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CONTAGEM REGRESSIVA
Centenário da morte de Machado inspira rota
Bruxo do Cosme Velho e seus personagens fazem cidade maravilhosa virar roteiro cultural obrigatório
PRISCILA PASTRE-ROSSI
DA REDAÇÃO
Passar o Réveillon no Rio
neste ano vai significar mais do
que estar em uma das maiores
festas do mundo. Será entrar o
ano novo na cidade que celebra
o centenário da morte de Machado de Assis (1839-1908).
Considerado o maior escritor
brasileiro de todos os tempos,
nascido pobre, mulato, gago e
epilético no morro do Livramento, ele passou a vida toda
no Rio. E o Rio passou o tempo
todo em seus livros.
Além de escritor, foi funcionário público e jornalista. Morreu na casa em que morava, na
rua Cosme Velho (no então número 18), no bairro de mesmo
nome, zona sul da cidade.
A casa não existe mais. Depois de transformada em pizzaria, foi demolida para a construção de um condomínio residencial. Mas o Rio de Janeiro e
Machado de Assis se misturam
de outras maneiras.
Cosme Velho é passagem para pegar o trem que sobe até o
Cristo Redentor.
Fica lá a estação de ferro do
Corcovado. Também ali está o
largo do Boticário, com suas casas neocoloniais construídas há
quase 90 anos. No bairro, o escritor viveu por 24 anos, e ganhou o seu melhor apelido:
Bruxo do Cosme Velho, dado
depois de um poema de Carlos
Drummond de Andrade, "Ao
Bruxo com Amor".
Momento histórico
Os livros e contos do autor
ajudam a visualizar como era o
Rio de Janeiro do século 19. A
Tijuca, por exemplo, era um lugar pouco freqüentado. Resultado: foi bastante usada nas
obras como cenário de amores
secretos e luas-de-mel.
Alguns contos -caso de
"Tempo de Crise-", mostram
que a rua do Ouvidor era o centro da vida cultural e política do
país do século 19.
A mudança nos meios de
transporte, com o surgimento
dos bondes -chamados pelo
autor de "bounds"-, também
são descritos em vários momentos das obras.
Quando Machado de Assis
nasceu, o Rio de Janeiro, então
capital da colônia, tinha aproximadamente 138 mil habitantes
(hoje, tem mais de 6 milhões,
segundo censo do IBGE) e já
abrigava a família real.
O Brasil estava sendo governado, havia oito anos, por regentes que aguardavam a maioridade de dom Pedro 2º -o que
aconteceu no ano seguinte.
Lugares simbólicos
Para o professor de literatura
comparada João Cezar de Castro Rocha, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), os lugares citados por Machado também revelam o significado psicológico deles para os
personagens. "Em "Dom Casmurro", por exemplo, o narrador fala muito da rua de Matacavalos, da Glória e do Engenho
Novo", lembra. Matacavalos seria a rua da inocência -onde
nasceu a paixão de Capitu e
Bentinho-, o bairro da Glória,
onde ele crê ter sido traído,
simbolizaria a inocência perdida, e o Engenho Novo, o desejo
de recuperar essa inocência.
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