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DA SAVANA AO JARDIM
Papéis se invertem após apartheid, e brancos enfrentam mudanças
Política de cotas é tema de disputa
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
O governo sul-africano vem
tentando igualar a situação econômica e social de brancos e negros desde o fim do apartheid, em
1994. Porém a tarefa é complicada. Com 47 milhões de habitantes, a porcentagem de negros no
país é de 75,2%. Da população negra economicamente ativa, quase
a metade não tem emprego, e calcula-se que um em cada cinco
adultos seja portador do HIV.
A situação nas outras parcelas
da sociedade é melhor, até mesmo entre os "coloureds" e os indianos. Os "coloureds", que totalizam 4,1 milhões de pessoas, têm
uma taxa de desemprego de cerca
de 20%. Entre indianos (1,1 milhão de habitantes) e brancos (4,4
milhões), a taxa de desemprego
não ultrapassa os 10%.
Para compensar a diferença,
uma política de cotas tem forçado
empresas a contratar negros e a
colocá-los em cargos altos. "Coloureds" e indianos são favorecidos, apesar de muitos negros afirmarem que essas duas camadas
não sofreram tanto no apartheid.
Por meio dessa política de cotas,
cada vez mais negros vêm alcançando postos de liderança na iniciativa privada, produzindo uma
nova classe média, com jovens esperançosos em relação ao futuro.
Já entre os brancos o cenário é
diferente. Há 11 anos, toda a elite
do país era branca. Hoje, apesar
de a situação dos brancos ser melhor, uma boa parcela deles viu a
sua situação financeira decair.
Jovens enfrentam enormes obstáculos colocados pela política de
cotas para conseguir empregos.
Dezenas de milhares deles deixaram a África do Sul desde 1994 rumo a outros países, especialmente
ao Reino Unido. Os brancos sabem que, a partir de 1994, eles se
tornaram uma minoria e que a
melhor maneira de viver nesse
sistema é por meio da integração.
Mas, aos poucos, começa a surgir
uma ideologia do individualismo,
na qual parte da população branca afirma que o mérito para conseguir um emprego deve ser individual e não racial.
Dessa forma, brancos capacitados não ficariam em um escalão
abaixo dos negros nas empresas.
Essa ideologia é defendida pela
Aliança Democrática, segunda
maior força política do país hoje,
atrás apenas do CNA (Congresso
Nacional Africano).
O partido conta com o apoio de
três quartos dos brancos, além de
uma boa parcela dos "coloureds"
e dos indianos. Porém é sabido
que muito dificilmente a Aliança
Democrática conseguirá substituir o CNA no poder.
O maior temor dos brancos ainda é que o país futuramente adote
políticas antibrancos como as do
Zimbábue, que é governado pelo
ditador Robert Mugabe.
O presidente da África do Sul,
Thabo Mbeki, mantém relações
com o regime ditatorial vizinho, o
que provoca mal-estar entre os
brancos no Zimbábue, onde algumas fazendas foram confiscadas.
Analistas afirmam que duas coisas impedem, por enquanto, que
isso ocorra: a presença de Nelson
Mandela, figura respeitada por
todos, inclusive pelos brancos,
por ter levado adiante uma política conciliadora, e a Copa do Mundo de 2010, aposta do país para
melhorar a economia.
(GUSTAVO CHACRA)
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