São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÉROLAS AO MAR

Pintor largou a Europa para viver de arte nas ilhas; museu em Papeete retrata história conturbada do artista

Gauguin é garoto-propaganda polinésio

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA POLINÉSIA FRANCESA

Eugène-Henri Paul Gauguin deixava sua mulher Mett Gad e seus cinco filhos e rumava para a Polinésia Francesa num dia de abril de 1891: "Vou embora para viver em paz, longe da civilização". E subiu no barco.
O pintor francês acabou se tornando o maior garoto-propaganda dessas ilhas.
O Museu Paul Gauguin, em Papeete, embora tenha só um quadro original, traça um perfil bem completo do artista. Descobre-se o Gauguin que talha madeira, que faz seus próprios instrumentos de cozinha e o bon vivant que vive com adolescentes.
O visitante se surpreenderá ao descobrir que seus mais famosos quadros foram inspirados, quase copiados, de pinturas japonesas, desde o "Ta Matete" até a genial "Garota de Leque".
Filho de um jornalista francês casado com uma peruana e neto de uma famosa revolucionária desse país, Flora Tristán, nesses tempos já uma férrea feminista e socialista, Gauguin jamais conseguiu ter equilíbrio econômico.
Foi marinheiro e navegou por quatro anos, trabalhou na bolsa de comércio, em Paris, e foi vendedor na Dinamarca, país natal de sua mulher, mas seu sonho sempre foi viajar ao Taiti, coisa que logrou em 1891.
Instalou-se em Papeete, uniu-se a uma jovem mestiça e pretendia viver da pintura. Mas, não conseguindo sobreviver da sua arte, retornou a Paris quatro anos depois. Ele esperava que seu talento fosse reconhecido e que o tempo de vacas gordas chegasse, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Dois anos depois, retornou ao Taiti desesperado, sifilítico e alcoólatra. Engajou-se numa campanha em favor dos nativos, razão que o levou a ter sérios problemas com as autoridades.
Saiu do Taiti na calada da noite em direção às ilhas Marquesas. Chegou ao povoado de Atuona, na ilha de Hiva Oa, construiu uma confortável "fare", casa típica polinésia, a qual batizou como a Mansão do Prazer, e lá viveu com uma mulher muito jovem.
Envolveu-se novamente com a justiça e foi preso. Ao sair, com a saúde debilitada, quase sem poder caminhar, com dores insuportáveis nas pernas e consumindo morfina para suportá-las, morreu de ataque cardíaco em 8 de maio de 1903. Como na história de muitos grandes artistas, fama e riqueza chegaram tarde demais. Cruel ironia. Hoje o valor de um par de quadros de Gauguin bastaria para ele viver confortavelmente. (JAIME BORQUEZ)


Texto Anterior: Pérolas ao mar: Navio é melhor meio de explorar a região
Próximo Texto: Ilhas seduziram de escritor a cantor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.