São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Costa já era movimentada no século 16

DO ENVIADO ESPECIAL

A biografia de José Adorno sugere que a Baixada Santista -Santos, e, por extensão, o Guarujá- era habitada por estrangeiros já no século 16.
Nesse século em que o alemão Hans Staden quase foi comido por canibais, há notícias de inúmeros personagens europeus por ali. O próprio Staden, que trabalhava armando de pólvora os arcabuzes do forte de São Felipe, veio duas vezes à região.
Pouco lembrado, talvez por não ser português e, sim, genovês, José Adorno veio ao Brasil na esquadra de Martim Afonso de Sousa acompanhado de seus irmãos Francisco, Rafael e Paulo.
De família possivelmente nobre, José Adorno, que chegou em 1532, foi dono de vastas áreas nesse litoral. Estabelecido em São Vicente, membro da armada da capitania hereditária, logo mudou para o local onde surgiria Santos, fundando ali um engenho para moer cana.
Na época em que o português Brás Cubas fundou oficialmente Santos, lusitanos eram os donos do poder: Domingos Pires, Paschoal Fernandes e Luís de Góes. Mas, apesar de genovês, José Adorno também integrava a elite -e se casou com a fidalga Catharina Monteiro.
Fundou a Santa Casa de Misericórdia e, em 1560, na qualidade de seu provedor, depôs no processo contra o francês calvinista Jean de Bolés, que, refugiado na Baixada Santista, foi preso por ordem do Santo Ofício.
Atuou em 1563 contra os índios tamoios e, ligado à Companhia de Jesus, ajudou os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, este nascido nas ilhas Canárias.
Adorno foi diversas vezes até o Rio de Janeiro, que viu fundar, em 1567, e onde havia auxiliado Estácio de Sá no combate às tropas invasoras francesas lideradas por Villegaignon, aliado dos tamoios.
Na região do Guarujá, fundou a igreja de Santo Amaro, que mudou o nome da ilha.
Não se sabe com quantos anos ele morreu; há relatos de que teria vivido cem anos, mas é possível que seu nome se confunda com o de seus descendentes. Se é fato que foi tão longevo, José Adorno, em pessoa, ajudou a expulsar o invasor inglês Edward Fenton, que tentou invadir Santos, em 1583. Presume-se ainda que tenha doado, em 1603, uma área a religiosos que edificaram a capela da Graça, cuja escritura foi destruída pelos piratas liderados por outro inglês, Thomas Cavendish, em 1591.
Documentos dessa época, como a carta do capitão-de-armada André Equino, registram a presença de ingleses, holandeses e italianos em Santos e na capitania de São Vicente, bem como também de oficiais gregos, espanhóis e franceses, que patrulhavam a área.
(SILVIO CIOFFI)

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