São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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RAÍZES
Professora fugiu do Holocausto
Polonesa retorna ao palco da dor

free-lance para a Folha

Foi necessário meio século para a professora polonesa naturalizada brasileira Henrietta Braun, 67, retornar ao seu país.
A viagem aconteceu em junho do ano passado. Nascida numa família judaica na Cracóvia, ela foi criada em Katowice e sobreviveu ao Holocausto.
"Apesar das mágoas, nunca perdi as raízes polonesas, o idioma e a cultura", explica.
"Fiquei no gueto de Stanislawów, na Polônia, de 1942 a 1944, e só consegui sobreviver porque obtive documentos falsos com outro nome, Ewa Rysiek, e outra religião, a católica", afirma Henrietta.
Antes de voltar à Polônia, ela se encontrou na Suécia com a sua companheira de viagem, a prima Ada Wolfstein, 73. "Uma parente que tenho em Paris me disse que ela havia sobrevivido, fato que desconhecia", recorda.
Infância feliz
"A emoção começou quando entrei no avião da Lot (empresa aérea polonesa)", lembra Henrietta.
Em Katowice, ela foi visitar o ginásio onde estudou. "Achei minha classe e pensei, como num "flashback': será que vou encontrar a minha professora?"
Na mesma cidade, ela localizou o prédio onde viveu com a família. "Antes da guerra, funcionava no primeiro andar um fino salão de chá, onde todas as tardes eu ia ver a minha avó. Os garçons usavam até luvas brancas para servir."
No segundo andar ficava o apartamento de Henrietta, com cinco quartos. Hoje funciona uma empresa de informática.
"Foi uma emoção indescritível, pois relembrei uma fase muito feliz da minha infância."
"Nenhum funcionário nos perguntou nada, parece que eles sabiam que eu tinha vivido naquele imóvel", afirma.
Além do aspecto de reencontro com o passado, Henrietta e sua prima também visitaram pontos turísticos na Cracóvia.
Elas foram à famosa mina de sal de Wieliczka, nas proximidades da cidade. "É um passeio imperdível: há esculturas de sal, uma igreja onde até hoje são celebrados casamentos e um hospital para tratamento de pessoas com doenças respiratórias, que não permite a entrada de turistas."
Henrietta dá uma dica de um restaurante na Cracóvia. É o Ariel, que serve comida casher (que obedece a normas alimentícias judaicas) e não-casher. "Além de bons pratos, há um animado conjunto ucraniano que canta músicas populares em iídiche, ucraniano, polonês e russo." O endereço é rua Szeroka, 18. (CSc)



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