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2 X BRASIL (MS)
Observando nativos, aprende-se a procurar sinais de animais; onça é o bicho mais popular, mas é raro vê-la
Pantaneiro ensina a aguçar os sentidos
HELOISA LUPINACCI
ENVIADA ESPECIAL AO PANTANAL (MS)
À primeira vista, o recém-chegado ao Pantanal observa uma
paisagem aberta. O céu de 180 é
de azul intenso-especialmente
para quem chega de São Paulo,
capital-, uma ou outra árvore se
retorce para espiar o forasteiro,
um lago anuncia que logo mais
secará, dando lugar a um trecho
de terra recortado em pedaços.
Os sons parecem difusos. O
Pantanal é polifônico. De uma
orelha à outra, ouvem-se pios, gritos, grasnadas e cantos.
Mas é difícil achar os bichos.
Uns poucos são fáceis de ver: jacarés ficam parados boquiabertos
nas corredeiras à espera de peixes,
que caem direto nas suas goelas.
Araras-azuis, ameaçadas de extinção, são abundantes por aqui e
passam no céu em casais ou trios,
gritando, enormes.
Mas e a onça, a anta, o tamanduá-bandeira e o tatu? E a infinidade de aves?
Para avistar esses animais é preciso treinar os olhos. E a melhor
maneira de fazer isso é observando o modo de agir dos locais.
Os pantaneiros antes de mais
nada são pacientes e argutos. Procuram pelos sinais dos bichos, em
vez de querer logo dar de cara
com eles. Além disso, têm um
olhar mais afinado, que mira as
copas das árvores, os arbustos, as
áreas descampadas.
Esse talvez seja o maior aprendizado que se tem aqui: voltar o
olhar para os detalhes. Não que isso descarte apreciar a paisagem
como um todo. Mas, depois de
embasbacar com o visual pantaneiro, após um tempo de estada
na região, o viajante passa a procurar em galhos as caturritas. Volta os olhos para arbustos antes ignorados em busca de um rabicó,
uma pata ou qualquer outro pedaço de algum animal. Busca ouvir sinais, sentir cheiros. Observa,
paciente, as poças, para avistar os
variados íbis, com seus bicos curvados, que parecem canudinhos.
A imensidão dessas paisagens,
tomadas por grandes áreas abertas, convida à calma. Mas a angústia por conseguir ver os animais
mais cobiçados não vai embora.
"Big five" do Pantanal
Assim como os safáris africanos, o Pantanal tem os seus "big
five", os cinco animais mais cobiçados. São eles: a onça pintada
-campeã de popularidade-, a
sucuri, a onça-parda -também
chamada de puma-, a jaguatirica e a anta -o maior mamífero
original da América do Sul.
Todos esses são difíceis de ver.
Mas o restante da fauna não deixa
o visitante desapontado.
Para ficar só nos pássaros, que
atraem birdwatchers de todo o
mundo à região, avistam-se garças-maguari -a maior garça da
América do Sul, tuiuiús enormes
e desengonçados, papagaios-verdadeiros, periquitos-de-cabeça-preta, araras-azuis e a glamourosa
andorinha-do-rio, toda branca
com detalhes em verde metálico.
O tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, é uma das maiores da América do Sul e encanta com a sua falta
de elegância.
Entre os mamíferos, vêem-se tamanduás-bandeira aos montes,
com aqueles rabos felpudos que
parecem um cobertor, cutias fazendo jus à música infantil que
diz "corre, cutia", pois, sempre
que se avista uma, ela já saiu em
disparada, lobinhos -espécie de
cachorro-do-mato conhecido em
inglês como raposa comedora de
caranguejo-, tatus, capivaras.
Após ver tantos bichos, é quase
possível esquecer que a onça não
deu as caras.
Heloisa Lupinacci viajou a convite do
Refúgio Ecológico Caiman e da Gol Linhas Aéreas Inteligentes
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