São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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"É uma das cidades mais cosmopolitas do mundo"

Atual candidato a prefeito do Rio de Janeiro, ex-guerrilheiro viveu as transformações da metrópole

DA REDAÇÃO

O deputado Fernando Gabeira (PV), 66, morou duas vezes em Berlim. A primeira no começo dos anos 70, como exilado político, e a segunda nos anos 90, como correspondente da Folha. A seguir, ele conta como foi viver na cidade antes e depois da queda do muro.

 

FOLHA - Historicamente, qual era o cenário de Berlim no primeiro período em que o senhor viveu lá?
FERNANDO GABEIRA
- No começo da década de 70 eu morava lá de forma clandestina. Fiquei mais ou menos um ano vendendo livros na porta da universidade e encadernando um jornal de esquerda. Com esses trocados eu ia vivendo. Berlim já era uma cidade cosmopolita, mas ainda considerada sem futuro, muito marcada pela Guerra Fria e muito dividida. A gente costumava atravessar para o lado Oriental para comprar discos e livros, mais baratos lá.

FOLHA - E como estava a cidade quando o senhor voltou?
FERNANDO GABEIRA
- Houve uma diferença radical no sentido de que continuava cosmopolita, mas já havia um processo de revolução na construção civil, uma recuperação de prédios, de praças. O epicentro dessas mudanças era Potsdamerplatz. Era um espaço que estava sendo reformulando. Estavam querendo mostrar aos turistas como seria a Berlim do futuro. Já havia também investimentos do capital internacional.

FOLHA - Uma transformação bem-sucedida na sua opinião?
FERNANDO GABEIRA
- Eu pensava que, com a queda do muro, Berlim seria, necessariamente, a capital da Europa. Antes da queda, as vidas eram diferentes. Depois houve muita insegurança por parte de quem vivia no mundo comunista por não saber exatamente como iria sobreviver no mundo competitivo, perdendo algumas garantias dadas pelo regime socialista. Mas havia também uma imensa curiosidade e um imenso desejo de prosperidade que o mundo socialista não podia oferecer. Então, por muito tempo você tinha pessoas querendo se integrar de todas as maneiras e outras um pouco saudosistas em relação ao período anterior. Também surgiram já na Alemanha Oriental vários movimentos de direita. Eu mesmo cobri manifestações de skinheads e contra estrangeiros, o que não era comum.

FOLHA - Como o lado Oriental começou a se erguer?
FERNANDO GABEIRA
- Durante um período muito grande, a Alemanha teve de investir na Alemanha Oriental. Houve necessidade de investimento e eu percebi aos poucos que o lugar foi assumido outras características. Começava a ser o lugar da moda. Eu freqüentei um bar chamado Favela, de brasileiros que tentavam reconstruir um pouco a atmosfera de uma birosca de favela do Rio. Em cada lugar que você olhava havia obra, um prédio sendo renovado, e grandes empresas procuraram se instalar lá.

FOLHA - Qual o lugar imperdível?
FERNANDO GABEIRA
- Acho que é Potsdamerplatz, que marca o reerguimento da cidade.

FOLHA - Se desse para resumir Berlim em uma frase, qual seria?
FERNANDO GABEIRA
- Eu diria que é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. (PPR)


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