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SABOR PARÁ
Tacacá apresenta ao turista a mistura do tucupi, caldo da mandioca-brava, com o jambu, primo do agrião
Boca tremelica com a "elétrica" comida regional
DA ENVIADA ESPECIAL A BELÉM
Nenhum sabor é familiar nos
pratos paraenses. O tucupi e o
jambu, os temperos mais típicos do Estado, fazem essa comida regional dar a sensação de
uma espécie de carga elétrica.
A maneira mais radical de experimentar essa "eletricidade"
é provando o tacacá. Trata-se
de um caldo feito de tucupi com
jambu e goma de mandioca. O
tacacá parece um missoshiro
que passou por uma corrente
de 220 volts. Ele deixa a boca
toda tremelicando. E lá no fundo da tigela ainda tem alguns
camarões.
Quem tem ressalvas a texturas estranhas pode pedir seu tacacá sem goma. Porque ela é
bem esquisita, tem uma textura
mesmo de baba. A goma é extraída da mandioca no mesmo
processo que gera o tucupi, o
caldo dessa raiz.
A mandioca-brava é uma prima da mandioca normal, mas
em versão venenosa.
Papilas
É preciso separar os efeitos
do tucupi das conseqüências do
jambu. O tucupi é uma espécie
de trava, que atiça as laterais da
língua. Deixa a boca se estranhando. O jambu, vegetal primo do agrião, anestesia, faz a
boca formigar, o que dá a sensação de que está tudo tremendo.
Como os dois vêm quase sempre juntos, o resultado é que a
boca se estranha por dentro enquanto tremelica.
Apesar de o prato mais famoso do Pará ser o pato no tucupi,
a grande oferta de peixes convida a provar o filhote preparado
com o tempero. Esse peixe tem
uma carne tenra, bem clara e
pedaçuda. Quando uma carne é
servida no tucupi, ela é preparada toda antes e só no final é
cozinha um pouco com o caldo
amarelado.
Lama
A maniva, planta cuja raiz é a
mandioca-brava, é inteira
aproveitada na cozinha paraense. Esse prato fica sete dias no
fogo. Tudo começa com a folha,
que é pilada -para tirar o sumo, venenoso- e colocada para
cozinhar. Ela fica sozinha na
panela por três dias, cozinhando. Depois são acrescentadas as
carnes, as mesmas que vão na
feijoada. E fica tudo cozinhando por mais quatro dias.
O resultado é uma comida
preta, pouco convidativa, uma
vez que as folhas viram migalhas, que se misturam ao caldo
formando uma gororoba com
cara de lama. Para fãs de sabores intensos, é um prato cheio.
Um pouquinho de farinha-d'água, farinha feita com a
mandioca-brava, e arroz completam a refeição.
Essa farinha e o feijão-manteiguinha são os melhores
acompanhamentos dessa culinária. A farinha é crocante, com
fragmentos graúdos, entre os
da farinha de rosca e os da de
milho. O feijão é miudinho,
bem oval e derrete na boca
-daí vem seu nome. Ele vem,
em geral, em forma de salada,
fresquinho. É um descanso para o paladar, que, após alguns
minutos de refeição, começa a
sofrer de pequenos espasmos.
Ao final de uma refeição, a
primeira palavra que vem à cabeça para definir essa comida é
eletrizante.
(HELOISA LUPINACCI)
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