São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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AMAZÔNIA DE A A Z

Selva revelou o documentarista pioneiro

"O Cineasta da Selva" resgata a história de Silvino Santos, que filmou a Amazônia no início do século 20

DA ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Que a região amazônica é uma verdadeira vedete de documentários não é novidade. O que muitos não sabem é que a região revelou o pioneiro dos documentários brasileiros, Silvino Santos (1886-1970), que registrou a Amazônia no início do século 20.
Nascido em Portugal, Santos teve sua memória resgatada no documentário "O Cineasta da Selva" (1997), de Aurélio Michiles, com José de Abreu e Denise Fraga, cuja versão em DVD foi lançada na edição deste ano do festival "É Tudo Verdade".
"Silvino Santos foi o primeiro a mostrar a Amazônia em película", diz o cineasta Júlio Rodrigues, que assina o roteiro com Michiles. "Ele foi inovador inclusive na parte técnica. Fazia panorâmicas em uma época em que isso era muito difícil", completa Rodrigues (que também é engenheiro e hoteleiro).
"O tempo passa e o legado de Silvino Santos só faz aumentar, na medida que se destrói a paisagem, que a população muda de figura", analisa Michiles.
Natural da freguesia lusa de Cernache de Bonjardim, de onde saiu em 1899, Silvino Santos veio tentar a vida no Brasil, morando em Belém e depois em Manaus. Fotógrafo, ele se interessou pela invenção tecnológica de então, que registrava imagens em movimento: o cinema.
Santos caiu nas graças de um poderoso seringalista peruano, Julio Cesar Arana, acusado de escravizar e assassinar índios nos seringais. Percebendo que o cinema podia ser um grande trunfo de propaganda, Arana enviou Santos a Paris, onde ele passou pela Pathé e pelo laboratório dos irmãos Lumière.
De volta ao Brasil, Santos filmou os seringais de Arana e não parou mais. Seu segundo filme, um documentário sobre o Amazonas, acabou perdido.
Foi a terceira película de Santos, "O Paiz das Amazonas" (1922), que projetou seu nome. O documentário foi exibido em Paris e outros locais da Europa.
Durante as filmagens de "No Rastro do El-dorado", entre 1925 e 1927, que acompanhou a expedição de Alexandre Hamilton Rice, a habilidade do cineastra para driblar as dificuldades durante as filmagens ficou patente.
Aproveitando o oco formado pelas raízes de uma samaúma, ele usou lona para improvisar um laboratório para revelar seus filmes em plena selva.
A carreira de Santos acabou sofrendo com o declínio da borracha. "Ele começou a perder patrocínio, não conseguiu mais filmar", diz Rodrigues. Um ano antes de sua morte, em 1970, Santos foi homenageado no primeiro Festival Norte de Cinema Brasileiro.
E a trajetória de Silvino Santos voltou a ficar longe dos holofotes até ser novamente resgatada em "O Cineasta da Selva". Se o futuro guarda mais reconhecimento ao pioneiro do cinema na Amazônia, só o tempo dirá. "No mundo acadêmico há várias teses, acho que cada vez mais coisa vai surgir", diz Michiles. (MARINA DELLA VALLE)


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