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ACHADOS PERUANOS
Topografia acidentada, herança inca e arquitetura espanhola transformam a cidade em cenário perfeito
Cusco foi talhada para seduzir visitantes
DA ENVIADA ESPECIAL AO PERU
Muralhas incas, igrejas barrocas, ruas estreitas e muitos,
mas muitos turistas. Cusco é
dessas cidades que só poderiam
mesmo ser turísticas. Foram
séculos talhando cada detalhe
gracioso que hoje é desfrutado
por estrangeiros de todas as
partes do mundo.
Tudo começou com a topografia. Acidentada, a cidade
tem inúmeras ladeiras. Cenário
desenhado, vieram então os incas e construíram ali a capital
de seu império. Resultado: a cidade é repleta de muros centenários, que estão dentro de restaurantes, em fachadas de lojas
de câmbio e onde mais se puder
imaginar. Além dos muros, eles
deixaram Qorikancha, um templo dedicado ao Sol, que, quando os espanhóis chegaram, era
coberto de ouro, e muitos sítios
nos arredores, como Tambomachay e Saqsaywaman.
Então, chegaram os espanhóis, que construíram um casario colonial com armações de
madeira à vista e sacadas de entalhes delicados, além de suas
sempre impressionante igrejas.
É numa dessas igrejas, a catedral, que tudo isso se encontra:
lá, os indígenas foram usados
como mão-de-obra e deixaram
sua marca, com provocações
ininteligíveis para os espanhóis
e que hoje são mostradas com
orgulho pelos guias, em geral de
origem andina. Eles mostram
com ênfase o coro, onde os assentos têm entalhes que remetem à Pachamama, a mãe natureza. Com um sorriso no rosto,
apontam a Santa Ceia que fica
do lado direito do altar. Nela,
Judas Iscariotes é representado com a cara do conquistador
Francisco Pizarro. E, no centro
da mesa, é servido aos comensais um cuy, um porquinho-da-índia, apreciado pelos incas.
O atual altar, em prata, é do
século 19 e esconde o original,
do século 16. Mas o prejuízo de
ter o altar antigo escondido tem
uma vantagem: ao passar por
trás do altar novo, chega-se
bem perto do altar antigo. Dessa maneira, observam-se bem
de perto os detalhes.
Mas, com o sol brilhando do
lado de fora, é difícil passar
muito tempo dentro de qualquer lugar. A rua em Cusco é o
que há de mais legal.
Caminhando por pracinhas
como a del Regocijo, chega-se
ao Qorikancha. Esse templo era
dedicado ao arco-íris, à Lua e ao
Sol. E o curioso é que o arco-íris
virou a bandeira da cidade. Assim, ao chegar e ainda sem saber desse dado, tem-se a impressão de que absolutamente
todos os estabelecimentos locais são "gay-friendly", inclusive as igrejas. Mas não. Todos
ostentam a bandeira local.
Qorikancha é uma ótima introdução às técnicas de construção incas, que depois serão
vistas à exaustão em Machu
Picchu. Como quase tudo foi
pilhado pelos espanhóis, a visita é um exercício de imaginação. A guia fala: essas paredes
eram cobertas de ouro -e
aponta um desenho de como
era, mais ou menos. Então todos cerram os olhos e tentam
imaginar.
No mais, o centro de Cusco
parece ter mais casas de câmbio do que bares, e o turista é
assediado a cada passo para fazer uma excursão, conhecer algum sítio arqueológico, apreciar um artesanato.
Saindo um pouco do eixo da
praça central, o sossego aumenta. Mas basta andar duas
quadras para que tudo fique deserto. Muitas ruas são becos.
Assim, uma caminhada tem a
graça de ser uma espécie de
brincadeira de labirinto.
Arredores
Três ruínas nos arredores de
Cusco dão prova da habilidade
dos arquitetos do Império Inca.
Tambomachay é a mais alta delas; fica 3.700 m acima do nível
do mar. Ali há uma fonte de
água com um intrincado sistema de engenharia hidráulica
-a água vem de um lago natural em uma montanha do lado
de lá. Mas chegar à fonte exige
vontade. O ar rarefeito desestimula. Saqsaywaman é prova da
eficiência em encaixar pedras.
O templo com pedras imensas
encaixadas perfeitamente deve
ser visitado no fim da tarde,
quando fica especialmente cênico. Finalmente, Pukapukara,
com suas mesas de sacrifícios
dentro de uma gruta, tem uma
boa vista de Cusco.
(HELOISA LUPINACCI)
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