São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

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CONTAGEM REGRESSIVA

Centenário da morte de Machado inspira rota

Bruxo do Cosme Velho e seus personagens fazem cidade maravilhosa virar roteiro cultural obrigatório

PRISCILA PASTRE-ROSSI
DA REDAÇÃO

Passar o Réveillon no Rio neste ano vai significar mais do que estar em uma das maiores festas do mundo. Será entrar o ano novo na cidade que celebra o centenário da morte de Machado de Assis (1839-1908).
Considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, nascido pobre, mulato, gago e epilético no morro do Livramento, ele passou a vida toda no Rio. E o Rio passou o tempo todo em seus livros.
Além de escritor, foi funcionário público e jornalista. Morreu na casa em que morava, na rua Cosme Velho (no então número 18), no bairro de mesmo nome, zona sul da cidade.
A casa não existe mais. Depois de transformada em pizzaria, foi demolida para a construção de um condomínio residencial. Mas o Rio de Janeiro e Machado de Assis se misturam de outras maneiras.
Cosme Velho é passagem para pegar o trem que sobe até o Cristo Redentor.
Fica lá a estação de ferro do Corcovado. Também ali está o largo do Boticário, com suas casas neocoloniais construídas há quase 90 anos. No bairro, o escritor viveu por 24 anos, e ganhou o seu melhor apelido: Bruxo do Cosme Velho, dado depois de um poema de Carlos Drummond de Andrade, "Ao Bruxo com Amor".

Momento histórico
Os livros e contos do autor ajudam a visualizar como era o Rio de Janeiro do século 19. A Tijuca, por exemplo, era um lugar pouco freqüentado. Resultado: foi bastante usada nas obras como cenário de amores secretos e luas-de-mel.
Alguns contos -caso de "Tempo de Crise-", mostram que a rua do Ouvidor era o centro da vida cultural e política do país do século 19.
A mudança nos meios de transporte, com o surgimento dos bondes -chamados pelo autor de "bounds"-, também são descritos em vários momentos das obras.
Quando Machado de Assis nasceu, o Rio de Janeiro, então capital da colônia, tinha aproximadamente 138 mil habitantes (hoje, tem mais de 6 milhões, segundo censo do IBGE) e já abrigava a família real.
O Brasil estava sendo governado, havia oito anos, por regentes que aguardavam a maioridade de dom Pedro 2º -o que aconteceu no ano seguinte.

Lugares simbólicos
Para o professor de literatura comparada João Cezar de Castro Rocha, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), os lugares citados por Machado também revelam o significado psicológico deles para os personagens. "Em "Dom Casmurro", por exemplo, o narrador fala muito da rua de Matacavalos, da Glória e do Engenho Novo", lembra. Matacavalos seria a rua da inocência -onde nasceu a paixão de Capitu e Bentinho-, o bairro da Glória, onde ele crê ter sido traído, simbolizaria a inocência perdida, e o Engenho Novo, o desejo de recuperar essa inocência.


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