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AMAZÔNIA DE A A Z
Selva revelou o documentarista pioneiro
"O Cineasta da Selva" resgata a história de Silvino Santos, que filmou a Amazônia no início do século 20
DA ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
Que a região amazônica é
uma verdadeira vedete de documentários não é novidade. O
que muitos não sabem é que a
região revelou o pioneiro dos
documentários brasileiros, Silvino Santos (1886-1970), que
registrou a Amazônia no início
do século 20.
Nascido em Portugal, Santos
teve sua memória resgatada no
documentário "O Cineasta da
Selva" (1997), de Aurélio Michiles, com José de Abreu e Denise Fraga, cuja versão em DVD
foi lançada na edição deste ano
do festival "É Tudo Verdade".
"Silvino Santos foi o primeiro
a mostrar a Amazônia em película", diz o cineasta Júlio Rodrigues, que assina o roteiro
com Michiles. "Ele foi inovador
inclusive na parte técnica. Fazia panorâmicas em uma época
em que isso era muito difícil",
completa Rodrigues (que também é engenheiro e hoteleiro).
"O tempo passa e o legado de
Silvino Santos só faz aumentar,
na medida que se destrói a paisagem, que a população muda
de figura", analisa Michiles.
Natural da freguesia lusa de
Cernache de Bonjardim, de onde saiu em 1899, Silvino Santos
veio tentar a vida no Brasil, morando em Belém e depois em
Manaus. Fotógrafo, ele se interessou pela invenção tecnológica de então, que registrava imagens em movimento: o cinema.
Santos caiu nas graças de um
poderoso seringalista peruano,
Julio Cesar Arana, acusado de
escravizar e assassinar índios
nos seringais. Percebendo que
o cinema podia ser um grande
trunfo de propaganda, Arana
enviou Santos a Paris, onde ele
passou pela Pathé e pelo laboratório dos irmãos Lumière.
De volta ao Brasil, Santos filmou os seringais de Arana e
não parou mais. Seu segundo
filme, um documentário sobre
o Amazonas, acabou perdido.
Foi a terceira película de Santos, "O Paiz das Amazonas"
(1922), que projetou seu nome.
O documentário foi exibido em
Paris e outros locais da Europa.
Durante as filmagens de "No
Rastro do El-dorado", entre
1925 e 1927, que acompanhou a
expedição de Alexandre Hamilton Rice, a habilidade do cineastra para driblar as dificuldades durante as filmagens ficou patente.
Aproveitando o oco formado
pelas raízes de uma samaúma,
ele usou lona para improvisar
um laboratório para revelar
seus filmes em plena selva.
A carreira de Santos acabou
sofrendo com o declínio da borracha. "Ele começou a perder
patrocínio, não conseguiu mais
filmar", diz Rodrigues. Um ano
antes de sua morte, em 1970,
Santos foi homenageado no
primeiro Festival Norte de Cinema Brasileiro.
E a trajetória de Silvino Santos voltou a ficar longe dos holofotes até ser novamente resgatada em "O Cineasta da Selva". Se o futuro guarda mais reconhecimento ao pioneiro do
cinema na Amazônia, só o tempo dirá. "No mundo acadêmico
há várias teses, acho que cada
vez mais coisa vai surgir", diz
Michiles.
(MARINA DELLA VALLE)
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