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PÉROLAS AO MAR
Pintor largou a Europa para viver de arte nas ilhas; museu em Papeete retrata história conturbada do artista
Gauguin é garoto-propaganda polinésio
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA POLINÉSIA FRANCESA
Eugène-Henri Paul Gauguin
deixava sua mulher Mett Gad e
seus cinco filhos e rumava para a
Polinésia Francesa num dia de
abril de 1891: "Vou embora para
viver em paz, longe da civilização". E subiu no barco.
O pintor francês acabou se tornando o maior garoto-propaganda dessas ilhas.
O Museu Paul Gauguin, em Papeete, embora tenha só um quadro original, traça um perfil bem
completo do artista. Descobre-se
o Gauguin que talha madeira, que
faz seus próprios instrumentos de
cozinha e o bon vivant que vive
com adolescentes.
O visitante se surpreenderá ao
descobrir que seus mais famosos
quadros foram inspirados, quase
copiados, de pinturas japonesas,
desde o "Ta Matete" até a genial
"Garota de Leque".
Filho de um jornalista francês
casado com uma peruana e neto
de uma famosa revolucionária
desse país, Flora Tristán, nesses
tempos já uma férrea feminista e
socialista, Gauguin jamais conseguiu ter equilíbrio econômico.
Foi marinheiro e navegou por
quatro anos, trabalhou na bolsa
de comércio, em Paris, e foi vendedor na Dinamarca, país natal
de sua mulher, mas seu sonho
sempre foi viajar ao Taiti, coisa
que logrou em 1891.
Instalou-se em Papeete, uniu-se
a uma jovem mestiça e pretendia
viver da pintura. Mas, não conseguindo sobreviver da sua arte, retornou a Paris quatro anos depois. Ele esperava que seu talento
fosse reconhecido e que o tempo
de vacas gordas chegasse, mas o
que aconteceu foi exatamente o
contrário. Dois anos depois, retornou ao Taiti desesperado, sifilítico e alcoólatra. Engajou-se numa campanha em favor dos nativos, razão que o levou a ter sérios
problemas com as autoridades.
Saiu do Taiti na calada da noite
em direção às ilhas Marquesas.
Chegou ao povoado de Atuona,
na ilha de Hiva Oa, construiu uma
confortável "fare", casa típica polinésia, a qual batizou como a
Mansão do Prazer, e lá viveu com
uma mulher muito jovem.
Envolveu-se novamente com a
justiça e foi preso. Ao sair, com a
saúde debilitada, quase sem poder caminhar, com dores insuportáveis nas pernas e consumindo morfina para suportá-las,
morreu de ataque cardíaco em 8
de maio de 1903. Como na história de muitos grandes artistas, fama e riqueza chegaram tarde demais. Cruel ironia. Hoje o valor de
um par de quadros de Gauguin
bastaria para ele viver confortavelmente.
(JAIME BORQUEZ)
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