São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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TURISTA APRENDIZ

Contato com moradores da Amazônia, de Cubatão e de Goiás desperta alunos para outras realidades

Nativos habitam memória de estudantes

DA REPORTAGEM LOCAL

A convivência de três dias com a comunidade ribeirinha de Vila Manaus deve ficar para sempre na memória de Artur Sartori Kon, 15, que viajou para Amazônia em julho do ano passado com o Colégio Santa Cruz. "É impressionante como eles vivem uma vida tão diferente e ao mesmo tempo são tão parecidos com a gente." O contato com moradores das regiões visitadas é um dos aspectos que mais impressionam os alunos nas viagens de estudo do meio.
"Eles brincavam e falavam como a gente, embora com outras palavras, e tinham os mesmos interesses", diz Artur, lembrando que toda tarde os jovens paulistanos e amazonenses jogavam futebol juntos. Ele conta que estava preparado para perceber as diferenças do povoado, mas não esperava encontrar semelhanças. Artur também ficou impressionado com a dança dos nativos. "Eles dançam muito rápido e por muito tempo. A gente ficava exausto."
A turma ainda visitou uma comunidade que extrai madeira de forma planejada e uma fábrica de soja que, segundo Artur, não tem controle sobre a produção nem preocupação ambiental. "O contraste entre os dois é chocante."
Já o choque de Leika Ejiri, 16, do Colégio Bandeirantes, que também foi à Amazônia no ano passado, foi com o desmatamento da região, sobre o qual ela escreveu um texto no site da escola. "Do avião, dava para ver vários lugares sem nada. E dava muita dó, principalmente depois que você vê como é a floresta de verdade."
Também a estudante Ana de Oliveira Fanucchi, 17, do Colégio Equipe, se surpreendeu com um impacto ambiental, porém mais próximo, em Cubatão. Trata-se da conseqüência das indústrias na vida dos moradores. "A gente ouviu muitas histórias tristes e ficou muito mal", conta, dizendo que os habitantes choravam ao conversar com os estudantes.
Ana é bem experiente em viagens pedagógicas. Quando estudava na Escola da Vila, foi para o Sítio do Carroção, o acampamento Paiol Grande, o Petar, Parati e Cananéia. Com os colegas do Equipe, viajou para Tiradentes, Ribeirão Preto e Cubatão.
Com um "currículo" que inclui diversas saídas envolvendo muito lazer, Ana diz ter gostado mais da viagem para Cubatão, onde mal teve tempo de se divertir, mas aprendeu muito. Em Ribeirão Preto, entrevistou trabalhadores de canaviais e estudou sobre a indústria açucareira. "É importante entrevistar a população de outras cidades. Abre a nossa cabeça."
A estudante Vera Bain, 15, concorda com Ana. No ano passado, a aluna do colégio I. L. Peretz entrevistou o senador Eduardo Suplicy em Brasília e conversou com uma moradora da comunidade Kalunga, remanescente de um quilombo, no nordeste de Goiás.
"A vida deles [kalungas] é boa. Eles têm tudo o que precisam: animais, casas, comida, amigos." Ela ficou impressionada com o isolamento dessas pessoas, que só se misturaram com outras comunidades recentemente, e achou engraçada a seguinte fala de uma quilombola: "Eu fumo para espantar os males e as doenças."
(MARISTELA DO VALLE)


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