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Chef considera batata "mãe" da culinária e folha de coca "ser vivo'
DA ENVIADA ESPECIAL
O restaurante tem um ar
meio turístico: uma loja de artesanato logo na entrada vende
peças com preços em dólares. A
aparência de cilada pode até
continuar quando se sobe a escada. No andar de cima, um salão decorado com elementos
peruanos, é servido o bufê.
Mas, para quem nunca provou
a comida peruana, o bufê do El
Señorio de Sulco é uma espécie
de apostila de apresentação.
Presidido pela chef-proprietária Isabel Alvarez Novoa, o El
Señorio de Sulco é uma referência de lugar em que se serve
comida peruana autêntica. Pesquisadora, professora e autora
de um livro sobre cozinhas andinas, Novoa é uma figura rara.
Grande, com cabelos compridos e roupa colorida, ela fala de
comida com entusiasmo e por
vezes suas declarações soam
grandiloqüentes, como quando, segurando no alto um pote
de folha de coca em pó, diz: "Isso para mim é um ser vivo. Não
é uma planta, não é um ingrediente, é uma vida".
Uma conversa com Novoa
esclarece um pouco sobre a mesa peruana e coloca no centro
três ingredientes andinos.
Em primeiro, a batata. Os peruanos enchem a boca para dizer que são mais de mil tipos de
batata -de fato, na feira a variedade é impressionante. Para
Novoa a batata é a mãe da culinária peruana e motivo de
preocupação: ela acusa as redes
de supermercados de exigir
uma homogeneidade dos produtores, que abrem mão de
produzir variedades distintas
para dar conta dos pedidos.
No restaurante, prova-se a
papa amarilla, um prato em que
duas rodelas de purê de cor
amarela intensa formam um
sanduíche.
Em segundo, os cereais andinos, a quinua principalmente.
Trata-se de um grão pequeno,
um pouco menor do que uma
lentilha, branco, em geral consumido como salada. Para falar
da quinua e da kiwicha, outro
grão, este do tamanho de uma
ova de peixe, Novoa pega um
pouco de cada um -já cozidos- na mão, espalha os grãos
pela palma, mostra e depois
lambe os dedos.
A importância dos ingredientes na concepção de Novoa faz
que a chef coloque como central na sua cozinha a figura do
agricultor. "A figura mais importante não pode ser o chef.
Ele tem que dividir os louros
com o produtor", diz.
A ligação entre comida e ambiente dá o tom da conversa
com Novoa, que exalta a característica medicinal da folha de
coca. Ela conta que sua mãe
adoentada, conseqüência de
uma depressão, vinha perdendo o cabelo. Novoa fez que ela
tomasse todos os dias um copo
de água com uma colher de pó
de folha de coca dissolvido.
"Hoje, entre seus cabelos branco crescem novos fios, pretos."
Além de remédio, a folha de
coca vira também sorvete. Não
é exatamente gostoso, mas vale
experimentar pela curiosidade.
Após provar os ingredientes
andinos, fica claro que a cozinha peruana deve seu lado mais
original à cultura andina.
(HL)
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