São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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LITERATURA

Livro narra biografia da mulher de Caramuru, índia que passou por locais como Rio Vermelho e Itaparica
Salvador é cenário de romance sobre Catarina Paraguaçu

PALOMA VARÓN
DA REDAÇÃO

A índia tupinambá Catarina Paraguaçu tem o seu nome definitivamente ligado à história da formação do Brasil, que começa na Bahia. A importância da índia nas plagas baianas pode ser medida pelas referências à sua figura em Salvador. Catarina é a mãe de alguns dos primeiros mestiços entre brancos e índios do Brasil.
É disso que trata o livro "Catarina Paraguaçu - A Mãe do Brasil", do escritor e jornalista Tasso Franco. O livro conta, de forma romanceada, o encontro da índia com o náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e como, juntos, eles iniciaram a construção da cidade de Salvador.
A história narrada por Franco começa em 1509, com o naufrágio do português na localidade de Maiririquiig (atual largo da Mariquita, no bairro do Rio Vermelho), próximo à baía de Todos os Santos (descoberta em 1501 por Américo Vespúcio).
Correia foi acolhido pela tribo tupinambá, que habitava o local, e chamado de Caramuru, nome que designa uma espécie de moréia. Caramuru -que teve a sua história contada na série de TV e no filme "Caramuru - A Invenção do Brasil", ambos de Guel Arraes- viveu com os índios tupinambás e teve filhos com muitas nativas, incluindo Moema, celebrizada no "Poema Épico do Descobrimento da Bahia" (1781), de Santa Rita Durão. No poema, o desespero de Moema, que, abandonada por Caramuru, tenta seguir a nado o navio que o leva à França (para se casar com Catarina Paraguaçu), é um dos pontos mais dramáticos.
Após alguns anos na Bahia, integrado aos costumes indígenas e comercializando pau-brasil com navegadores franceses, Caramuru ajudou uma tribo da ilha de Itaparica a vencer uma batalha na ilha do Medo (ambas as ilhas ficam na baía de Todos os Santos, perto da capital baiana) e ganhou, como gratificação, o direito de se casar com a filha do cacique.
Nascida em Itaparica, Catarina foi levada à aldeia onde Caramuru morava, que ficava no atual bairro da Barra. Lá passou a morar com ele e, juntos, tiveram muitos filhos. O português, que já tinha filhos de Moema e outras índias, levou Catarina para a França para que ela fosse batizada no catolicismo e eles pudessem se casar.
Em 1528, Catarina Paraguaçu teria sido a primeira brasileira a ser batizada pela Igreja Católica (há uma cópia da sua certidão de batismo na Arquidiocese de Salvador). A índia foi batizada em Saint-Malo, na França, com o nome de Catherine du Brésil (Catarina do Brasil) e se casou com o português na mesma igreja.
Ao voltar ao Brasil, a índia passou a vivenciar a fé católica e teria tido uma visão na qual a Virgem Maria lhe pedia a construção de uma capela em seu louvor.Catarina então construiu a igreja da Graça no bairro de mesmo nome, onde foi sepultada após a sua morte, em 1587. A visão é retratada num óleo de Manoel Lopes Rodrigues e faz parte do Arquivo Público do Estado da Bahia.
Com a implantação das capitanias hereditárias em 1534, o donatário Francisco Pereira Coutinho passou a ameaçar a convivência dos índios e os negócios de Caramuru, cuja influência sobre os índios diminuiu. Em 1549, Tomé de Sousa -designado governador-geral do Brasil pelo rei de Portugal- chegou ao porto da Barra para fundar Salvador.


"Catarina Paraguaçu - A Mãe do Brasil" - De Tasso Franco; editora Relume Dumará, 150 págs., R$ 24.


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