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NORDESTE
Bumba-meu-boi acaba em setembro
Festa homenageia o mito de Pai Francisco e de Mãe Catirina e mescla foclore, religião, música e dança
DA ENVIADA ESPECIAL AO MARANHÃO
Na arquibancada improvisada, montada no estacionamento de um grande shopping center, as pessoas se ajeitam como
podem. Há famílias inteiras
com filhos e sobrinhos nos braços, no colo e nos ombros.
Uma senhora faz de um pedaço de papelão um assento
improvisado, se arruma no
chão cheio de poeira e recolhe a
barra da saia de chita.
Atrás do palco, na concentração, uma garota ajuda a colega a
colocar um grande cocar de penas vermelhas na cabeça. Na
borda da pista em forma de ferradura, adolescentes trocam
comentários e dão risadinhas,
enquanto a criançada brinca de
pega-pega no palco vazio. De
repente, tudo silencia, e os alto-falantes se enchem da voz grave
do locutor, que pede: "Mais uns
minutinhos, minha gente, que
o show já vai começar".
De um arraial a outro, a cena
se repete, afinal, é dia 30 de junho, dia de são Marçal -última
chance para os bois serem batizados. Maior evento religioso
do Maranhão, o bumba-meu-boi (ou apenas "boi") é uma festa popular que mistura folclore,
religião, música e dança. Por
suas fantasias elaboradas e alegria contagiante, lembra o Carnaval e a comemoração do boi
de Parintins (AM), mas com
uma grande diferença em relação a essas duas festas: não tem
competição nem rivalidade.
Em todas as cidades e povoados, o "boi" arrebanha crianças,
jovens e idosos dispostos a dançar para pagar uma promessa a
são João, são Pedro ou são Marçal, os padroeiros do auto.
Durante todo o ano, costureiras e bordadeiras da comunidade se reúnem para fazer as fantasias, que mudam de estilo de
acordo com o "sotaque" -que
pode ser de matraca, zabumba,
orquestra, costa de mão e baixada, entre outros.
Peça principal da comemoração, o boi é feito sobre uma estrutura leve de madeira e manipulado por um brincante escondido sob um manto todo
trabalhado. A apresentação dura até mais de uma hora, e o manipulador se alterna com outros membros da comunidade.
O mito que origina a festa remonta ao Brasil colonial. Em
suma, trata da história de Mãe
Catirina, que, grávida, quer comer língua de boi. Para satisfazer o desejo de sua mulher, Pai
Francisco mata o animal mais
bonito da fazenda. Quando o
dono do gado descobre, dá ao
vaqueiro a oportunidade de
ressuscitar o boi e ser perdoado. É isso o que cantam e dançam os brincantes do boi.
Depois de devidamente
abençoado, o boi percorre diversas cidades do interior, sempre em apresentações animadas, que em alguns casos vão até o amanhecer. Em setembro,
acontece o desfecho. É quando
uma grande festa celebra a
morte do boi e o pagamento da
promessa.
(CC)
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