São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Em feira, venda de peças pré-hispânicas fica impune

DO ENVIADO ESPECIAL A CHICLAYO

É fim de tarde no Mercado Modelo de Chiclayo (760 km ao norte de Lima), uma imensa feira que oferece de tudo, desde ervas e pele de cobra para cerimônias de bruxaria até um mini-Paraguai de produtos baratos importados da China. É nesse labirinto de barracas e gente apressada que os traficantes de artefatos antigos atuam impunemente, vendendo produtos de mais de mil anos por até dez sóis novos, o equivalente a R$ 6.
Acompanhada pelo arqueólogo Nacho Alva, filho do diretor do Museu Tumbas Reales de Sipán, Walter, a reportagem visitou o local da feira onde se concentra esse comércio ilegal. Em poucos minutos, fomos abordados por três vendedores, que mostraram dezenas de peças milenares -todas verdadeiras, atestou Nacho.
O maior acervo pertencia a um dono de uma barraca que, na fachada, vendia produtos para cerimônias de bruxaria. Depois de uma rápida conversa, o comerciante nos revela seu imenso acervo atrás do balcão: cerâmicas de vários tamanhos, anéis de cobre e pequenos adornos (havia pelo menos 50 peças escondidas).
Depois de poucos minutos, o vendedor mostra sua peça principal: uma faca de cobre, adornada por uma delicada escultura erótica. Época: possivelmente em torno do século 8º. Preço: 90 sóis novos (R$ 56). Os artefatos mais baratos são os anéis, também de cobre.
Do lado de fora, outros dois traficantes retiram seus produtos de sacolas de plástico e os oferecem à vista de todos. Para convencer, dizem que é só esconder dentro da bagagem na hora de embarcar no aeroporto de Lima. Este repórter confessa que, se não fosse a presença de Nacho, seria ainda mais difícil resistir às ofertas obscenas.
Demonstrando estar acostumado com o comércio, Nacho explica que as peças vendidas no mercado são sobras, rejeitadas pelos traficantes internacionais. As melhores, conta, são contrabandeadas e vendidas em outros países.
Segundo Nacho, os traficantes são alimentados pelos huaqueros (ou saqueadores, termo derivado de "huacas", como são chamados os sítios arqueológicos no país), em geral agricultores paupérrimos que têm na atividade um complemento da renda. Os objetos encontrados são vendidos a preços irrisórios aos atravessadores -que, é claro, ficam com a maior parte do lucro. (FM)


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