São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DE VOLTA AO FUTURO

Autor de livro desfia história remota e recente da cidade

Geraldo Anhaia Mello, que freqüenta o Guarujá desde os cinco anos, lamenta demolição do Grande Hotel

DA REDAÇÃO

"Um beijo canibal. Nhac!". Foi com uma dedicatória que termina exatamente com essas palavras que Geraldo Anhaia Mello, 53, autografou "Guarujá - História e Fotografias", o pequeno livro que escreveu com imagens do Guarujá.
As palavras, escritas minutos depois do final da entrevista, dada por telefone, revelam um dos momentos que mais divertem Geraldo quando o assunto é a história da ilha de Santo Amaro: a captura e os nove meses em que o alemão Hans Staden ficou na mão dos canibais tupinambás (leia na pág. F8).
"O cara se safou de ser comido e fez um livro incrível, contando os hábitos da época", diz. "E quem não tem vontade de saber como viviam os homens que passavam os dias andando pelados e comendo gente?"
Geraldo gosta tanto do Guarujá, que conta histórias que viveu e que não viveu com a mesma empolgação. O resultado é uma intrigante mistura de assuntos que, se em alguns momentos confunde o interlocutor, em outros aguça a vontade de saber mais detalhes.
Ele é capaz de emendar Hans Staden (nos idos de 1550) ao planejamento da cidade (em 1892), saltando em um respiro para a a "belle époque" da cidade -como se refere aos anos em que o programa mais glamouroso do Guarujá era arriscar a sorte no cassino, entre 1914 e 1918, período da Primeira Guerra Mundial.
E isso só para resumir muito, já que ele parece mesmo uma enciclopédia guarujaense ambulante. "Vou para o Guarujá desde os cinco anos, desde que me conheço por gente. Acho até que fui feito em algum canto do Sobre-as-Ondas", diz, rindo.
Nesse edifício, Geraldo passou muitos finais de semana e férias na infância e é para lá que vai até hoje, quando quer surfar. "O Sobre-as-Ondas deve ter sido o primeiro flat do Brasil. Tinha um restaurante embaixo, que servia comida em todos os apartamentos" lembra.
Era quando sua avó pedia para que todos penteassem os cabelos e se sentassem à mesa. "A gente se penteava só para esperar o garçom. Era sensacional!"
Mal acaba o assunto e ele pergunta: "Você não gostaria de saber os nomes dos primeiros prédios do Guarujá?". E dispara: "O primeiro foi o Pitangueiras, de 1939. Depois vieram Monduba, Stela Maris, Perequê, Guarujá e Pernambuco".
Aula dada, ele lamenta a destruição do Grand Hôtel La Plage, projetado por Ramos de Azevedo -"Demolir aquela maravilha foi um crime que lesa a humanidade!"- e critica a construção da Piaçaguera-Guarujá: "Os moradores passaram de 30 mil para 300 mil sem nenhuma estrutura para tanto".
Lá pelas tantas, diz que está, em alusão ao Guarujá, em frente ao Copan -projeto de Oscar Niemeyer nos anos 50. "Está aqui na minha frente. Parece uma onda." Mais um respiro, e ele passa a falar da onda que gosta de pegar no Guarujá.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)


Texto Anterior: Para Andraus, surfe na região está mais democrático hoje
Próximo Texto: Farmacêutico reuniu coleção de 300 fotografias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.