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AUTOFAGIA À PAULISTA
Cidade organizou movimento contra a monarquia e oferta edifícios do século 19 e igrejas
"Roma brasileira", Itu arrebanha Império e República
DO ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DE SP
Itu (www.itu.sp.gov.br), distante 103 km de São Paulo, foi
fundada em 1610, passou pelos ciclos das bandeiras, da cana-de-a-
çúcar e do café e é hoje o maior
dos oito municípios do Roteiro
dos Bandeirantes: tem 150 mil habitantes, boa infra-estrutura e um
centro histórico bem razoável.
Cheia de fazendas abertas aos
turistas no seu entorno, entre as
quais a do Chocolate (www.fazendadochocolate.com.br),
que, remanescente do século 18,
oferece trilhas e passeios a cavalo,
a cidade encerra respeitável repertório de arquitetura imperial.
Construído em 1850 e reformado em 1867, o sobrado da família
de Carlos e de José Vasconcelos
de Almeida Prado, por exemplo,
abriga o Museu Republicano
"Convenção de Itu" (www.mp.usp.br/mr, tel. 0/xx/11/4023-0240), inaugurado em 1923 e ligado à Universidade de São Paulo
(USP) desde 1963.
Há ali um acervo de móveis e
quadros que reconta a efervescência republicana ocorrida em 1873.
Em 18 de abril desse ano, realizou-se a reunião de fazendeiros, comerciantes e profissionais liberais
ligados ao café que redundaria na
criação do PRP (Partido Republicano Paulista) 16 anos antes de
ocorrer a Proclamação da República. A entrada é franca.
Do mesmo período, o Regimento Deodoro, construção de 1867,
deu guarida ao Colégio São Luís
até 1917, quando a instituição foi
transferida para a avenida Paulista, na capital. Desde 1918, o imóvel
ituano hospeda o quartel do Exército. A Casa Imperial, de 1881,
acolheu membros do clã Orleans
e Bragança em 1884.
Recuando alguns séculos, a inspiração bandeirante volta à tona
na Chácara do Rosário, de 1756,
então adquirida por um sobrinho
de Borba Gato e ora pertencente a
um descendente do explorador.
As visitas de grupos a essa propriedade particular, distante 1,5
km do centro, na estrada que liga
Itu a Salto, devem ser agendadas
pelo tel. 0/xx/11/4023-0624.
Anjo mulato
Se o aparato profano não for suficiente para convencer o visitante, Itu se desdobra e oferta também uma série de relíquias sacras.
Menos recorrente do que a imagem de que tudo por ali tem dimensões exageradas, o título de
"Roma brasileira" é atribuído à cidade em virtude da grande quantidade de igrejas que possui.
Entre os exemplares locais da fé
católica, estão a igreja matriz Nossa Senhora da Candelária, de
1780, com mudanças arquitetônicas subseqüentes, e a igreja de
Santa Rita de Cássia, de 1728. O
conjunto da igreja, do convento e
do seminário de Nossa Senhora
do Carmo é um outro ponto interessante. O templo foi inaugurado
em 1782. Em 1828, a primeira torre da igreja ruiu. A atual, de 1861,
assemelha-se a uma fortaleza.
O interior do prédio foi todo decorado com pinturas a óleo do padre Jesuíno do Monte Carmelo, o
mais importante nome das artes
plásticas paulistas no período colonial. Mestiço, ele pintou ali intencionalmente um anjo mulato,
forma cifrada de protestar contra
a discriminação racial.
Em 1797, quatro anos após ficar
viúvo, Jesuíno, que era também
mestre-de-obras, ordenou-se padre. Ele projetou a igreja do Patrocínio, atualmente algo descaracterizada, e morreu em 1819. A igreja
foi inaugurada um ano depois por
seus filhos, também ordenados.
(PEDRO IVO DUBRA)
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