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Múltipla, culinária turca espelha aromas e sabores contrastantes
Elementos persas, árabes, balcânicos e gregos convergem na gastronomia
DA ENVIADA A ISTAMBUL
Pistache, damasco, figo, laranja, chá de maçã, queijo de
cabra, kebab, sardinha fresca e
robalo do Bósforo, fumegantes
ensopados de carne e legumes,
beringela (sob todas as formas),
nozes, mel, azeite, iogurte, suco
de cereja, lentilha, sopa de peixe, pão sempre quente. E o melhor de tudo, baklavas -os levíssimos doces de massa folhada, delicada calda de açúcar
com rosas e pistache moído. Eis
um resumo aromático e muito
palatável da Turquia (e, não importa o que gregos e árabes digam, as baklavas são turcas).
Como tudo em um país essencialmente mercantil por cuja história passaram diversos
conquistadores, a mesa turca
espelha com harmonia uma infinidade de contrastes. A ela
confluem elementos persas,
árabes, gregos e balcânicos, sob
forma de ingredientes muito
frescos e esmerado preparo.
Dos sanduíches de peixe fresco no cais de Eminönü, a duas
liras (R$ 2,93), aos inúmeros
mercados de rua (onde as frutas secas custam quase nada),
até a comida de rua está a um
abismo saudável de nossos fast
foods. Talvez o mais perto que
os turcos cheguem daqui sejam
as "pides" -a pizza turca, uma
massa alongada coberta de
queijo, vegetais e/ou carne.
Os chás (çay, lê-se "tchai")
estão por toda parte. É quase
impossível entrar em uma loja
ou uma casa e não se ver com
uma das xícaras turcas cheias
de chá de maçã nas mãos. Não
ouse recusar (ainda que seja a
quinta no dia). A hospitalidade
turca é sensível. Opções além
da maçã, mesclando flores (como jasmim e rosas) a frutas cítricas e alguma erva, são encontradas nos mercados e bazares.
Os queijos são sobretudo de
cabra, e o mais tradicional é o
peynir (semelhante ao feta)
-aqui curado em uma bolsa de
pele de bode. Os doces são à base de mel, frutas e massa folhada -e, claro, há a delícia turca,
espécie de gelatina firme coberta de açúcar de confeiteiro.
Tudo abundante nos bazares.
Em tavernas come-se "mezes" -porções que vão de cogumelos a lulas e de frituras a
oleaginosas, acompanhadas da
boa cerveja local Efe- ou sopas
de peixe e legumes.
Vista triunfal
Nos restaurantes, reinam os
kebabs de carneiro, frango e,
eventualmente, peixe. Aí há outras tantas variações: os cozidos em panelas de barro (pottery kebabs), os semelhantes ao
nosso churrasco grego (donner
kebab) e as kaftas -grosso modo, uma espécie de almôndega
afilada e bem condimentada.
Para peixe, escolha um dos
restaurantes na ponte Galata.
Podem não ser inventivos, mas
comer robalo fresco sobre o
mar de Mármara entre as três
pontas da cidade é imperdível.
A Hamdi et Lokantasi (Kalçin Sokak, 17), colada ao Bazar
de Especiarias, serve um kebab
de pistache sensacional -não
se empolgue, portanto, com a
variadíssima seção de "mezes".
O restaurante fica no último
andar de um prédio à beira do
Bósforo e só pela vista para Beyoglu (o lado moderno da cidade) e para o bazar já vale a visita. No térreo está a confeitaria.
São as mais famosas e melhores
baklavas da cidade, a julgar pelo
entra-e-sai de moradores e pela
quantidade de citações em
guias turísticos e culinários.
Para completar a incursão
gastronômica, visite um salão
de chá para consumir a bebida e
fumar o narguilé. Mulheres sozinhas têm trânsito livre, mas
algum comedimento no agir e
no vestir são recomendáveis
para evitar olhares enviesados
e um ou outro desaforo. Ao
contrário do que ocorre nos
ocidentalizados bares, esses estabelecimentos são mais tradicionais -ali, é mais fácil que
um sorriso atraia uma reprovação do que uma cantada.
(LC)
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