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"É uma das cidades mais cosmopolitas do mundo"
Atual candidato a prefeito do Rio de Janeiro, ex-guerrilheiro viveu as transformações da metrópole
DA REDAÇÃO
O deputado Fernando Gabeira (PV), 66, morou duas vezes
em Berlim. A primeira no começo dos anos 70, como exilado político, e a segunda nos
anos 90, como correspondente
da Folha. A seguir, ele conta
como foi viver na cidade antes
e depois da queda do muro.
FOLHA - Historicamente, qual era o
cenário de Berlim no primeiro período em que o senhor viveu lá?
FERNANDO GABEIRA - No começo
da década de 70 eu morava lá de
forma clandestina. Fiquei mais
ou menos um ano vendendo livros na porta da universidade e
encadernando um jornal de esquerda. Com esses trocados eu
ia vivendo. Berlim já era uma
cidade cosmopolita, mas ainda
considerada sem futuro, muito
marcada pela Guerra Fria e
muito dividida. A gente costumava atravessar para o lado
Oriental para comprar discos e
livros, mais baratos lá.
FOLHA - E como estava a cidade
quando o senhor voltou?
FERNANDO GABEIRA - Houve uma
diferença radical no sentido de
que continuava cosmopolita,
mas já havia um processo de revolução na construção civil,
uma recuperação de prédios, de
praças. O epicentro dessas mudanças era Potsdamerplatz.
Era um espaço que estava sendo reformulando. Estavam
querendo mostrar aos turistas
como seria a Berlim do futuro.
Já havia também investimentos do capital internacional.
FOLHA - Uma transformação bem-sucedida na sua opinião?
FERNANDO GABEIRA - Eu pensava
que, com a queda do muro, Berlim seria, necessariamente, a
capital da Europa. Antes da
queda, as vidas eram diferentes. Depois houve muita insegurança por parte de quem vivia no mundo comunista por
não saber exatamente como
iria sobreviver no mundo competitivo, perdendo algumas garantias dadas pelo regime socialista. Mas havia também
uma imensa curiosidade e um
imenso desejo de prosperidade
que o mundo socialista não podia oferecer. Então, por muito
tempo você tinha pessoas querendo se integrar de todas as
maneiras e outras um pouco
saudosistas em relação ao período anterior. Também surgiram já na Alemanha Oriental
vários movimentos de direita.
Eu mesmo cobri manifestações
de skinheads e contra estrangeiros, o que não era comum.
FOLHA - Como o lado Oriental começou a se erguer?
FERNANDO GABEIRA - Durante um
período muito grande, a Alemanha teve de investir na Alemanha Oriental. Houve necessidade de investimento e eu
percebi aos poucos que o lugar
foi assumido outras características. Começava a ser o lugar da
moda. Eu freqüentei um bar
chamado Favela, de brasileiros
que tentavam reconstruir um
pouco a atmosfera de uma birosca de favela do Rio. Em cada
lugar que você olhava havia
obra, um prédio sendo renovado, e grandes empresas procuraram se instalar lá.
FOLHA - Qual o lugar imperdível?
FERNANDO GABEIRA - Acho que é
Potsdamerplatz, que marca o
reerguimento da cidade.
FOLHA - Se desse para resumir Berlim em uma frase, qual seria?
FERNANDO GABEIRA - Eu diria que
é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo.
(PPR)
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