdou parte do acervo da velha Tate Gallery, rebatizada
com o nome de Tate Britain.
Concebida pelos arquitetos
suíços Pierre de Meuron e Jacques Herzog usando o mesmo
critério de regeneração urbana
que pautou o rejuvenescimento do bairro, a Tate Modern
ocupa o prédio da velha usina
termoelétrica desativada
Bankside Power, na margem
sul do Tâmisa, e se tornou um
dos maiores museus do gênero
e faz frente ao Centro Georges
Pompidou, o Beauburg, de Paris, e ao Museum of Modern
Art (MoMa), de Nova York.
Protagonista de uma cena
cultural que se renova, Londres
cultiva com igual zelo as instituições culturais de vanguarda
e, também, as mais sisudas e
tradicionais (veja a programação de museus nas págs F6 e
F7), caso do museu Britânico e
do museu Victoria & Albert.
E, permanentemente, cria
atrações, caso da estátua de aço
do escultor indiano radicado
na cidade Anish Kapoor, programada para ser uma das mais
altas do planeta, com 120 m.
Há inúmeros teatros na área
atrás de Piccadilly Circus e, na
Gerrard Street, rua no coração
de Chinatown, atrás do distrito
teatral, restaurantes chineses
dividem a cena com animados
mercadinhos orientais.
Para escolher uma peça clássica ou um animado musical
entre os espetáculos em cartaz,
visite o site www.officiallondontheatrhe.co.uk.
Conservadora, mas liberal
Se na política o recente embate eleitoral derrotou o trabalhista Gordon Brown e colocou
o conservador David Cameron
no cargo de primeiro-ministro
e o liberal-democrata Nick
Clegg como vice, na mais disputada eleição da recente história
inglesa, na vida mundana Londres é uma vitrina das vanguardas e do cosmopolitismo.
As plataformas dos candidatos a primeiro-ministro eram
até parecidas -e o que importa
agora é saber se o novo governo
conseguirá cortar gastos públicos e driblar a estagnação.
Correndo por fora das crise, a
indústria do turismo ganha peso, já que geram divisas e é um
cartão de visitas do país.
Embora a admissão de viajantes seja vigilante no aeroporto de Heathrow, porta de
entrada dos voos que chegam
do Brasil, a Inglaterra não exige
visto de entrada dos brasileiros,
mas, diante da sombra de crise
econômica, o país deve endurecer critérios de admissão e barrar visitantes que sejam virtuais candidatos a subempregos para extender, ilegalmente,
sua estada por lá.
Se você não tem o que temer,
vá em frente: escolha Londres
como destino da sua próxima
viagem e tenha em mãos, ao
chegar, documentos mostrando a reserva de hotel, cartões de
crédito e até o voucher do curso
de inglês que pretende fazer.
Confira, na arte ao lado, algumas das histórias dessa metrópole agiornada de inúmeros sujeitos e de infinitos predicados.
(SILVIO CIOFFI)
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