São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

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NORDESTE

Bumba-meu-boi acaba em setembro

Festa homenageia o mito de Pai Francisco e de Mãe Catirina e mescla foclore, religião, música e dança

DA ENVIADA ESPECIAL AO MARANHÃO

Na arquibancada improvisada, montada no estacionamento de um grande shopping center, as pessoas se ajeitam como podem. Há famílias inteiras com filhos e sobrinhos nos braços, no colo e nos ombros.
Uma senhora faz de um pedaço de papelão um assento improvisado, se arruma no chão cheio de poeira e recolhe a barra da saia de chita.
Atrás do palco, na concentração, uma garota ajuda a colega a colocar um grande cocar de penas vermelhas na cabeça. Na borda da pista em forma de ferradura, adolescentes trocam comentários e dão risadinhas, enquanto a criançada brinca de pega-pega no palco vazio. De repente, tudo silencia, e os alto-falantes se enchem da voz grave do locutor, que pede: "Mais uns minutinhos, minha gente, que o show já vai começar".
De um arraial a outro, a cena se repete, afinal, é dia 30 de junho, dia de são Marçal -última chance para os bois serem batizados. Maior evento religioso do Maranhão, o bumba-meu-boi (ou apenas "boi") é uma festa popular que mistura folclore, religião, música e dança. Por suas fantasias elaboradas e alegria contagiante, lembra o Carnaval e a comemoração do boi de Parintins (AM), mas com uma grande diferença em relação a essas duas festas: não tem competição nem rivalidade.
Em todas as cidades e povoados, o "boi" arrebanha crianças, jovens e idosos dispostos a dançar para pagar uma promessa a são João, são Pedro ou são Marçal, os padroeiros do auto.
Durante todo o ano, costureiras e bordadeiras da comunidade se reúnem para fazer as fantasias, que mudam de estilo de acordo com o "sotaque" -que pode ser de matraca, zabumba, orquestra, costa de mão e baixada, entre outros.
Peça principal da comemoração, o boi é feito sobre uma estrutura leve de madeira e manipulado por um brincante escondido sob um manto todo trabalhado. A apresentação dura até mais de uma hora, e o manipulador se alterna com outros membros da comunidade.
O mito que origina a festa remonta ao Brasil colonial. Em suma, trata da história de Mãe Catirina, que, grávida, quer comer língua de boi. Para satisfazer o desejo de sua mulher, Pai Francisco mata o animal mais bonito da fazenda. Quando o dono do gado descobre, dá ao vaqueiro a oportunidade de ressuscitar o boi e ser perdoado. É isso o que cantam e dançam os brincantes do boi.
Depois de devidamente abençoado, o boi percorre diversas cidades do interior, sempre em apresentações animadas, que em alguns casos vão até o amanhecer. Em setembro, acontece o desfecho. É quando uma grande festa celebra a morte do boi e o pagamento da promessa. (CC)


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