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DE PORTAS ABERTAS
Bacalhau, polvos e cabrito dão água na boca no país onde até as batatas e o pão têm sabor especial
Variação gastronômica veda regime à mesa
DA ENVIADA ESPECIAL A PORTUGAL
O bacalhau estrela os cardápios
portugueses na opinião de muitos, porém mesmo os mais fanáticos pelo peixe hão de concordar
que ele não impera sozinho, já
que a farta variedade de opções
deliciosas obriga qualquer forasteiro a deixar o regime em casa.
Lulas, polvos, cabritos, orelhas de
porco, cordeiros e até batatas têm
também um papel de destaque
nas ementas (cardápios) lusas.
Comecemos pelo ícone português. Dizem que existem pelo menos 365 maneiras de fazer bacalhau, uma para cada dia do ano.
Não que o alimento ali se equivalha ao arroz com feijão brasileiro.
Nada disso. Os portugueses não
comem bacalhau todos os dias,
porém são bem criativos quando
preparam o prato.
Mesmo os mais conhecidos dos
brasileiros ficam com sabor diferente em terras européias. Caso
do bacalhau com natas, com molho branco, que custa 10 no restaurante Patinhos, em Lavariz,
perto de Coimbra.
Mais pesado, o bacalhau à Braz
vem desfiado e misturado com
ovo, cebola e batata-palha. É típico do Cozinha Velha, em Queluz.
Porém uma das receitas mais
saborosas do peixe é o bacalhau
com chicharo, ou feijão-do-frade,
levíssimo. Ele custa 18 na Pousada Conde de Ourém, perto de
Fátima, e é acompanhado de uma
broa de milho crocante.
Na lagarada de bacalhau, o peixe vem desfiado e misturado com
azeite quente e alho. Tem esse nome porque as pessoas costumam
se juntar no lagar, onde se produz
o azeite, para degustá-lo. Ele difere do bacalhau à lagareiro, mergulhado no azeite, mas sem ficar
oleoso. No Lagar Municipal, em
Celorico da Beira, na serra da Estrela, o prato custa 12.
Também tem lugar cativo nos
menus portugueses o polvo a lagareiro. O molusco fica muito
macio e muitas vezes está acompanhado de batatas aos murros,
as quais, após assadas, são esmurradas com as próprias mãos do
cozinheiro, no método tradicional, para que o azeite penetre em
seu interior. Embora nem sempre
sua aparência fique digna de um
banquete, a combinação agrada.
Experimente fazer em casa. O
prato custa 12 no Dom Grelhas,
na Casa da Guia, em Cascais.
A casa também serve espetada
de lulas alternadas com cebolas,
milho e aspargos, por 9,75.
Esse molusco, aliás, está por toda parte. A salada de lulas mornas
com limão e coentro sobre pequeno guisado atiça o paladar e custa
8 no Convento do Desagravo,
em Vila Pouca da Beira. A Primavera dos Jerónimos, no centro de
Lisboa, as serve recheadas de vitela e presunto, um prato típico do
sul do país, por 11.
Ali a porção de joaquinzinhos,
carapaus fritos, lembra muito um
petisco de praia brasileiro. Custa
8,50 e vem com açorda, uma
mistura de pão amanhecido,
coentro, alho, azeite e caldo com
consistência de pirão em Lisboa,
mas de sopa no Alentejo.
Entradas
A maioria dos garçons portugueses colocam na mesa opções
de entrada para o cliente sem perguntar se ele as quer, como azeitonas, queijos de Niza (amarelo) e
fresco (lembra o queijo branco) e
pastéis (bolinhos) de bacalhau. O
freguês só paga por aquilo que
consumir. Vale a pena experimentar novidades para o paladar
brasileiro, como as leves orelhas
de porco refogadas em tiras com
azeite e alho, cujo sabor não tem
nada a ver com o da feijoada.
É difícil não se render à tentação
de molhar o pão no azeite, combinação com gosto de "quero-mais". A certa altura, a pessoa não
sabe se está se entupindo de pão
pela desculpa do azeite ou vice-versa, já que até o primeiro tem
gosto especial em terras lusas.
O azeite faz parte da receita até
do leitão típico da região da Bairrada, servido no palácio do Bussaco. O porco fica horas no forno à
lenha, onde, a certo momento, recebe um banho de azeite fervente.
O resultado se assemelha ao mineiro leitão pururuca.
Outra carne vermelha típica é a
chanfana (cabra ao molho de vinho tinto). Custa 9 no condomínio e hotel de Póvoa Dão. A
carne é macia, embora a origem
do prato tenha relação com as cabras velhas que restaram após os
saques provenientes de invasões.
O cabrito e o cordeiro também
têm seus momentos de fama em
alguns dos restaurantes do país.
Queijos
Além dos inúmeros doces repletos de ovos,
os queijos muitas vezes também
concluem as refeições portuguesas. Com aparência externa de curado, o queijo da serra é tão mole
que precisa de uma colher para
ser degustado. Embora delicioso,
não combina como sobremesa de
uma refeição pesada por ser muito forte. A iguaria tem denominação de origem controlada, isto é,
só pode ganhar esse nome quando produzida na serra da Estrela e
se obedecidas determinadas regras durante a produção, por
exemplo, só pode ser preparada
com leite de ovelha negra, a bordaleira. Segundo a tradição, o
queijo não pode ser manuseado
por mulheres menstruadas.
Chamado ali de amanteigado
pela cremosidade, ele não tem nenhuma relação com o requeijão
brasileiro. Aliás, cuidado para não
se confundir. O requeijão de Portugal se assemelha mais à nossa
ricota. Na Pousada Santa Marinha, em Guimarães, ele vem envolvido com salmão defumado na
entrada ao custo de 9,50.
(MV)
Restaurantes - Cozinha Velha, em Queluz: 00/xx/351/21/435-6158; Dom Grelhas, em Cascais: 00/xx/351/21/483-9967; Lagar Municipal, em Calórico da
Beira (serra da Estrela): 00/xx/351/271/
74-3857; Patinhos, em Lavariz: 00/xx/
351/239/62-3535; Póvoa Dão, em Viseu:
00/xx/351/232/958-557, Primavera dos
Jerónimos, em Lisboa: 00/xx/351/21/
342-0477; Pousada Santa Marinha, em
Guimarães: 00/xx/351/253/511-249;
Pousada Conde de Ourém, em Ourém:
00/xx/351/249/540-920; Pousada Convento do Desagravo, em Vila Pouca da
Beira: 00/xx/351/238/670-080.
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