São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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ATENTADO

Ativistas escolhem turista como alvo para ter ampla divulgação de suas ações na mídia, na opinião de especialista

Bali suscita debate sobre turismo e terror

Cyril Terrien - 16.out.2002/France Press
PRAIA VAZIA: Após atentados, turista relaxa em Denpasar, Bali, a 10 km do local dos ataques


CHIAKI KAREN TADA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem gosta de passar as férias fora de casa, as explosões que mataram mais de 180 pessoas no dia 12 de outubro, na praia de Kuta, em Bali, uma ilha paradisíaca do Sudeste Asiático, deixaram no ar a dúvida sobre para onde é seguro viajar.
Provavelmente o último grande atentado claramente voltado para turistas antes desse foi o que ocorreu em Luxor, no Egito, em 1997, quando 58 visitantes estrangeiros foram mortos pelo grupo terrorista islâmico Gama'a al Islamia. Neste ano, um ataque a uma sinagoga em Djerba, na Tunísia, matou 19 turistas alemães, e bombas deixadas em destinos de férias da costa da Espanha pelo grupo separatista basco ETA -sem causar mortes- assustaram uma indústria que responde por 12% do PIB daquele país.
Não há como dizer em que momento o turista vira o alvo preferencial de um ato terrorista. Mas chamar grande dose de atenção, prejudicar a economia de um país e, no caso de fundamentalistas religiosos, atacar uma atividade que simboliza o "mal" ocidental (pela bebida, por exemplo) estão na lista de motivos enumerados por especialistas ouvidos pela Folha.
O objetivo do terrorismo é causar "maior estupor", na opinião de Maria Aparecida de Aquino, professora de história contemporânea da USP. "Pode ser uma visão estreita, mas [os militantes" acreditam que as mudanças viriam [dessa forma"."
Porém não há como fazer previsões. "Não existe um livro de regras de terrorismo em que se ataca um destino turístico pela mesma razão toda hora", diz Tom Sanderson, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington. No caso de Bali, ele diz acreditar que o grupo responsável pelo ataque queria atingir ocidentais para espantá-los e assim atingir a economia e o governo da Indonésia.
"Os turistas são visados porque são alvos "fáceis", comumente ocidentais, o que garante que o ataque terá extensa cobertura no noticiário", diz Graham Miller, professor de turismo da Universidade Westminster, de Londres. "O turismo é também o motor econômico de muitos países em desenvolvimento e, se o objetivo é fazer o governo sofrer, atingir esse setor é uma opção lógica."
Segundo Sanderson, em todos os casos "a mensagem é a mesma: os terroristas estão aqui para perturbar instituições políticas e econômicas". Para ele, não há muito o que se possa fazer para o turista se proteger de atos terroristas.
O que resta ao viajante é se informar o melhor possível sobre os destinos que apresentam risco e decidir se vai viajar assim mesmo.
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) convocou um fórum de emergência para o próximo mês para discutir medidas de segurança eficazes com líderes do setor.

Destinos alternativos
O turismo é uma área sensível, que reage rapidamente a tensões sociais, políticas ou econômicas. No caso do terrorismo, o fluxo dos EUA para a Europa caiu 30% em 1985, época em que houve vários atentados no Oriente Médio e na Europa. Segundo Miller, isso custou ao setor US$ 105 milhões. Nos EUA, estima-se que os atentados de 11 de setembro tenham causado impacto negativo de US$ 93 bilhões em 2001.
O Sudeste Asiático prevê maus momentos para o setor, pelo menos por ora. Órgãos como o WTTC e a Organização Mundial do Turismo ainda analisavam os efeitos de Bali no turismo na região e no mundo na semana passada. A Associação de Viagens da Ásia Pacífica (Pata) espera que os cancelamentos de viagens à Indonésia não sejam tão pesados quanto o previsto. "O desejo do homem de experimentar novos lugares e outras culturas é inextinguível", disse Lyn Hikida, vice-presidente de operações da Pata.
Após as explosões, alguns turistas optaram por permanecer em Bali, países como a Tailândia se apressaram em reforçar a segurança, e operadoras asiáticas acreditam que quem gosta de viajar só irá procurar destinos alternativos.
O editor da Lonely Planet, Don George, disse à agência de notícias Associated Press que os turistas poderiam optar por ir para locais pouco movimentados, como sítios arqueológicos.
Vale lembrar que, no Brasil, o turismo interno cresceu 25% após o 11 de setembro, enquanto países como Austrália e Nova Zelândia despontaram como opções para estudar inglês. O Brasil pode representar um destino "seguro" por não ser um forte aliado dos EUA e do Reino Unido, diz Miller. "Com a vantagem do ecoturismo, [o país" pode se encaixar no desejo do turista de sair da cidade e se valer das coisas simples da vida."


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