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TURISTA APRENDIZ
Alegando estímulo ao consumo de álcool, operadoras especializadas em formatura rejeitam cidade
Polêmica, Porto Seguro se agita até as 5h
DA REPORTAGEM LOCAL
Amada pelos jovens e rejeitada
por alguns operadores especializados em viagens para estudantes, Porto Seguro, na Bahia, vira
"point" de formandos ao longo
do ano, promovendo festas que
rolam até as cinco da manhã.
"Eu dormia no máximo uma ou
duas horas por noite", conta Alex
Eijito, 18, ex-aluno do colégio Arquidiocesano que visitou a cidade
com os amigos no ano passado
para comemorar a formatura. Ele
diz que não participou do único
city tour histórico oferecido para
a turma porque perdeu a hora.
Também os formandos de 2003
do Colégio Stockler foram para a
cidade, como Marina Racz, 18. Ela
afirma que passava o dia nas barracas de praia dançando axé e tomando cerveja. "Cada noite eu ia
para uma balada diferente."
Ela se refere às festas noturnas
organizadas pela empresa Portonight (www.portonight.com.br),
que incluem shows e luaus e cada
dia da semana acontecem num
local específico, que pode ser uma
boate ou uma barraca de praia.
Os ingressos para tais festas variam de R$ 20 a R$ 30, de acordo
com as atrações, e incluem transporte entre o hotel e a festa, segundo Anderson Guilherme Quaresma, o Geléia, gerente da Portonight. De acordo com ele, as casas
vistoriam todos os clientes antes
da sua entrada e proíbem a entrada de drogas e bebidas alcoólicas.
Mas, dentro de ambientes tão
grandes -a Barramares, por
exemplo, tem capacidade para 10
mil pessoas-, nem sempre é possível controlar tão bem a venda de
bebidas alcoólicas para menores.
Por esse e outros motivos, empresas como a Ambiental e a Quíron não operam viagens para a cidade. "Ali tudo é permitido, e o
consumo de álcool é estimulado",
diz Paulo Marcos R. Silva, da Quíron. "Porto Seguro é um exemplo
de investimento errado em turismo", completa, citando ainda
problemas ambientais causados
pela grande quantidade de turistas. Demian Topel, da Terra Nativa, complementa: "É uma irresponsabilidade [levar o aluno] a
um local que tem a passarela do
Álcool como atrativo".
A Meeting Way organiza viagens para a cidade, mas as atividades e a hospedagem são fora do
centro, em Arraial d'Ajuda ou Coroa Vermelha, para fugir do apelo
do álcool, segundo o proprietário
da empresa, Paulo Cesar Oliveira.
Porém o juiz da vara da infância
e da juventude de Porto Seguro,
Álvaro Marques de Freitas Filho,
afirma que, desde que assumiu o
cargo, no ano passado, tem aumentado a fiscalização nas casas e
nas barracas da passarela do Álcool para multar e eventualmente
fechar locais que vendam bebida
alcoólica para menores.
Ele diz ter aumentado o número
de plantões e diligências, dispensado alguns comissários da infância que não apresentavam autuações e enxugado o comissariado
para ter condições de cobrar resultados. "Os empresários da noite me procuraram e tentei conscientizá-los sobre o problema."
Freitas Filho afirma que o combate ao consumo de álcool entre
menores é uma das prioridades
do seu trabalho, ao lado do combate à prostituição infantil e à
atuação de menores infratores.
"Em São Paulo você vê muito
mais brigas e drogas do que lá",
diz Marina Racz, do Stockler.
"Em Porto Seguro, há pessoas alegres e tortas, mas é bem sossegado." Segundo ela, os três adultos
que acompanharam a turma não
pegavam no pé da garotada, mas
ficavam por perto se alguém precisasse de algo. "Cada um tem
consciência do que está fazendo."
A viagem foi organizada pela
Sampa Tour, que também faz
programas educacionais com
passeios pelo centro histórico e
pelos mangues do rio João de Tiba. Para Jaime Minhoto, dono da
empresa, os jovens não costumam ter problemas quando a viagem é organizada pela escola.
Neste ano, o terceiro ano do ensino médio do Magister fará uma
viagem para Porto Seguro que
aliará lazer ao estudo. "Eles sabem
que se saírem do limite comprometerão toda a viagem", diz o diretor pedagógico Walter Armellei
Junior, quando questionado sobre possível consumo de álcool e
drogas.
(MARISTELA DO VALLE)
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