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Em feira, venda de peças pré-hispânicas fica impune
DO ENVIADO ESPECIAL A CHICLAYO
É fim de tarde no Mercado
Modelo de Chiclayo (760 km ao
norte de Lima), uma imensa
feira que oferece de tudo, desde
ervas e pele de cobra para cerimônias de bruxaria até um mini-Paraguai de produtos baratos importados da China. É
nesse labirinto de barracas e
gente apressada que os traficantes de artefatos antigos
atuam impunemente, vendendo produtos de mais de mil
anos por até dez sóis novos, o
equivalente a R$ 6.
Acompanhada pelo arqueólogo Nacho Alva, filho do diretor do Museu Tumbas Reales
de Sipán, Walter, a reportagem
visitou o local da feira onde se
concentra esse comércio ilegal.
Em poucos minutos, fomos
abordados por três vendedores,
que mostraram dezenas de peças milenares -todas verdadeiras, atestou Nacho.
O maior acervo pertencia a
um dono de uma barraca que,
na fachada, vendia produtos
para cerimônias de bruxaria.
Depois de uma rápida conversa, o comerciante nos revela
seu imenso acervo atrás do balcão: cerâmicas de vários tamanhos, anéis de cobre e pequenos adornos (havia pelo menos
50 peças escondidas).
Depois de poucos minutos, o
vendedor mostra sua peça
principal: uma faca de cobre,
adornada por uma delicada escultura erótica. Época: possivelmente em torno do século
8º. Preço: 90 sóis novos (R$ 56).
Os artefatos mais baratos são
os anéis, também de cobre.
Do lado de fora, outros dois
traficantes retiram seus produtos de sacolas de plástico e os
oferecem à vista de todos. Para
convencer, dizem que é só esconder dentro da bagagem na
hora de embarcar no aeroporto
de Lima. Este repórter confessa
que, se não fosse a presença de
Nacho, seria ainda mais difícil
resistir às ofertas obscenas.
Demonstrando estar acostumado com o comércio, Nacho
explica que as peças vendidas
no mercado são sobras, rejeitadas pelos traficantes internacionais. As melhores, conta, são
contrabandeadas e vendidas
em outros países.
Segundo Nacho, os traficantes são alimentados pelos huaqueros (ou saqueadores, termo
derivado de "huacas", como são
chamados os sítios arqueológicos no país), em geral agricultores paupérrimos que têm na
atividade um complemento da
renda. Os objetos encontrados
são vendidos a preços irrisórios
aos atravessadores -que, é claro, ficam com a maior parte do
lucro.
(FM)
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